Romeu

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Naruto

Hinata já havia adormecido há algum tempo, mas eu simplesmente não conseguia cair no sono. Ou talvez não quisesse, o que era provável.

Ela estava ali, mais perto do que deveria, o corpo frágil contra o meu, a respiração tranquila. Hinata ficava ainda mais bonita daquela forma, sem aquela expressão séria ou irritada. Era como se nada no mundo pudesse tirar sua serenidade. E isso era absurdamente perfeito. 

Honestamente, eu não entendia a razão pela qual eu me apaixonei por um ser tão sem senso de humor. Mas, fosse qual fosse o motivo, acho que não poderia ter escolhido pior. Tudo seria muito mais fácil se eu me apaixonasse pela Shion, por exemplo. Mas não que Hinata não fosse boa o bastante para mim. Era exatamente o contrário. Ela merecia alguém melhor do que eu. A questão era que ela era a minha melhor amiga.

Acredite quando digo que já fiz muitas burradas em minha vida. Quem nunca fez nada de que se arrependeu depois? Algumas pessoas dizem que dou um pouco idiota e agora, em minha atual situação, eu concordo. Sou o maior idiota do século. Porque existem três tipos de idiotas: Os que nascem para serem idiotas, os que fingem serem idiotas e por último, a minha categoria: os idiotas que se apaixonam pela melhor amiga.

Me levantei da cama, sentindo um súbito frio ao me afastar de Hinata. Meus pés pareciam que iam congelar enquanto eu caminhava descalço pelo chão gélido. Com cautela, fui até a sala, pegando o papel onde minhas falas estavam escritas. Respirei fundo e tentei começar a ler as falas em voz alta:

-Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face! -honestamente, não estava nada bom. Com certeza eu seria o pior Romeu de todos os tempos.

-Ai de mim -me assustei ao constatar que Hinata estava apoiada na porta. Percebi que aquela era a fala de Julieta e resolvi prosseguir com o texto.

-Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.

Hinata sorriu e prosseguiu, gesticulando enquanto falava, olhando uma folha que tinha em mãos, onde provavelmente estavam escritas suas falas.

-Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo -a verdade com que Hinata dizia aquelas palavras era atordoante.

-Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?

-Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.

Foi aí que as coisas deram errado. Fui tomado por uma sensação estranha, que me moveu até estar frente a frente com Hinata, pressionando-a contra a parede. Seus olhos perolados me encaravam com uma intensidade surreal e, aproximei meu rosto do dela. Não houve oposição. Mas eu não podia fazer aquilo.

Hinata deixara bem claro que não gosta de mim da mesma forma como eu gosto dela. E eu aprecio sua amizade, prezo esse laço mais do que qualquer coisa. Não estragaria algo que me fazia tão bem por um mero impulso de meu coração encandecido por aquela paixão absurda. Negaria aqueles lábios rosados, pois sabia que ela não queria aquilo de verdade. Pelo menos, não naquele momento.

Então, contrariando minha vontade, suprimindo meus sentimentos, eu depositei um beijo no canto de sua boca, dando-lhe um sorriso gentil. Hinata realmente merecia alguém melhor do que eu. E não seria eu quem tiraria esse direito dela. 

-Me desculpe, Hinata. Não pude evitar.

-Você vive pedindo desculpas -ela sorriu, sem jeito -Também não consegue evitar muitas coisas. Isso é curioso.

-De qualquer forma, me desculpe. Juro que não vai se repetir.

-Para! não jures; muito embora sejas toda minha alegria, não me alegra a aliança desta noite; irrefletida foi por demais, precipitada, súbita, tal qual como o relâmpago que deixa de existir antes que dizer possamos: Ei-lo! brilhou! Boa noite, meu querido -ela disse outra fala de Julieta, os cantos dos lábios erguendo-se num sorriso singelo.

Ela colocou uma de suas mãos em meu rosto, fazendo círculos imaginários com o polegar. Fechei os olhos, aproveitando cada segundo daquela carícia, guardando cada sensação única em minha memória. Porque sabia que, quando a manhã chegasse, Hinata se esconderia atrás de sua expressão indiferente. 

Voltamos ao quarto e nos deitamos de novo. Hinata estava de costas para mim e eu encarei seus cabelos preto azulados, imaginando o que ela estaria pensando. Estaria brava comigo? Magoada por eu quase tê-la beijado?

E então, qualquer questionamento sobre se ela estaria chateada se foi com seu próximo gesto: Ela se virou de frente para mim, se apoiando em meu peito e puxando meus braços para envolver sua cintura fina. Aquele calor reconfortante invadiu todo o meu ser, enviando impulsos nervosos por todo o meu corpo, fazendo-me estremecer. 

-Boa noite, Romeu -ela sussurrou.

Mesmo sabendo que ela estava brincando, chamando-me de Romeu, eu sorri. Aquela garota tão bonita e inteligente era a Julieta. 

E por mais que eu não quisesse, eu era o seu Romeu

SutilmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora