───── 03, saindo juntos.

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[𝐋𝐢́𝐯𝐢𝐚 𝐀𝐧𝐝𝐫𝐚𝐝𝐞,
𝐞𝐦 𝐜𝐚𝐬𝐚.]

— Lívia, que merda foi essa? – Richarlison me perguntava pela quinta vez no carro a caminho de casa, tudo por conta da entrevista. – Por que você disse isso dele? Você está louca? Vai acabar com a carreira do menino por infantilidade sua! Lívia, você não é mais uma criança, você já completou seus 18, tem que entender que você não pode dizer tudo que você pensa. Eu vou acabar perdendo o foco dos jogos por sua causa, a copa é daqui uma semana, e eu não posso ficar esperando você crescer mais. Eu não vou estar aqui pra cuidar de você toda hora.

Senti a frustração nas palavras de Richarlison, suas mãos apertando o volante refletiam o peso da responsabilidade que ele carregava, e eu, impulsiva como sempre, havia lançado uma bomba em sua vida profissional.

— Eu não podia mentir, não é? Então eu falei a verdade. Não vem me cobrar pelos erros do seu colega, eu mando em mim, e eu falo o que eu bem entender, estamos entendidos? E eu nem disse nada demais, você que prefere exagerar como se eu tivesse cometido um crime. Dá pra você parar de defender ele uma vez na sua vida e olhar pra mim? Tenta entender meu lado e para de defender aquele idiota pelo menos uma vez... – eu concluí com os olhos cheios de lágrimas, eu precisava desabafar, uma pena que o desabafo tenha saído em uma briga e não em uma conversa descente entre dois irmãos. – Eu nem sequer te conheço mais! Eu nunca te pedi pra me proteger, não te pedi pra cuidar de mim, não venha jogar isso na minha cara como se a culpa de tudo fosse minha. Quer concentrar na copa? Vai! É sua chance de brilhar, aproveita e esquece que você teve uma irmã na sua vida.

Ao encarar meu irmão, pude ver a tristeza e decepção estampadas em seu rosto. Ele, que sempre fora meu porto seguro, agora me olhava como se eu fosse uma estranha.

Aquele momento foi fatal pra mim, eu saí do carro chorando, só subi as escadas e fui direto pro meu quarto, me tranquei e ignorei tudo ao meu redor. Liguei uma música, assim eu tentava me acalmar. Enquanto o som tocava, eu ouvia meu celular tocar. Era o Richarlison, eu não podia falar com ele naquele momento, precisava esfriar a cabeça, me distrair. Mais notificações chegavam, porém, uma me chamou a atenção.

"Responde seu irmão, ignora o que ele disse, ele está me ligando desesperado por sua causa, idiotinha"
número desconhecido.

Só era o que me faltava.

Entrei na foto que estava no contato e era o idiota do Antony. Suspirei e larguei o celular na cama.

Continuei no meu quarto ouvindo música, isso me acalmava tanto, estava me sentindo bem melhor, quando mais uma notificação chegou.

"Merda, não me ignora."
"Eu sei que você está lendo..."
"Ele disse que vai dar um rolê com o Neymar pra ver se melhora já que você não quer falar com ele"

Ele acaba com o meu dia, joga a culpa de todos os erros da nossa vida em mim, me intromete em um jogo ridículo ao vivo e vai dar rolê? Já eu tenho que ficar aqui presa dentro desse quarto. É inexplicável esse menino.

"Se quiser sair, eu estou disponível"
número desconhecido

"Eu e você saindo juntos? não."

Isso era ainda pior, além de me chamar de feia, fica no meu pé, eu mereço. Então comecei a andar pela casa com um pijama qualquer que eu tinha acabado de colocar, uma meia fofa e o celular na mão.

Eu andava bem lentamente conferindo cada cômodo da casa, quando reparei a sala livre me animei, pensei nos mil filmes que eu poderia ver comendo brigadeiro e pipoca e rindo sozinha, mas aí eu parei pra pensar na proposta do traíra, isso podia ser legal, quem sabe ele ia me chamar de cadela na minha frente? Eu ia poder quebrar a cara dele com justificativa.

Ainda muito receosa peguei o celular e confirmei.

"Tá, vem logo."

"Sabia que você ia aceitar, passo aí as 20:00!!"
o idiota do Antony.

Que merda eu fiz?! É capaz de ele me largar e ir ficar com outra garota lá, nem me disse pra onde vai, quem vai e mais sei lá o que. Vai que ele tenta me sequestrar, eu o insultei em rede nacional, não julgaria ele se quisesse me matar, eu que provoquei primeiro. Eu nunca tive uma longa conversa com ele pra aceitar uma coisa dessas, eu estava praticamente saindo com um desconhecido que me odiava e eu o odiava também.

Eu não havia parado pra pensar em nada disso, só tinha aceitado. Era bom eu levar uma faca escondida na roupa mas a questão era essa...

Com que roupa eu iria?

E se eu fosse com um vestido chique, lindo e preto brilhante e ele me leva pra tomar um açaí ali na esquina, eu amo açaí mas o look não é certo pra ocasião. Decidi ir atrás de respostas, eu não iria passar vergonha com um look horrível comparado ao local.

"Pra onde você vai me levar?"

"Depois eu te conto garota, só me espera"
o idiota do Antony.

"Você pretende me matar?"

"MEU DEUS, SÓ SE ARRUMA!"
"EU NÃO VOU TE MATAR!"
o idiota do Antony.

"Vai que né, nem te conheço mais"

Desliguei o telefone indignada. E agora? Eu fui na fé e coloquei o que eu achava que combinaria, peguei um conjunto preto básico mas que era chique, simples mas não era feio, o perfeito pra qualquer lugar, meu favorito em todo o mundo.

Me olhei no espelho, eu estava acabada. Meus olhos ainda estavam marcados do choro, então fui pedir socorro a maquiagem e deu totalmente certo, nem parecia que eu tinha chorado litros minutos antes.

Olhei a hora, já tinha passado das 20:10 e tinham 8 mensagens dele mandando eu descer.

Algumas falavam sobre a demora, sobre estourar os tímpanos dos vizinhos de tanta buzina, falando que eu tenho que ir logo e que eu não sabia cumprir horários...

Eu acabei soltando uma risada com as mensagens e ele não parava, o que me fazia rir mais ainda. Avisei que já estava descendo e finalmente ele parou.

xoxo, vi.

𝗗𝗘𝗔𝗥 𝗔𝗡𝗧𝗢𝗡𝗬, 𝗜 𝗛𝗔𝗧𝗘 𝗬𝗢𝗨Onde histórias criam vida. Descubra agora