Capítulo 4 - Azriel (Parte 2)

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Permaneci quieto, esperando pacientemente até que nenhum som fosse escutado, a não ser as rajadas de vento que ameaçavam derrubar a casa da curandeira. Respirei fundo e, silenciosamente, comecei a colocar o meu plano em prática. Me levantei da velha cama, com as minhas pernas fraquejadas. Já passei por coisas piores. Aguento isso.

Sem fazer barulho algum, caminhei com cuidado até a porta, com as minhas asas se arrastando pelo chão gelado. Girei a maçaneta cautelosamente, enfim fazendo o pedaço de madeira se abrir e então passei por ela. A casa estava completamente iluminada por mais velas, facilitando com que eu visse os móveis simples, assim como a estrutura humilde da construção. Isso me lembrava da Casa na Cidade.

A mulher provavelmente vivia sozinha nesse lugar. Andei em direção à mesinha de centro rústica de frente para o sofá vermelho sangue, onde a minha armadura estava. Mal estou conseguindo ficar em pé direito, então carregar essa armadura pesada só vai dificultar tudo. Pego meus sifões, que brilham em azul quando os toco, e os visto com rapidez. Assim, pego também a Reveladora da Verdade e a prendo no meu cinto.

Com certeza está um frio do caralho lá fora, mas vou ter que arriscar. Ando para a porta principal da mesma forma que o quarto, que fica embaixo da escada que dá para o segundo andar da cabana. Dessa forma, uma rajada de vento gelado atinge o meu peito nu, fazendo com que todos os meus pelos do meu corpo se arrepiem de forma instantânea. Lutei contra o instinto de desistir e coloquei o meu pé direito para fora da casa.

Desci a pequena escada e caminhei pelo caminho de pedras de maneira oposta para onde ele levava. Alguns metros a frente, me deparei com uma estátua gigante de pedra da Mãe nos limites da casa. Isso é esquisito. Balancei a minha cabeça, tentando me concentrar, enquanto a neve me chicoteava de forma brutal. Achei que não conseguiria sequer chegar a floresta, mas a cabana da mulher curandeira era perto da Muralha. Então, foi mais fácil do que pensei.

Sabendo que poderia me arrepender disso futuramente, coloquei a Reveladora da Verdade entre os dentes e em um único movimento, retirei as agulhas que me impediam de sentir as minhas asas. A dor de milhares de cacos de vidros pequenos sendo arremessados em mim percorreu as minhas costas. Merda. Que dor. Fechei os olhos, tentando absorver aquilo de uma vez só. Parece que tem um animal com presas e garras afiadas rasgando aos poucos as minhas asas para me torturar.

Ao mesmo tempo em que tentei erguer uma das asas, a dor se quadriplicou e tive respirar fundo para conter algumas lágrimas. Caí de joelhos na neve gelada, enquanto pequenos flocos caiam sobre mim, de alguma forma, isso estava ajudando. Tirei a minha adaga de entre os dentes e olhei para a Muralha com desgosto. Assim, escutei um barulho de galhos se partindo, perto de mim.

Virei o rosto na direção do som e logo, risos de criaturinhas animalescas explodiram do outro lado. Ainda ajoelhado na neve, segurei a minha única arma pelo cabo com força e apontei para a parte escura da floresta humana. Não vou ser feito de presa dessa vez. Meus sifões brilharam em um tom mais forte de azul e as minhas sombras se agitaram, nervosas e ansiosas. Podem vir para cima suas criaturas imundas.

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