Catástrofe e cura.

411 46 3
                                    

AGORA

Não acredito muito nessa baboseira de aplicativos de namoro, mas Laura me convenceu a baixar o Tinder e tentar. Ela montou o meu perfil, colocou a minha melhor foto, acrescentou algumas informações ao meu respeito na bio e até escolheu uma música que eu gostava bastante para deixar lá e todo mundo ver.

Quarenta e dois anos e estou apelando para aplicativos de namoro. Isso é deprimente no sentido mais tosco da palavra, mas como eu não saio muito de casa, Laura disse que essa é a melhor maneira de eu conhecer gente nova e transar. Segundo ela, eu posso viver sem querer me relacionar com outra pessoa, mas não dá para bancar a viúva quase-virgem pelo resto da vida.

"Tô falando, já já você começa a receber um monte de curtidas aí", ela fala, me entregando o celular. "É hora de viver, Carolina."

Sei o que ela quer dizer, é tipo você precisa superar a morte do seu marido, já fazem sete anos. E ela está certa, já passou da hora de eu conhecer outras pessoas e tentar, não esquecer, mas seguir em frente. Sei que Adam ia adorar me ver seguindo em frente, embora eu odeie ter que fazer isso sem ele do meu lado.

"Não sei se é isso o que eu quero", minha voz soa estranha quando falo isso, cheia de insegurança. "Sexo sem compromisso não é o meu lance. Transar com alguém que nunca vi na vida, sem conhecer seus objetivos, sei lá, é estranho."

"Isso é porque você é uma cuzona", diz ela, pegando a taça de vinho em cima da mesinha de centro. Laura dá um gole, olha para mim cheia de confiança e diz: "Você não precisa transar com ninguém, nem fazer nada que não queira. Só conversa com as pessoas, vê como está o mercado de solteiros e solteiras hoje em dia, nunca se sabe o que pode encontrar por aí."

Dou uma risada. "Um sociopata esperando eu curtir ele de volta, provavelmente."

"Para de ser tão careta", diz rindo, mas falando sério. "Tenho uma colega de trabalho que namora com o cara que conheceu no Tinder. E olha, eles já andam conversando até sobre casamento."

"Nem todo mundo tem a sorte de encontrar o amor da sua vida em um aplicativo para solteiros desesperados, Laura."

"Não, não mesmo", comenta, balançando o vinho dentro da taça. "Mas a vida é uma coisa engraçada, Carrie. Um dia você está achando que tudo perdeu o sentido, no outro, você encontra sentido até nas coisas mais bobas."

Estendo a mão até tocar a perna dela e digo: "Você é a minha coisa boba."

Ela abre um sorrisinho, seca a taça num gole só e coloca a mão sobre a minha. "Você também é a minha, mas eu não vou transar com você."

Rimos juntas e aproveitamos o resto da noite.

Meu celular vibra com a primeira notificação de curtida no Tinder. Digo para mim mesma que não vou dar uma conferida, mas recebo outra curtida, depois puxo a barra de notificação e vejo que alguém me mandou mensagem. Um homem. Certo, me relacionar com homens é meio assustador no momento, por que eu fui casada com um antes dele ser atropelado. Adam está morto, mas por algum motivo quando vejo aquela notificação ali, fico pensando em como seria traição da minha parte.

O lado bom de ser bissexual é que as minhas opções estão em aberto, ou seja, todas as opções; homens e mulheres. No entanto, não sei se de fato quero estar com alguém. Óbvio que sinto falta do sexo, mas não só disso, sinto falta do frio na barriga, do nervosismo, das mãos suadas...

"Responde logo esse gatinho aqui", Laura está segurando o meu celular, abriu a conversa de um tal de José que me mandou um oii. "Ele está tão afim de você."

"Como você sabe?", eu pergunto.

"Porque ele mandou um oi com dois i", explica, como se isso explicasse de fato, tudo. "Ah, espera. Tem uma mulher aqui que te curtiu também", ela fica em silêncio, o dedo deslizando pela tela do meu celular. "Ah, nossa. Uau. Caramba. Ela é linda."

Mandou bem, Carrie. É isso aí! (Romance sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora