Hinata
Aquela era a primeira vez em anos em que eu me sentia verdadeiramente irritada com Hanabi. Mas eu não podia simplesmente obriga-la a vir comigo para o apartamento do Naruto e pronto. Essa era a minha vontade, mas ela inventou aquela desculpa esfarrapada na frente do papai: "Tenho que fazer um trabalho na casa de uma amiga hoje. Sinto muito, Hina!", e piscou para mim. Sem nem mesmo me esforçar, eu acabei entendendo o que ela realmente queria dizer. Você vai ter que ficar sozinha com ele desta vez! Me conte os detalhes depois!
Eu não queria nem imaginar as besteiras que deveriam estar passando pela cabeça da minha irmã mais nova nesse momento. Então, eu apenas me concentrei em tirar as medidas de Naruto e anotar tudo num bloquinho que separei exclusivamente para anotar as coisas de nossa pequena apresentação.
Mas o que era para ser uma tarefa simples, acabou se tornando, de certa forma, constrangedora. Não por minha causa. Eu não estava fazendo nada inapropriado. Mas eu não podia ignorar os olhos de Naruto examinando cada movimento meu, as chamas azuis intensas, fazendo-me ficar mais vermelha do que um pimentão. Era atordoante.
-Há algo de errado? -perguntei, me sentindo irritada.
-Não, por que?
-Você fica me encarando! É estranho, além de desconfortável!
Ele riu por alguns segundos, a risada melodiosa viajando pelo ambiente, atingindo a mim de uma forma inexplicável. Subitamente, meu desconforto sumiu e eu senti uma vontade quase incontrolável de acompanha-lo naquela gargalhada escandalosa.
-Me desculpe, Hina! Eu não pude evitar!
Me sentei no chão, encostada no sofá, me sentindo irritada novamente. Eu já estava cansada de ouvir aquilo.
-Essa é sua resposta para tudo? -indaguei, controlando minha voz.
-O que quer dizer? -ele retrucou, se sentando ao meu lado, parecendo confuso.
-Você sempre diz a mesma coisa, Naruto. Pede desculpas e diz que não pode evitar. Isso é um aco, sabia?
-Desculpe. Eu não...
-Nem ouse completar essa afirmação! -eu o interrompi, desta vez, rindo. Naruto me acompanhou, deitando-se com a cabeça em meu colo. Quase como se agissem por conta própria, meus dedos se deslocaram para os fios loiros de Naruto, que fechou os olhos, apreciando aquela carícia rara.
-Sabe, Hinata... -qualquer coisa que ele fosse dizer, não foi pronunciada, porque na mesma hora, meu celular começou a tocar, aquela musiquinha irritante penetrando em nossos ouvidos, quase nos deixando surdos. Eu realmente tinha que me lembrar de abaixar o volume daquela coisa.
Puxei o aparelho do bolso do casaco e atendi, surpreendendo-me com quem havia me ligado.
-Hinata? -Kiba perguntou do outro lado da linha, a voz animada. Mesmo sem vê-lo, eu sabia que ele estava sorrindo, como sempre.
-Eu mesma. O que houve, Kiba? -na mesma hora, Naruto se levantou num sobressalto, como se tivesse acabado de levar um choque.
-Quero te fazer um convite!
-Convite?
-Sim! O que você acha de sair um pouquinho e tomar um sorvete, ou algo do tipo?
-Pode ser... Mas... Agora?
-Sim. Por que? Você está ocupada?
Olhei para Naruto, que mantinha a cabeça entre as mãos, sua respiração pesada falhando vez ou outra. Parecia que ia enlouquecer.
-Não, não estou ocupada. Te encontro em frente à sorveteria em vinte minutos, ok?
-Perfeito! Até logo então, Hinata!
Desliguei, sentindo como se toda a tensão que tomava conta da sala caísse sobre os meus ombros. Suspirei, me levantando. E silêncio, peguei meu bloquinho de anotações e o guardei na bolsa, junto com meu estojo de lápis.
-Te vejo amanhã, Naruto -falei, sem nem esperar uma resposta.
Mas, no momento em que toquei a maçaneta, sua voz se fez audível e não era mais gentil, ou alegre. A voz de Naruto soava como se ele estivesse sendo torturado. Céus, o que estava acontecendo com aquele garoto? E por que eu sentia uma vontade surreal de ligar para Kiba, desmarcar tudo e passar a tarde inteira ali, naquele apartamento cinzento, jogando videogame com meu melhor amigo?
-Hinata -ele começou -Não vou interferir nas suas escolhas, ok? Você pode sair com o cara que quiser. Mas se esse idiota fizer qualquer coisa que a faça chorar, ou se arrepender... Não vou hesitar em mata-lo!
Abri a porta, saindo do apartamento, ouvindo algo, provavelmente de vidro, se quebrar. Eu queria ter respondido sua afirmação, nem que fosse com alguma frase idiota, ou um xingamento. Mas eu não podia.
Afinal, não havia sido uma pergunta.
Eu queria dizer que Naruto voltara a agir normalmente depois daquele dia, mas não foi assim que as coisas aconteceram.
Kiba e eu saíamos com cada vez mais frequência e, eu começava a ter cada vez mais afeto por ele. Consequentemente, eu passava cada vez menos tempo com Naruto. Aquele Uzumaki idiota estava me deixando constrangida. Na escola, durante o intervalo, ficava perseguindo-me e todas as vezes em que Kiba se aproximava, Naruto arranjava uma desculpa para me levar para longe.
Isso era extremamente irritante. Mas eu o suportava, porque, na verdade, não conseguia mais me imaginar vivendo sem aquele idiota para me atazanar.
E uma semana se arrastou, até que o dia mais traumatizante da minha vida chegou.
Um sábado que tinha tudo para ser um dia entediante, mas que mudou completamente, até que eu pudesse perceber o quão idiota eu era. E tudo começou com uma ligação logo após o almoço.
-Hinata? -aquele era Kiba, eu reconheci.
-Oi. Por que está me ligando?
Hoje é aniversário de um amigo meu, o Shino. Vai ter uma festa muito legal na casa dele, vai ser divertido. Você iria comigo?
-Pode ser. Você me pega aqui em casa?
-Claro. Passo aí às 19:00.
-Até logo -desliguei, já me preparando para mandar uma mensagem para Sakura. Então, tudo o que me restava, era esperar. Olhei para o visor do celular, lendo a mensagem recém-enviada:
De: HinataPara: Saky
Assunto: EMERGÊNCIA!!!!
Sei que você está depressiva e tal, comendo potes e mai potes de srvete
mas será que pode vir aqui em casa, tipo agora?
Tenho uma emergência e só você pode me ajudar.
Bjs, Hinata
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Sutilmente
RomanceEu tinha tudo planejado. Assim que concluísse meu último ano do Ensino Médio, eu entraria numa boa faculdade e teria o futuro brilhante que meu pai tanto sonhava. E então ele apareceu. Ele chegou e se instalou em minha vida. E sem que eu nem percebe...