E o que você sabe, sobre mim?

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Feyre ✨️

Fazia um ano desde que eu entrara naquele labirinto de neve e gelo, e atirei minhas flechas sobre o feérico com ódio em meu coração. E também...quando vi a forma como Leana o matou de forma precisa e feroz.

Não me arrependo de ter assumido seu lugar e ser levada por Tamlin naquele dia, pois assim. Poupei Leana de sofrer, como sofri em Sob a montanha. A poupei de Amarantha, que assombrava meus sonhos como uma sombra maligna, rondando minha mente e corroendo minha alma de dentro para fora.

Creio que Leana teria se saído melhor do que eu, durante as provas. Teria dado fim a vida de Amarantha sem tanta dificuldade, como eu tive durante os desafios. Mas ainda sim, a culpa me corroeria, se tivesse sido ela, a ter o pescoço quebrado em Sob a montanha.

O palacete de minha família estava cada vez mais visível a medida que me aproximava, era uma vista incrívelmente bela de se contemplar, o vasto jardim da frente coberto pela neve.

Com o capuz na cabeça, dedos dentro dos bolsos revestidos de pele do manto, fiquei de pé diante das portas duplas da casa, ouvindo o som nítido da campainha que puxara um segundo antes.

Atrás de mim, escondidos pelos encantamentos de Rhys, meus três companheiros esperavam, invisíveis.

Eu disse a eles que seria melhor se eu falasse com minha família primeiro. Sozinha.

Talvez nenhuma de minhas irmãs me ouviria, não sei se Leana estava chateada comigo, depois de ter ido e voltado sem ao menos dizer a ela o porquê. Mas, saber através de Nestha que ela e Leana foram até a muralha, tentar me libertar da Corte Primaveril, aqueceu meu coração.

Nestha disse que ela se arriscou demais, na árdua missão de encontrar a entrada para o outro lado da muralha. Que ganhou cicatrizes novas, tanto internas quanto superficiais. Havia algo por trás dos olhos de Leana, que Nestha disse que não conseguiu descobrir do que se tratava. Leana era como túmulo subaquático, silencioso e repleto de mistérios.

Estremeci, desejando o inverno moderado de Velaris, imaginando como podia ser tão temperado no extremo norte, mas... tudo em Prythian era estranho. Talvez quando a muralha não existia, quando a magia fluía livremente entre os reinos, as diferenças entre as estações não fossem tão grandes.

A porta se abriu, e uma governanta de rosto alegre e rechonchudo - Sra. Laurent, lembrei - semicerrou os olhos para mim. Avaliando-me com desconfiança aparente.

- Posso ajudar... - As palavras se dissiparam quando ela reparou em meu rosto. Com o capuz, minhas orelhas e a coroa estavam escondidas, mas aquele brilho, aquela quietude sobrenatural... A Sra. Laurent não abriu a porta mais um pouco.

Cautelosa. Era o que ela estava sendo.

- Estou aqui para ver minha família - disparei.

- Seu... seu pai está fora a negócios, mas suas irmãs... - Ela não se moveu.

Ela sabia. Podia ver que havia algo diferente, algo errado...

Os olhos da Sra. Laurent olharam ao meu redor. Nada de carruagem, nenhum cavalo.

Nenhuma pegada sobre a neve pela estrada até a entrada.

O rosto da governanta ficou lívido, e me xinguei por não ter pensado nisso... por ter sido descuidada por tal coisa.

- Sra. Laurent?

Algo em meu peito se partiu ao ouvir a voz de Elain no corredor atrás da mulher.

Ao ouvir a meiguice e a juventude e a bondade, intocada por Prythian, alheia ao que eu tinha feito, o que me tornara...

Corte de Dor e Esperança - Cassian Onde histórias criam vida. Descubra agora