Chapter 25

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Os olhos castanhos estavam há quase um minuto presos nos ferros a sua frente, tentando assimilar o que Sabina dissera para que ela fizesse. Confiava em Sabina, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?

- Que tal se tentarmos depois? - Any perguntou e Sabina riu suavemente.

- O que combinamos na virada de ano, hm? - Perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.

- Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. - Any disse e Sabina aquiesceu.

- Exatamente. - Afirmou. - E para isso você precisa começar a treinar na barra paralela. - Any umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Sabina temerosa.

- E se eu não conseguir?

- Você vai. - Disse veemente. - Seus braços já estão fortes para sustentar o seu peso, agora precisamos trabalhar mais suas pernas.

- Por que meus braços estão bons e minhas pernas ainda não? - Perguntou.

- Nossas pernas exigem mais força de nós, você vai chegar lá. - Sabina insistiu pacientemente. - Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. - Impôs. Any entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Sabina.

- Sem Bina de maiô ou biquini? - Perguntou e Sabina segurou o riso.

- Sem Bina de maiô ou biquini. - Disse irredutivelmente, o que causou um longo suspiro em Any.

- Você vai me ensinar a nadar? - Any era esperta, queria negociar.

- Sim, mas precisa testar a barra.

- Se eu cair você não ri? - Pediu envergonhada.

- Você não irá cair. Eu estarei bem atrás de você, pronta para te segurar. - Sabina informou e Any tomou fôlego antes de assentir.

- Tudo bem, me leve até ela. - Pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Sabina lhe prometeu; queria poder ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de isso ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.

Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiara ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser uma ingrata.

Sabina ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a maior segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Sabina. Havia se passado três semanas após o natal, porém já sentia falta de Sabina dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Sabina contava as melhores histórias, todavia, o que prendia a atenção de Any era a voz eloquente de Sabina, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.

- Pronta? - Sabina perguntou e Any engoliu em seco, mas mesmo assim assentiu. - No três você vai fazer o que eu te disse, certo? - Novamente Any aquiesceu.

- Certo. - Any disse se preparando.

- Um... - Sabina começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. - Dois... - Priscila se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. - Três. - Disse por fim, vendo Any tomar impulso e, com a ajuda do leve puxão de Sabina, a garota ficou em pé.

Any olhou para as próprias pernas sentindo-se diferente, bem distinta do que algum dia já se sentiu. Seus olhos umedeceram e um enorme sorriso preencheu-lhe o rosto, fazendo Sabina acompanhar a expressão.

- Eu estou em pé, Bina... - Any disse ainda incrédula. Sabia que não sairia andando por aí, que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Claro que sabia! Sabina já havia lhe explicado, mas o fato de conseguir se sustentar sobre seu próprio peso era magnífico e ela não podia medir a amplitude de seus sentimentos.

Sabina sorria diante da emoção no rosto de Any e de Priscila, mas as borboletas em seu estômago vieram lhe visitar assim que Any apertou mais suas mãos e a puxou para mais perto. Seu rosto se levantou alguns centímetros e seus olhos subiram, acompanhando seus cílios, apenas para encontrar as orbes castanhas fixadas em si, tão cintilantes quanto nunca. Sabina estava em uma espécie de transe, até ouvir Any dizer algo novamente:

- Eu sou quase do seu tamanho. - Any disse sorrindo singelamente, fazendo Sabina engolir em seco devido à proximidade das duas.

Claro que ela não beijaria Any ou vice-versa, não ainda sequer trocado outro selinho depois do primeiro e, mesmo que tivessem, ela tinha a plena ciência de Priscila as vigiando. O que fazia Sabina sentir sua pressão baixar foi a sensação de Any em pé tão perto; uma real e clara melhoria; uma sinal de que as coisas não estavam estacadas.

- Sim, não é muito difícil ser do meu tamanho, sabe? Levando em conta que não sou tão alta. - Sabina disse rindo suavemente, sentindo Any se
agarrar mais em si como apoio.

- Eu sempre imaginei que eu seria mais baixa. - Any disse sorrindo. - Você continua linda daqui de baixo.

Certo, ainda havia momentos onde Sabina enrubescia fortemente ante aos elogios de Any. Eram elogios inocentes, mas que faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pigarro de Priscila fez Sabina corar ainda mais, focando no que realmente devia.

- Certo, vou para trás de você e te guiar. - Sabina disse, segurando a cintura de Any e indo para trás dela. A menor empurrou um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da maior, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. - Segure nas barras, Elly. - E assim a menina fez, levando suas mãos negras até as barras.

- Eu realmente sustento meu próprio corpo com os braços. - Any disse entusiasmada, vendo que Sabina não era nada mais que um apoio.

- Agora quero ande. - Sabina pediu. - Aplique todo o peso que suas pernas aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.

- Você vai ficar aí, não é? - Any perguntou. - Mamãe, eu vou andar! - Exclamou com entusiasmo.

- Vou ficar com você todo o tempo. - Sabina disse, esperando Priscila dar um beijo no rosto da filha por cima da barra antes de se afastar de novo.

Durante todo o tempo Any fez todos os exercícios sem reclamar, colocando máximo empenho em tudo, mas houve uma hora em que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito.

Sabina soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Any parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Sabina e plantar um beijo sobre a delicada pele.

- Obrigada, Bina. - Pediu alegremente, fazendo Sabina sorrir diante do gesto.

- Obrigada você por tentar. Agora preciso continuar o trabalho, tenho mais alguns pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã. - Sabina disse, pois já fazia parte de sua rotina visitar Any e Priscila todos os dias. - Fiquem com Deus. - Sabina disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Any, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.

Sabina corou assim que se afastou e seus olhos automaticamente foram para Priscila. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.

- Huh. eu.. - O riso calmo de Priscila contradizia o aparente constrangimento em seu rosto.

- Vá, querida. Está tudo bem. - Priscila disse e Sabina assentiu, segurando a mão de Any e depositando um beijo ali.

- Nos vemos, princesinha. - Disse sutilmente, vendo Any assentir freneticamente.

- Até amanhã, Bina. - Any disse, fazendo Sabina sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado.

Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.

Em um piscar de olhos || SabianyOnde histórias criam vida. Descubra agora