───── 06, tempo

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[𝐋𝐢́𝐯𝐢𝐚 𝐀𝐧𝐝𝐫𝐚𝐝𝐞,
𝐧𝐨 𝐡𝐨𝐬𝐩𝐢𝐭𝐚𝐥.]

Eu despertei em uma sala branca, e o som dos equipamentos hospitalares reverberava, preenchendo o silêncio. O ambiente gelado, mantido por um ar-condicionado impessoal, contrastava com a dificuldade de abrir os olhos diante da intensa iluminação. Contudo, as lembranças vívidas do ocorrido inundavam minha mente, intensificando o espanto. Cada detalhe, como um quebra-cabeça emocional, se encaixava para formar a imagem do caos que vivi. A ansiedade crescia à medida que as memórias se tornavam mais claras.

Ao redor, vi Antony, Neymar e Richarlison, reunidos como espectros em uma cena surreal. Apenas Antony estava acordado, seus olhos encontraram os meus assim que me viu despertar. Uma expressão frágil de alívio pintou seu rosto, tentando transmitir um sentimento de segurança com um sorriso fraco. Contudo, seus olhos carregavam a carga pesada da culpa, e a voz dele falhou gradualmente quando tentou falar.

— Calma, tá tudo bem. Você está segura agora! – ele murmurou, com um sorriso triste.

Senti a pressão de seus lábios na minha testa, um gesto de afeto que, por mais pequeno que fosse, carregava consigo o peso da responsabilidade. Enquanto ele se afastava para informar a enfermeira sobre meu despertar, podia sentir que seu olhar não se desviava de mim, carregando uma mistura de emoções, desde o alívio até a pesarosa culpa.

— Espera... – chamei, vendo os outros despertarem.

— Livia. – Neymar e Richarlison disseram em uníssono.

Richarlison se apressou até a beira da cama, segurando minha mão com firmeza. Seus olhos refletiam preocupação, como se tentassem decifrar o que aconteceu na noite anterior. A angústia era palpável em suas palavras.

— O que o Antony te fez?

— Ele não fez nada, Rich. – respondi, coçando os olhos.

A troca de olhares entre nós carregava uma conversa não dita, uma troca de sentimentos que fluía sem palavras. Enquanto tentava compreender a situação, notei que Richarlison estava inquieto, como se quisesse fazer mais do que apenas segurar minha mão. Era como se ele quisesse apagar a noite passada, um desejo impossível de se realizar.

— Depois te conto tudo, mas por favor, chama ele. – pedi, buscando seu entendimento.

A expressão de Richarlison demonstrava a dualidade de sentimentos, um desejo de ajudar e a incapacidade de mudar o que aconteceu. Ele se afastou para atender meu pedido, deixando-me a sós com Neymar na sala hospitalar. A luz fria destacava os contornos de seus traços, e o sorriso tranquilo que ele me ofereceu trouxe à tona memórias de uma época em que eu contava a ele sobre minhas paixonites.

— Eu fiquei tão assustado... – Neymar começou, e eu franzi o cenho, surpresa.

O tom de sua voz era suave, mas as palavras carregavam um peso que ecoava além do momento presente. Ao mencionar que foi ele quem me ajudou, seus olhos se perderam em uma mistura de emoções. Havia algo mais do que simples preocupação amigável em seus gestos.

— Eu fiz o que eu tinha que fazer. Agora você está com o seu irmão, com o Antony e comigo agora... Então eu só quero que você fique bem, porque por mais que não tenha falado com tanta frequência com você, eu ainda sinto um amor enorme por você.

O abraço que se seguiu foi mais do que um gesto de consolo. Era como se Neymar estivesse tentando reparar uma distância que se estabeleceu entre nós. O calor do abraço era uma tentativa de restaurar uma conexão que havia sido negligenciada. As palavras sussurradas reforçavam um vínculo que transcendia a amizade.

𝗗𝗘𝗔𝗥 𝗔𝗡𝗧𝗢𝗡𝗬, 𝗜 𝗛𝗔𝗧𝗘 𝗬𝗢𝗨Onde histórias criam vida. Descubra agora