Poppy
Há nove anos
Aos oito anos de idade
— Aonde vamos, papai? — perguntei, enquanto ele seguravadelicadamente minha mão, guiando-me até o carro.Olhei para a escola, imaginando por que estava saindo cedo. Era só ointervalo do almoço. Eu não deveria ir embora ainda.Meu pai não disse nada enquanto caminhávamos, apenas apertouminha mão. Olhei ao longo da cerca da escola, e uma sensação esquisitarevirou meu estômago. Eu amava a escola, amava aprender, e a aulaseguinte era de história. Era minha matéria favorita. Eu não queria perder.
— Poppy! — gritou Rune, meu amigo mais querido, de perto dacerca, quando me viu. Suas mãos apertavam com força as barras de metal.— Aonde você vai? — Eu sentava ao lado de Rune nas aulas. Estávamossempre juntos.
A escola não tinha graça quando um dos dois não estava lá.Virei a cabeça para o rosto de meu pai, procurando respostas, mas elenão me olhou de volta. Ficou em silêncio.
Olhando para Rune, eu gritei: —Eu não sei!
Rune me observou por todo o caminho até o carro. Eu me sentei nomeu assento de elevação, no banco traseiro, e meu pai afivelou o cinto desegurança.Ouvi o sinal no pátio da escola indicando o fim do almoço. Olhei pelajanela e vi todas as crianças correndo de volta para dentro, mas não Rune,que continuou na cerca me olhando. Seu longo cabelo loiro esvoaçava como vento enquanto ele perguntava: — Você está bem?Mas meu pai entrou no carro e deu partida antes que eu pudesseresponder.
Rune correu ao longo da cerca, seguindo nosso carro, até que a srta.Davis o obrigou a entrar.Quando a escola já não estava mais visível, meu pai disse:— Poppy?
— Sim, papai? — respondi.
— Você sabe que a vovó está morando com a gente já faz um tempo,né?
Eu concordei com a cabeça. Minha vovó tinha se mudado para oquarto em frente ao meu um tempo atrás. Mamãe disse que era porque elaprecisava de ajuda. Meu vovô morreu quando eu era um bebê. Minha vovómorou sozinha por anos, até vir morar com a gente.
— Você se lembra do que sua mãe e eu te dissemos? Sobre por quevovó não podia mais morar sozinha?
Eu suspirei e disse, baixinho:— Sim. Porque ela precisava da nossa ajuda. Porque ela está doente.
Meu estômago revirou enquanto eu falava. Minha vovó era minhamelhor amiga. Bem, ela e o Rune estavam empatados no primeiríssimolugar. Minha vovó dizia que eu era igualzinha a ela.
Antes que ela ficasse doente, nós duas saíamos em muitas aventuras.Ela lia para mim toda noite sobre os grandes exploradores do mundo. Elame falava sobre história: Alexandre, o Grande, os romanos e, os meusfavoritos, os samurais do Japão. Eram os favoritos da vovó também.
Eu sabia que a minha vovó estava doente, mas ela nunca agia comose estivesse. Ela sempre sorria, dava abraços apertados e me fazia rir.Sempre dizia que ela tinha luar no coração e raios de sol no sorriso. Vovóme disse que aquilo significava que ela estava feliz.Ela me deixava feliz também.Mas nas últimas semanas vovó vinha dormindo muito. Estava semprecansada para fazer qualquer coisa.
Na verdade, na maioria das noites agoraeu lia para ela, enquanto ela acariciava meu cabelo e sorria para mim. E erabom, porque os sorrisos da vovó eram o melhor tipo de sorriso para sereceber.
— Certo, querida, ela está doente. Na verdade, ela está muito, muitodoente. Você entende?
Franzi a cara, mas fiz que sim com a cabeça e respondi:— Sim.
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mil beijos de um garoto
RomantizmUm beijo dura um instante. Mas mil beijos podem durar uma vida inteira. Um garoto. Uma garota.