TUA - Número Zero, último áudio

0-2: O traidor apaixonado

Pov: Maya Rivers

     Ele estava quieto assim como eu pedira.

     Nosso plano foi para os ares quando Maya Hargreeves e os irmãos se encontraram com os Sparrow na mansão.

     Se meus cálculos estivessem certos, ainda não havia encontrado uma solução que garantisse 100% ou, ao menos, 90% a felicidade dos Hargreeves e a prolongação da linha do tempo.

     Todas as mudanças sutis feitas estavam acarretando o encurtamento das linhas temporais e, num futuro próximo, a Comissão entraria em colapso.

      Sobre essa consequência, apenas eu e Cinco sabíamos. Para os outros rebeldes, estávamos procurando uma maneira de reverter a situação. Fazer com que a Comissão saísse das mãos do ditador e ajudar a família Hargreeves a consertar a linha temporal e deixar o fim acontecer da maneira que deveria desde o início. Em um futuro muito e muito distante. Para os outros agentes, estávamos destruindo tudo, o que não é toralmente mentira.

     Eu já havia desvendado a fórmula para reverter as interferências nas linhas do tempo. Porém, isso não mudava a finitude delas. O mundo acabaria com a lua caindo em nossas cabeças se voltássemos tudo. Tinha que haver uma forma disso não acontecer. Claro que com o passar do tempo, outras linhas iriam aparecer, mas desde o começo, o plano era ganhar tempo.

     Um tempo que a gente não teria.

     Com os agentes preocupados em restaurar os "erros" encontrados, viajando de um lado ao outro individualmente ou em duplas, eu tinha tempo para encontrar a outra resposta.

     De que maneira... eu poderia ser feliz? Ou, ao menos, ter a oportunidade?

     Não me julguem heroína, por favor.

     Estou acabando com a vida de muitos lá fora. Gerando um estresse estupendo e outras mil desavenças. Para o meu próprio bem.

     Tenho consciência disso. Sou egoísta. Mas não significa que vou desistir.

— O que acontece agora? — Cinco pergunta relutante. Estou encarando a folha branca.

— Não sei. — a folha ri de mim, não seria riscada.

— Obrigado por nada. — um resmungo. — Você não vai desistir mesmo, não é? — me calo. — É tão importante assim?

     Olho de esgueira.

— Quero dizer... é importante. Mas você não consegue se contentar com a oportunidade que estamos tendo aqui? — aponta ao redor.

— Na Comissão? — ele assente e eu solto uma risada de escárnio. — Aqui nunca foi o meu lugar. Não serve. Além do mais, estão perseguindo a gente, caso não saiba.

— Antes da chefe morrer

— Prometemos que não falaria sobre isso. — interrompi, mas ele não se deixou abalar.

— Me escuta. — repreendeu. — Meu acordo com ela, era me aposentar e ser mandado para um linha temporal qualquer para viver os anos normalmente. Era meu sonho, você entende? Poderia andar por aí sem me preocupar em fingir ser alguém, sem mirar em nada e sem desconfiar de todos.

— Mas.

— Mas — suspirou melancólico — não é mais o que eu quero para mim. Depois da última missão... eu mudei de ideia.

— Tá falando da missão de fingir gostar de mim? De me iludir com suas carícias enquanto espiona todo mundo? — quase gritei, com raiva.

     Não devíamos estar revirando as roupas sujas, mas, aparentemente, nenhum de nós dois tinha superado o término. E, apesar de tudo, aquele Cinco Hargreeves era a pessoa que eu mais confiava no mundo, em todas as linhas do tempo.