───── 02, detector de mentiras

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[𝐋𝐢́𝐯𝐢𝐚 𝐀𝐧𝐝𝐫𝐚𝐝𝐞,
𝐚 𝐞𝐧𝐭𝐫𝐞𝐯𝐢𝐬𝐭𝐚.]

Havia uma iluminação meticulosamente focada em um único ponto do set de gravação, onde Richarlison estava prestes a participar de uma entrevista. Convidado para comentar e se envolver em quadros desafiadores propostos pelo programa, ele se via diante de uma plateia mais numerosa do que inicialmente imaginara.

— Podemos seguir para o próximo? – a voz da apresentadora ecoou pelo estúdio, uma morena cheia de energia. – A parte favorita aqui. Richarlison sempre sendo sincero; espero que ele cause bastante polêmica hoje. - dizia enquanto desvendava as regras do próximo quadro do programa. - No entanto, teremos uma grande participante hoje, Lívia Andrade!! A querida irmã do jogador!

Foi nesse momento que o frio percorreu meu corpo; Richarlison pagaria por isso.

Desinformada sobre as dinâmicas do programa e as perguntas, aceitei a participação, confiando cegamente em meu irmão. Participar de questionamentos polêmicos? Eu não esperava esse tipo de encrenca online, mas esqueci que estava lidando com Richarlison.

— Vamos começar com o famoso quadro "Eu já, eu nunca" – anunciou a apresentadora. – Vocês irão dizer se já fizeram ou não, explicando o motivo. Se não responderem, levarão torta na cara, certo?

Foi nesse momento que me vi sem saída. Torta na cara ou expor algo íntimo? O que poderia ser pior? Eu não era muito disso, mas expor não estava nos meus planos naquele dia. Eu tinha compromissos depois do programa!

— Primeira pergunta: Eu nunca olhei o celular de uma pessoa sem que ela soubesse.

Os dois levantaram a placa de "já".

— Em minha defesa, era o do Richarlison! – soltei uma risada sincera, vendo meu irmão perplexo pensando no que eu poderia ter descoberto em seu telefone.

Não era nada sério; apenas bloqueei a ex dele, já que toda vez que ele bebia, insistia em procurá-la. Ainda bem que não encontrei nada suspeito, ou teria sido traumatizante.

— Como é que é??? – ele riu também. – Eu olhei o do Antony. – revirei os olhos sem pensar. – Me arrependo muito de ter entrado lá. Vi coisas inexplicáveis! Mas não foi só ele, vi o do Neymar também.

A entrevistadora percebeu minha reação ao ouvir aquele nome, e Richarlison também. Ele odiava quando eu criticava Antony, pois sempre tinha uma justificativa para os erros dele, e eu acabava como a irmã chata que fala mal do amiguinho dele.

— Caramba, imagino as cenas! – disse a apresentadora, tentando criar um ambiente descontraído após as revelações. — E você, Richarlison, alguma história reveladora sobre o Neymar?

— Ah, nada muito surpreendente. Apenas algumas mensagens engraçadas e memes. – disse Richarlison rindo. — Neymar adora uma brincadeira.

A entrevista continuou com perguntas semelhantes, algumas menos polêmicas, o que me acalmou. No entanto, se soubesse que o pior estava por vir, não teria me acalmado tanto. Não imaginava que o ponto mais crítico estava à frente.

Meu pai costumava dizer que "é melhor nunca dizer que você está no fundo do poço, sempre dá para ir mais fundo".

E então, resolveram usar um detector de mentiras.

Eles não tinham uma ideia melhor?

Eu não estava preparada para isso, especialmente após as revelações no jogo "Eu já, eu nunca". O medo se apoderou de mim; eu tentava ignorar, sabendo que minhas opiniões mais secretas sobre todos estariam prestes a serem reveladas.

Gelei quando fui chamada primeiro. Durante o intervalo, dei uma olhada rápida nas redes sociais. O Twitter estava cheio de comentários sobre a revirada de olhos que eu soltei. Uma das coisas que li me estressou ainda mais. Antony postou uma indireta para mim.

A frase era: "Já não é bonita e quando me vê vira o olho, tá possuída cadela? KKKKKK". Ele ia me ouvir depois daquilo. Que infantil. A ideia da música era legal, mas a indireta era clara para mim.

Sentei-me, ajustaram os equipamentos, e ela começou.

— É verdade que você tem algo contra o Antony? – soltou logo no início, sem dar tempo para pensar na resposta.

— Sim. – respondi seca, mas precisava explicar, infelizmente. Estava claro nas regras. – Eu o acho um babaca, traidor, galinha e infiel. Ele é sem noção, só liga para si mesmo. Ele merece estar na copa, não o desmereço no futebol e até poderia dizer que admiro, mas a vida dele fora disso é vergonhosa; ele é um otário.

— Uau, isso foi intenso! Eu amei. – respondeu a entrevistadora rapidamente. – Por que tanto ódio?

— Eu não sei, acho que nem o odeio; são só as atitudes dele que me incomodam.

— O que você acha, Richarlison? – ela se dirigiu a meu irmão, ciente de que ouviria reclamações depois.

— Eu não sei.

PIIIIIII, o detector fez o maior barulho.

Vermelho, ou seja, mentira.

— Eu não concordo. – ele assumiu. – Não acho isso, ele é um irmão para mim, e eu gosto muito dele, é uma admiração incrível.

A apresentadora, percebendo a tensão no ar, tentou suavizar o clima com uma piada.

— Bem, acho que esse detector precisa de ajustes, não é mesmo? – disse, tentando descontrair. – Vamos continuar...

[...]

Depois de tudo na entrevista, abri as redes sociais e percebi que era o assunto do momento. Alguns me apoiavam, outros me xingavam... Fiquei sem palavras. E, sem surpresa, o bonitinho postou mais coisas, mais indiretas! Que infantilidade. Pensei em responder, mas preferi ignorar. Não me humilharia, não faria o que ele esperava que eu fizesse. Ignorei enquanto ele postava sozinho, sem interesse nas suas publicações.

xoxo, vi.

𝗗𝗘𝗔𝗥 𝗔𝗡𝗧𝗢𝗡𝗬, 𝗜 𝗛𝗔𝗧𝗘 𝗬𝗢𝗨Onde histórias criam vida. Descubra agora