CÁP 5.

185 24 0
                                    

Ret.

Passei o dia inteiro no cafofo. Não tava afim de dar as caras na rua, fiz contagem e mais contagem, revisei os planos que estavam no papel a meses e cada vez mais perto de serem colocados em prática. E claro, usufrui uma boa quantia de cocaína que era a única que tava salvando a minha mente da insanidade nas últimas 24 horas.

Só de pensar o meu sangue ferve e vontade de invadir a casa da Dona Vera sobe. Maior respeito por ela sempre, mas eu queria quebrar aquela filha da puta da filha dela no meio. Junto com a porra do Lennon e do Victor.

Não precisei trocar uma ideia sobre a parada com eles. Eles sentiam meu olhar de ódio a quilômetros de distância e piorava quando eles estavam na minha frente, cochichando algo e mantendo os olhares disfarçado (pelo menos é o que eles pensam) em cima de mim.

Não tô com ideia pro Lennon, de jeito nenhum porra. O cara com certeza sabia onde ela tava esse tempo todo e agiu na trairagem comigo. E isso não tem perdão.
Esse filho da puta ainda usava a desculpa de: Reage maluco, ela não ia gostar de te ver assim.
Não ia gostar porque tu dava o feedback de como o otário aqui tava pra ela.

Balancei a minha cabeça ao ouvir meu celular tocando e notei o nome do índio no visor.

- Qual a boa? - Perguntei ao atender. Índio era um dos meus caras mais fortes e um dos mais perturbados também. Acho que a inteligência que ele tinha pra algumas coisas afetava ele em outras, pô.

- Aí chefia, tô bolado com um papo desde o baile. - Eu também se te servir de consolo. - Victor não tem a mesma função que eu dentro do complexo? - Ah qualé menor, uma hora dessas, a porra do perturbado tá com ciúmes de outro parceiro? Tô o ódio com esse porra, mas tem uns bagulho que também é demais, meu irmão.

- Meu chapa, eu tô numa parada do caralho aqui. E tu me liga pra contestar um bagulho que tu tá ligado que é do jeito que tu acabou de falar? Porra, é muita tiração com a minha cara. Acho que geral nesse caralho tá achando que o patrão é palhaço. - Ri nasalmente. Tá na hora de enfiar o respeito de vez, nem que seja na marra.

- Jamais, meu bom! Minha fidelidade e seriedade foram juradas a ti. Mas a porra da questão é. Se ele tem a mesma função que eu aí dentro porque ele pode me proibir de meter bala na testa de uma patricinha chata do caralho que ameaçou me jogar um copo na cara? - Franzi meu cenho ao escutar o maluco. E aí a cena passou mais uma vez na minha cabeça. Ele tretando com a filha da puta da irmã no camarote. Ri nasalmente ao me ligar do que se tratava. A mina continuava uma praga com qualquer homem.

- Irmão, vai ver, era conhecida dele, mas pode deixar que eu tirar esse bagulho a limpo com o Vitin. - Queria cortar logo esse assunto antes que o maluco metesse um capítulo de um livro por telefone. -  Fica suave, amanhã a resposta tá na tua mão. - Desliguei logo em seguida e joguei meu celular sobre a mesa.

Joguei minha cabeça pra trás e fiquei encarando o teto branco do cafofo, é uma sensação do caralho tudo isso. Ao mesmo tempo que eu sinto uma raiva absurdo, sinto que ela ainda é a mesma rabugenta de quando eu conheci.

Balancei minha cabeça querendo me livrar daquelas paradas, o cafofo estava sendo ocupado só por mim e eu não tava muito afim de ficar o resto do meu dia ali. Queria dar um pião pelo morro, conferir se tá tudo na ordem e a noite só curtir uma resenha com mulher gostosa pra desencanar dessa história. Louco pra tirar a limpo, mas ainda não, não quero perder toda a minha razão.

Tava cortando volta no morro pra evitar de tombrar com ela, mas quando cheguei na porta dos fundos da Dona Célia, ela tava lá. Com o mesmo cabelo cacheado, com o mesmo sorriso, um pouco mais mulher, mas bonita como sempre. Jogando conversa fora com a mina do Dela. Parece que meu olhar travou ali até que o dela também se encontrou no meu. Era como se tudo tivesse parado e só a gente tivesse ali. Meu maxilar automaticamente se trincou e eu senti o gosto de sangue na boca o que me fez sair daquele transe infernal, seu olhar foi desviado do meu e eu meti o pé daquele lugar mais rápido o possível. Nunca mais nessa porra eu saio tão maluco de casa ao ponto de ficar sem moto. Metade dessas parada não teriam acontecido hoje.

CAIS. Onde histórias criam vida. Descubra agora