Chapter 2

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As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Sabina encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?

Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Sabina fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Priscila e Sabina.

Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Any.

Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.

- Olá. - Ela disse docemente. - Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...

- Não se preocupe, criança. Entre. - Priscila disse, vendo Sabina (Agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se
aproximou de Any.

- Olá, Any. Como está? - Sabina disse, vendo Priscila voltar a se sentar em sua cadeira. - Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!

- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Priscila disse sorrindo fraco e Any
agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Sabina resolvesse falhar em lembrá-la de algo
novamente.

- Oh! - Sabina disse. A menor analisou a expressão da mãe de Any. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. - Viu só, Any? Sua mãe ainda se lembra seus gostos. - Priscila riu baixinho e assentiu.

- Você é muito especial, Sabina. - Priscila disse, causando um sorriso no rosto da menor.

- Obrigada, senhora. - Ela disse sentindo-se lisonjeada. - Any, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? - Sabina perguntou sorrindo. - Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - Falou rindo.

- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?

- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Any? Gostei de conhecer vocês duas. - A
porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.

- Boa noite, moças. Como estamos por aqui? - O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos era ligeiramente grisalho, mas incrivelmente
lindo e simpático. - Temos visita nova para você, Any? - O homem disse em um tom alegre e empolgado.

- Sabina é nossa nova amiga, Doutor Lucas. - Priscila disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do
bolso de seu jaleco.

- Vamos lá. - Ele disse, abrindo um dos olhos de Any e jogando luz nele. Sabina pôde ver que os olhos eram castanhos também, uma tonalidade incrível, se fosse ser honesta.

- Você não se incomoda com isso, Any? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. - Sabina disse rindo. - Sou meio explosiva na
TPM.

- Como disse que se chamava? - O médico perguntou, se virando para Sabina.

- Bem, eu não disse. Priscila que me apresentou. Sou Sabina.

- Certo. Sabina..

- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! - Ela disse rindo um pouco envergonhada.

- Muito pelo contrário. Continue falando. - Sabina arqueou uma sobrancelha.

- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? - Ela perguntou, vendo Priscila rir.

- Não, querida. - A mulher respondeu gentilmente.

- Sabina, ande até a porta, por favor. - O homem pediu e Sabina assentiu confusa. - Vá falando. -
- Que espécie de louco aquele médico era? Sabina
resolveu acatar seu pedido mesmo assim.

- Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Any.

- Repita o nome dela. - O homem pediu com veemência.

- Está tudo bem, doutor? - Priscila perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um
interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.

- Sim. Só preciso que Sabina repita o nome da Any.

- Claro. Any, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Any". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.

O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Priscila visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos Any lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.

- Senhora Priscila, podemos trocar uma palavra? - Ele perguntou e Priscila olhou confusa e assustada para ele.

- Eu prefiro que Sabina esteja comigo. - Ela confessou. - Você sabe que eu não tenho...mais ninguém, doutor. - Os olhos negros do homem se
direcionaram para Sabina antes de ele assentir.

- Tudo bem. - Ele disse. - Senhora Soares, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...

- Oh meu Deus. - Priscila disse levando sua mão à própria boca. - Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... - A mulher começou a chorar e o doutor
respirou fundo.

- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. - Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Priscila sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Sabina.

- Prossiga, Doutor.

- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem...Any só responde à voz de Sabina. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Sabina falou e seus olhos a
seguiram. Quando Sabina proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.

- Está dizendo... - Priscila foi cortada pelo Doutor.

- A voz de Sabina é o estímulo que procuramos todos esses anos para Any, Priscila. - Sabina piscou lentamente, tentando processar o que
acabara de escutar. Como raios seu dia se tornora tão louco?

Em um piscar de olhos || SabianyOnde histórias criam vida. Descubra agora