Seus dedos frios

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Ainda fraca me levando e corro o resto do caminho até a casa. Dou a volta e não entro pela porta da frente, quero ser o mais discreta possível.

Tiro os meus sapatos que estão cheios de gasolina. Vão sujar o chão da casa. Fui o mais rápido possível para o meu quarto, ouvindo o piso de madeira ranger com os meus pés de meia o caminho todo até lá.

Sento em posição fetal entre o vão da cama com a parede, ninguém pode me ver facilmente aqui, e começo a chorar. Não sei de onde meu corpo ainda tira energia para chorar, estou tão exausta, mas se eu reprimir vai ser pior, então me permito sentir a dor.

Vejo as botas cheias de gasolina e começo a relembrar involuntariamente das cenas e sentir meu corpo inteiro estremecer, até que ouço passos e levanto cabeça. Era Ray.

Ao me ver desse jeito ele para do meio do caminho com uma cara de incompreensível, mas logo depois se recompõe e caminha até sentar-se ao meu lado.

- Pelo visto o negócio não foi bom. - Diz ele tentando aliviar o clima.

Eu fico em silêncio tentando parar de chorar. Como assim não foi bom? Foi péssimo. Eu vi coisas e ainda voltei toda machucada e suja.

Eu não sei o que fazer, mas precisava fazer algo. Precisava me limpar, trocar de roupa e sumir com as rasgadas , limpar minhas botas e os meus machucados. Mas não sabia por onde começar. Não sabia nem oque pensar. Eu estava tremendo, eu sabia que eu estava ferrada e que mama ai me mat-

- Marci. - O Ray diz com uma voz delicada. - Eu não sei oque aconteceu, mas te prometo que estamos juntos nessa. Ok? - Sua voz estava doce, e por incrível que pareça isso me acalmou de uma forma que nem eu esperava.

- Ray, a Conny... - Eu não podia acreditar que estava pronunciando aquelas palavras - Ela está morta. Eu vi... muitas coisa além do portão.

- Oque? A Conny está morta? Oque você viu? - Sua voz está calma.

- Ha-haviam demônios. - As lágrimas começaram a ficar mais intensas ao relembrar - E... E a mama estava lá também.

- A Mama? Como assim, Marci? Me explica isso direito - Ao ver que insistir só me deixaria mais confusa e triste ele optou pelo silêncio.

Seus braços me envolveram em um abraço carinhoso e encostei minha cabeça no ombro dele. Minhas lágrimas umedeceram suas roupas e ele acariciava meus cabelos. Minhas mãos tremulas agarram suas costas. Ficamos assim por pouco tempo até ele se soltar do abraço e segurar minhas mãos e se levantar.

- Vamos. Preciso dar um jeito em você antes que a mama chegue. - Ele me puxou para cima com cautela - Vou te levar para enfermaria.

Saímos do quarto cuidadosamente para que ninguém nos visse e fomo para enfermaria. Chegando lá Ray tranca a portar com a chave que ele encontrou escondida em um lugar secreto.

- Tira a blusa. - Ray diz se virando para mim.

- Oque? - Digo raciocinando o que ele acabou que falar.

- Suas costas estão arranhadas. Preciso que você tire a blusa para eu cuidar disso.

Me viro de costas e começo a desabotoar a blusa, enquanto isso ouço o Ray mexendo nos vidros de remédios e caixas de primeiros socorros com esparadrapos e bandagens. Não tiro a blusa totalmente, e deixo ela apoiada na minha cintura.

- Seu bustiê está em cima da ferida. Eu vou desabotoa lo, ok? - Ray diz enquanto examina minhas costas.

- Tudo bem. - Digo com a voz tremula e baixa.

Sinto o tecido do bustiê ceder e seus dedos frios tocarem minha pele . Logo sinto o arder dos remédios e as bandagens com essências aliviando a ardência.

- Ok está pronto. - Sua voz quebra o silencio - Não fiz algo muito elaborado, pois é melhor você tomar outro banho para poder tirar o cheiro de gasolina. Tome. - Ele me entregou uma toalha, roupas limpas e uma bota nova que estavam guardadas em um dos armários - Use a toalha para cobrir as costas rasgadas. Eu vou dar um jeito de sumir com a bota, e quando acabar o banho, sumo com as roupas.

Ele segura minha mão como se fosse um sinal para me dar forças e eu não sei de onde um sorriso sai dos meus lábios.

Sai da enfermaria atravessei o corredor e fui passar pela cozinha, estava quase na outra porta quando Chris passa correndo com um prato de sopa na mão. Ele corre com seus pezinhos e tropeça bem na minha frente derrubando toda a sopa em mim.

- Oh não. - Diz ele com uma voz fofa e melancólica - Me desculpa, Marci. Eu não queria fazer isso.

Por algum motivo o fato de eu pode ver Chris vivo e saudável na minha frente me deixou extremamente feliz.

- Tudo bem, Chris - Digo acariciando seus cabelos. - Agora parece que preciso tomas um banho, né? - Digo tentando disfarçar a minha tristeza eminente e ele dá uma risadinha fofa. - Bom agora eu vou pro banheiro e você vai pegar as coisas para limpar isso, ok?

- Ok! - Diz ele animado e indo em direção ao armário de limpezas

Vou para o banheiro e a água quente me relaxa fazendo meus pensamentos fluírem e se organizarem. Por quê a mama faz isso? Por quê tinha que ser a Conny? Por quê o Ray reagiu tão "bem" a tudo isso? Nenhuma lágrima escorreu do rosto dele. Talvez o choque não deixasse. Pensar nisso me faz me sentir mal, talvez se eu mudasse o ambiente eu pensasse em outras coisas, então acabei o banho, me vesti e fui para a enfermaria novamente.

°°°

Oque será que o Ray tá escondendo, hein?

Talvez ele ainda seja um traidor nessa fic, hein.

Promessas Nunca se Cumprem - Ray x LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora