Era uma vez, um coração dilacerado

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Mais tarde, depois de jantar mais cervo, quando estávamos todos reunidos ao redor da lareira para um momento tranquilo antes de dormir, Feyre estava deitada com a cabeca em meu colo, enquanto eu acariciava seus cabelos

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Mais tarde, depois de jantar mais cervo, quando estávamos todos reunidos ao redor da lareira para um momento tranquilo antes de dormir, Feyre estava deitada com a cabeca em meu colo, enquanto eu acariciava seus cabelos. Observei minhas irmãs mais velhas sussurrando e rindo juntas. Parte de mim sempre as invejou pela proximidade. Tinham gastado até o último centavo do que depois de muita insistência, acabei cedendo a elas - em que, eu não sabia, embora Elain tivesse trazido um novo cinzel para os trabalhos em madeira de nosso pai. O manto e as botas pelos quais haviam choramingado na noite anterior haviam sido caros demais. Mas não briguei com elas por isso - embora a vontade não tivesse me faltado -, não quando Nestha saiu uma segunda vez para cortar mais lenha sem que eu pedisse. Soube o que aconteceu mais cedo e fiquei levemente orgulhosa delas terem evitado outro confronto com os Filhos dos Abençoados.

Meu pai cochilava na cadeira, a bengala sobre o joelho retorcido. Era um momento tão bom quanto qualquer outro para tocar no assunto de Tomas Mandray com Nestha. Eu me virei para ela, abrindo a boca.

Mas um rugido quase ensurdecedor ressoou, e minhas irmãs gritaram quando a neve irrompeu na sala e uma silhueta enorme, grunhindo, surgiu à porta.

Eu não sabia como o cabo de minha adaga saiu de minhas vestes e chegou em minhas mãos. Feyre se levantou abruptamente, assim como eu, com o cabo de sua faca de caca na mão destra. Os primeiros movimentos foram um borrão dos grunhidos de uma besta gigantesca com pele dourada, os gritinhos esganiçados de minhas irmãs, o frio lancinante que inundou a sala, o rosto aterrorizado de meu pai.

Fiquei em forma de combate, atenta aos movimentos da criatura. Feyre seguiu meu exemplo, enquanto o avaliavamos.

A besta devia ser tão grande quanto um cavalo, e, mesmo tendo o corpo mais ou menos felino, a cabeça era distintamente lupina. Eu não sabia o que pensar dos chifres curvados como os de um cervo que despontavam da cabeça. Mas leão, cão ou cervo, não havia dúvida dos danos que as garras pretas semelhantes a adaga que eu segurava e as presas amareladas poderiam infligir.

Se eu e Feyre estivessemos sozinhas no bosque, poderiamos ter me deixado consumir pelo medo, mandaria que Feyre corresse para o mais longe possível, enquanto ganhava tempo com a criatura - mesmo que eu soubesse que ela preferiria morrer ao meu lado, do que me deixar para trás -, poderia cair de joelhos e implorar por uma morte limpa e rápida. Mas não tinha tempo de sentir terror, não daria ao medo o mínimo espaço, apesar de meu coração latejar desesperadamente em meus ouvidos. De alguma forma, acabamos diante de nossas irmãs, mesmo quando a criatura se apoiou sobre as pernas traseiras e gritou com a boca cheia de presas:

- ASSASSINOS!

Mas foi outra palavra que ecoou em minha mente:

Feérico.

Aquelas palavras ridículas no portal serviam tanto quanto teias de aranha contra ele. Feyre deveria ter perguntado à mercenária como ela matara aquele feérico. Mas o pescoço grande da besta...aquilo parecia um bom lar para minha adaga.

Corte de Dor e Esperança - Cassian Onde histórias criam vida. Descubra agora