Luz no fim do corredor

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O primeiro cômodo do apartamento era pequeno e eu já podia concluir que o restante também seria apertado. Segundo a sua ficha Carolina morava sozinha e não tinha ninguém, então fazia sentido o pouco espaço em seu lar. Havia em sua sala de estar um sofá de dois lugares, uma mesinha de centro com um telefone fixo em cima e uma televisão na parede. Páginas e mais páginas de símbolos e rascunhos se acumulavam em todos os centímetros do chão, sendo até difícil caminhar pelo local sem pisar nelas. Direciono a luz da lanterna diretamente em uma delas, que mencionava uma criatura do apocalipse, uma besta enjaulada como dizia aquela página arrancada de algum livro de ocultismo. As outras folhas pareciam ser rascunhos e lamentos de uma pessoa com sanidade quase nula ou já inexistente.

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Minha primeira teoria era de que Carolina entrou em contato com o outro lado por algum motivo específico, descobrindo todo um mundo paranormal em sua frente

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Minha primeira teoria era de que Carolina entrou em contato com o outro lado por algum motivo específico, descobrindo todo um mundo paranormal em sua frente. Sem ninguém para a explicar e aconselhar sobre tudo isso, esse tanto de informação a levou a loucura. Seria totalmente possível por não ser a primeira vez que isso acontecia, todos os dias alguém no mundo passa por isso. Por mais que existam pessoas como nós, agentes que dedicam suas vidas para salvar essas pessoas inocentes, as criaturas estão em sua maioria, e ganham pela quantidade. Sabíamos que era uma luta perdida antes mesmo de começarmos, mas fazemos mesmo assim, na esperança de salvar o máximo de pessoas possíveis. Infelizmente o mundo nunca estará livre do paranormal.

Pego um par de luvas de dentro da minha maleta e entrego ao Thiago, para que ele possa analisar a cena sem comprometer possíveis evidências. Coloco as minhas logo em seguida e começo a procurar por qualquer coisa que nos dê ao menos uma pista de onde ela foi parar.

- Já ouviu falar nessa "Besta Enjaulada"? - Thiago me pergunta, um pouco pensativo.

- Não. Precisamos ligar pra Ordem para ver se eles possuem informações sobre essa criatura. - eu concluo, enquanto leio algumas das anotações.

- Essa menina parecia estar enlouquecendo. As anotações vão ficando cada vez mais sem sentido. Nessa aqui, - ele me mostra um papel em suas mãos - ela diz que o portal se abriu e a grande ascenção estava por vir.

- Algo nessa página de livro aqui também fala sobre ascenção. - eu digo e o mostro, Thiago franze o cenho.

- Onde você achou isso? - ele parece perturbado.

- Ué Thiagão, aqui mesmo, junto com esses rascunhos. - eu olho pra ele sem entender.

- Eu conheço essa ilustração. Essa criatura... Eu já vi esse livro em algum lugar. Que porra... - ele coça a cabeça, levemente confuso.

- Como assim? Na Ordem? Assim fica mais fácil, podemos pedir para eles nos mandarem uma cópia, ou tirarem foto das páginas que falam sobre essa criatura. Na verdade, podemos-

- Não, Liz, você não está entendendo! Eu já vi sim esse livro, mas não foi na Ordem. - ele me olha sério, parecia preocupado.

- Aonde você viu isso, Thiago? - eu me aproximo dele, o olhando em seus olhos castanho-escuro.

- Nas coisas do meu pai. Eu tenho certeza que era esse livro. E eu tenho certeza que ele escreveu sobre essa criatura em seu diário...

- Seu pai tinha um diário? É por isso que você também escreve? - eu o pergunto, e uma luz se acende no final do corredor. - O que foi isso? - eu sussurro.

Thiago alcança a mão em seu coldre enquanto coloca um de seus dedos nos lábios para que eu fique em silêncio. Assinto com a cabeça e faço um movimento rápido para pegar o meu revólver, e o acompanho até o final do corredor. Ele se aproxima da porta entreaberta daquele quarto iluminado.

- Quem está aí? - ele diz, em alto e bom som. - Eu sou da polícia e estou armado. Se você preza pela sua vida, responda.

O silêncio se perdura. A única coisa que ouço é a nossa respiração inquieta. Thiago me olha e pede com sinais para eu esperar no corredor, e eu miro na porta enquanto ele caminha em direção à ela. Ele a abre empurrando com um de seus pés, e o quarto iluminado parece não abrigar ninguém. Ele entra e olha embaixo da cama e dentro do armário, mas aparentemente não tem ninguém ali.

- É só um problema na fiação da casa, provavelmente. - ele conclui, recolocando sua pistola em seu coldre. - Vamos nos separar e procurar por algo que nos ajude a acha-la.

Eu concordo com a cabeça e deixo o quarto para Thiago olhar. Começo a vasculhar os outros cômodos na esperança de achar qualquer coisa que nos indique aonde essa jovem possa estar.

O apartamento parecia estar completamente normal, tirando as folhas jogadas no chão da sala. Fora isso não parecia ter nenhuma evidência que nos ajude, nada diferente e atípico que nos chame a atenção. Acabo de vasculhar o local e me lembro que Thiago estava falando sobre o diário de seu pai, concluo tristemente que essa é a nossa única pista no momento.

- Thiagão, não tem mais nada aqui! - eu digo.

Ele não me responde, parece não ter escutado. Caminho até o quarto em que ele está, pensando que ele pode ter achado algo. Na verdade, eu estou torcendo para que ele tenha achado qualquer coisa.

- Thiago? Me responde, porra. - eu digo enquanto chego ao final do corredor, de frente para o quarto com a luz acesa.

Me deparo com algo que não imaginava. Uma cena assustadora e paralisante, até mesmo pra mim. O cômodo iluminado me mostra de forma clara uma espécie de criatura sem rosto, algo bestial e que não deveria existir. Ela segura os dois ombros de Thiago, que derrama lágrimas de sangue enquanto a olha, sem parecer conseguir sair de um transe bizarro. Ele tenta falar e não consegue, na verdade parece nem conseguir respirar. Eu também me sinto paralisar temporariamente na presença dessa criatura sombria, que parece mexer comigo até mesmo dessa distância. Tento colocar a mão no meu coldre e não consigo, não chego nem perto. Eu estou paralisada, e minha última tentativa é chamar a atenção dela pra mim.

- Ei, desgraçada! Solta ele! - eu digo aterrorizada.

Não consigo acreditar nessa monstruosidade na minha frente, uma espécie de ser paranormal, encapuzado e todo de preto, com um buraco negro e infinito no lugar em que deveria estar o seu rosto. Ela vira o pescoço lentamente em minha direção, e apesar de não ter face eu consigo saber que essa coisa horripilante está me olhando. Eu consigo sentir. Esse momento parece durar uma eternidade, e eu sinto que ele nunca mais vai acabar. Até que acaba.

A criatura e o Thiago somem diante de meus olhos, e eu caio de joelhos no chão, fraca, ofegante e sem acreditar no que acabou de acontecer.

Tudo que poderíamos ser [LIZAGO]Onde histórias criam vida. Descubra agora