RET.
Som alto, mulher descendo até o chão e os caras com a pistola colado na cintura, e algumas pessoas que nunca vi na vida.
Odeio época verão por um único bagulho: turistas.Os caras querem subir na morro a qualquer custo, querem subir no baile pra ver como realmente é. Se tem fuzil, se tem droga da boa. É lucro, com certeza, mas como que tu sabe que não é gente de outro morro infiltrado?
Tu pode ter o melhor malandro pro teu lado, mas nunca se sabe o que o outro também tem.- Tá brisando em que, ret? - Passa a parada pra cá. - Lennon fala quando me vê analisando a aglomeração daqui de cima.
- Só fazendo a vistoria. - Levo a mão no bolso e tiro algumas gramas de coca. Lennon é meu braço direito aqui de cima, além de Víctor, que me ajuda a manter esse morro.
Nunca tive problema com o cara, sempre entregou o certo pra nós.
Como diriam: Meus olhos, meus ouvidos e meus braços em qualquer lugar. Nada pasa.
- Checa os olheiros e fica ciente de que ninguém tá pirado. Hora de serviço, é hora de serviço. Ninguém usa nada. Depois, é liberada aquela quantia pra quem mereceu. - Apenas o vejo acenar com a cabeça e logo descer pra fazer seu trabalho.Trabalhar com viciado é foda, não digo que não uso, mas ter a parada no teu controle é muito melhor.
Hipócrita já que faço grande parte do meu lucro com cargas e mais cargas, mas sei separar bem. Sempre soube. Se não soubesse. Esse morro todo aqui, não seria meu. E em breve, outro também.- Cê tá maluca, caralho? - Quem a porra do Victor trouxe pra cima? Nem comunicou no bagulho. Viro minha cabeça rapidamente pra ver o que tá rolando - Mina tu não é daqui, não pode sair empurrando maluco e jogando parada na cara deles não. - Victor falava com uma mulher que não conseguia ter visão. - Tu não tá ligada no que um perreco maluco pode fazer contigo aqui. - Deve ser conhecida pra ele ter a confiança de trazer pra cima sem me comunicar antes. - Tu é da pá virada mermo. - O cara tá sem paciência com mulher e nenhuma nunca tirou a dele desse jeito. Sei que vive com a mãe, Dona Vera, que é quase que uma mãe pra mim, que é mãe de sangue do Lennon e o irmão mais novo, mulequinho bom, inocente e cheio de sonho. - Até explicar que tu é nossa irmã. A parada complica muito. - Minha cabeça travou ai.
Tá ligado a sensação de que um soco no estômago te atingiu?
Lembranças.
- Eu quero que você saia daqui. - A voz de Laura saiu nervosa. Seu olhar estava fixo no meu e sua postura tinha mudado perto das outras brigas. Sua mão apontava para a direção da porta.
- Eu não vou sair, caralho! Eu quero que você me escute. - Tudo se resolvia uma hora ou outra, eu insistia uma, duas.. Deixava ela de molho, mas ela voltava na terceira. Às vezes na quarta, mas voltava.
- Não, cara. Não adianta eu te escutar hoje, não adianta eu te escutar amanhã porque agora quem não quer mais essa merda, e eu tô falando sério, sou eu! - A sua voz estava começando a ficar mais alta. Nada do que não tô acostumado. - Eu cansei dessa merda. Se limpa num dia. Fica de boa uma semana. Algo dá minimamente errado nessa sua vida de merda e toma pó nessa porra desse seu nariz. - A raiva ficava mais evidente, além da raiva, a decepção. Vai começar o show de consciência na minha cabeça de novo.
- Você me conheceu assim. Não vem encher o caralho da minha cabeça como se não sabia. - Toda vez que a briga rola, a pauta volta sobre a minha vida. Me conheceu aviãozinho, me viu tomando tudo e aprendendo com o meu padrinho. Enche o saco uma hora esse discurso.
- Eu te conheci sendo menino. Pronto pra virar homem digno. Você e Victor foram se enfiando nesse merda. Dinheiro fácil, vida fácil. - Ela ri, mas é aquela do mal que ela dá mesmo quando tá puta. Aquela que tu sabe que é porque ela tá tirando contigo. - E aí você virou isso. Um maluco que cheira e joga tudo pro ar. Tô cansada dessa porra. - A raiva deixa ela com a boca suja. E isso não me agrada e nem me desagrada. Traço meu que ela pegou. O diferente é que a minha boca tá sempre suja.
- Vida fácil? - Minha vez de rir. - Matando meia dúzia de leão por dia pra tua casa aqui continuar de pé, pra tua vidinha ser mais fácil.
- A minha? - O tom de deboche tá misturado com todos os outros. - Eu tô falando sério, sai da minha frente. Some da minha vida, pelo amor de Deus! - A convicção dela nessa ideia tá começando a me irritar.
- Eu vou. - Solto uma risada fraca e ergo minhas mãos. Antes que a parada fique maluca como nunca ficou. - Não vou gastar saliva contigo quando tu insiste em se fazer de puta tonta. - Consigo sentir a ira dela em mim quando solto a frase. - Mas fica ciente que a conversa não acabou e você tá ligada.
Eu não posso acreditar que essa maluca tá no morro de novo.
Depois de 7 anos...
7 anos fodidos atrás dela.
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CAIS.
ActionRet tinha um sonho desde moleque: Dominar o Complexo. Junto de seu irmão de consideração, Lennon. Os planos mudam quando Laura entra pra sua vida de um jeito diferente, mas tudo desmorona quando ela subitamente some do morro após uma discussão. A...