35. Luto

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POV Aemond

Aquela foi a noite mais longa e dolorida da vida de Aemond Targaryen. Por muitos anos ele pensou que o máximo de dor que  sentiria foi quando ele perdeu o olho. Outra vez ele se sentiu o maior tolo do mundo.

A dor emocional por conta da perda da esposa e de mais um filho era tão absurda que se tornou física. Sua cabeça explodia de dor e seu estômago queimava por dentro, além de sua garganta estar tão seca que ele sentiu que tinha comido um prato de sal.

O príncipe ficou parado na mesma posição por horas, ignorando os chamados de sua mãe e de Criston Cole, que tentavam o tirar dali. Seu avô apenas o encarava, como se o analisasse e Aemond se sentiu aliviado por ele não ficar o pressionando. Ele não conseguia falar nada, apenas escutava o que tinha acontecido com a esposa.

Os capangas de Daemon Targaryen, com a ajuda de Olivia, entraram na Fortaleza Vermelha e queimaram Lyanna viva. Eles pegaram uma mulher grávida, a arrastaram até um quarto e a queimaram viva. Aemond tentava evitar pensar muito nisso, mas seu coração chegava a sangrar quando o pavor de terem a agredido de outra maneira passava por sua cabeça.

A única coisa que ele conseguiu perguntar foi onde estava o corpo e se enfureceu quando ouviu que já tinha sido coberto por uma mortalha e recebido o funeral adequado. Parte dele quis matar todo mundo por não terem esperado por ele, pois, desse jeito, até o direito de se despedir de Lyanna havia sido tirado dele.

Quando se sentiu com o mínimo de força, ele se levantou e caminhou até seu antigo quarto. Ele precisava ver o que tinha acontecido para, ao menos, tentar entender tudo aquilo. Por que ninguém tinha conseguido chegar ao quarto a tempo? Por que ninguém tinha escutado os gritos de Lyanna? Onde estavam Storm e Nymeria? Aemond tinha certeza absoluta que nenhum deles deixaria os assassinos escaparem com vida.

As janelas estavam abertas e já tinham dissipado o cheiro de queimado, embora ele ainda estivesse presente. Aemond se sentou de frente para a lareira e foi a primeira vez que ele desabou. Foi um choro desesperado e sofrido, a ponto de ele tremer muito, de tanta dor que ele sentia.

Ele se sentia incompetente, incompleto, amaldiçoado e o pior marido do mundo por ter deixado que aquilo acontecesse com ela. Quando ele a deixou no castelo, pensou que era a melhor escolha, porque o efetivo de guardas na Fortaleza Vermelha era maior que o de Solarestival, então, na teoria, Lyanna estaria mais segura ali. Ele voltaria para casa e comeria as uvas congeladas com a esposa. Era para ter acontecido assim.

O dia tinha amanhecido quando ele teve coragem de entrar no quarto deles e, ao mesmo tempo que foi uma tortura, foi um alívio para ele. Ali tinha a presença de Lyanna em cada canto e foi capaz de acalmar um pouco seu coração. Perto do sofá tinha as coisas que ela usava para fazer bordado e as tinhas e pincéis os quais ela se aventurava no universo da pintura. Na mesinha de centro havia seus livros favoritos e seus desenhos de Storm e Nymeria.

Em cada canto tinha a presença da esposa.

Aemond caminhou até a parte privada e encarou a banheira, agora vazia e sem a esposa em seus longos banhos. Sua mente o bombardeou com lembranças da esposa e ele chorou novamente quando viu os sapatinhos de tricô que estavam ao lado da mesinha do lado da cama que Lyanna dormia. O príncipe saiu para pegar jarros de vinho e os bebeu inteiros, antes de pegar uma camisola de Lyanna e a posicionar na cama.

Só depois ele se deitou e afundou o rosto nos lençóis, tentando se sentir pelo menos um pouco acolhido pela lembrança do cheiro da esposa. Ele tinha a esperança de que sentir o cheiro dela tiraria sua dor, mas não foi o que aconteceu. Aemond chorou até dormir, desejando que nunca mais acordasse, porque isso significaria que a morte de Lyanna não teria sido um pesadelo e que ele precisaria viver sem ela.

Fogo, Gelo, Sangue - Aemond Targaryen (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora