Capítulo 2 - Lizzie

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Como era possível alguém ser tão bonito desse jeito? Me encantei no segundo que vi seus olhos cor de âmbar e do rosto perfeito. Mas em contrapartida, como alguém era tão pesado? Claro que não deveria me apaixonar a primeira vista, ele poderia ser o macho mais podre que já pisou em Pythian, mesmo tendo essa beleza sombria. Fora que agora, ele era meu paciente. Admito, um dos maiores esforços que fiz durante esses meus dezenove anos de existência foi carregá-lo da Muralha até em casa, apesar de serem apenas alguns metros de distância um do outro.

Eu tinha saído com a Honey, minha irmã mais nova, para pegar um pouco de lenha e deixá-la sair um pouco de casa, quando essa tora, que muitos chamariam de illyriano, caiu dos céus, logo depois de outros corpos esquisitos também terem despencado. Minha curiosidade atiçava cada vez mais para saber quem era ele. Porém, eu era uma curandeira, ou seja, deveria salvar vidas independentemente da raça, gênero, religião, ideologia e, principalmente, beleza.

Já tinham se passado cerca de duas horas que eu estava cuidando do musculoso inconsciente. Consegui fazer uma mistura com as minhas plantas e meus poderes para criar uma segunda pele para ajudar na cicatrização das suas asas e retirei o veneno de seu corpo com as minhas habilidades curativas. Então, enviei uma carta para a Madame, pedindo a ela que ficasse com Honey até o macho acordar e aqui se tornar seguro novamente.

Estou sentada numa das cadeiras de madeira escura da minha mesa de madeira rústica. Tinha uma quantidade excessiva de flores recém-colhidas espalhada por ela que me faziam querer ter um ataque de nervos por saber que teria que arrumar isso, mas era mais importante eu me focar no meu chá de camomila que estou bebendo e esperar pela a melhora do paciente.

Minha casa é aconchegante, apesar de pequena e "feia" aos olhos dos outros humanos. Porém, me sinto livre aqui dentro, como nunca me senti antes. Do lado de fora, tenho um jardim só meu e que planto qualquer coisa que queira. Adoro quando chega as épocas de colheita e posso me preparar para a próxima temporada. 

A sala de jantar (onde estou), a sala de estar e a cozinha são unidas pela a falta de paredes. Os únicos cômodos do primeiro andar são a minha sala de conversas, que só serve para quando a Madame está aqui em casa e temos que ter privacidade, e o meu "consultório". Pelo menos assim, pude e posso manter meus olhos atentos em tudo o que acontece aqui. Uma vez, consegui ver um dos garotos que vêm à minha casa atear pedras nela e gritar: "Vá embora bruxa!". Dessa forma, pude o assustar com a estátua da Mãe, que mantenho na entrada de casa para afugentar Night Walkers. Nunca mais ví o desgraçadinho aqui de novo.  

Nunca cobrei nada de nenhum dos meus pacientes, nem mesmo uma única maçã. O que ganho são apenas "oferendas" das pessoas dessa vila que ficam tão agradecidas que me entregam dinheiro (fora o dinheiro que ganho da horta). Além do mais, não tenho dinheiro, já que tudo o que recebo vai para um fundo protegido e direcionado para a Honey. Quando ela crescer, vai poder viajar o mundo e ser independe de qualquer marido.

Às vezes, tenho que me acalmar e me lembrar que ela só tem cinco anos. Relaxa. Dei mais um gole no chá, respirando o cheiro adocicado da camomila e sentindo seu vapor esquentar as minhas bochechas. De repente, vejo meu corvo, Dorian, atravessar a sala de jantar em um rasante e pousar na minha frente, com uma carta presa em uma das patas. Delicadamente, coloco a xícara de porcelana em cima do pires e pego a mensagem da Madame.

"Minha querida, Lizzie. Seria um prazer ficar com a Honey, vou passar aí em alguns minutos com a minha nova carruagem com mais detalhes de ouro do que a anterior. E sim, eu comprei outra. Se quiser, tem mais um lugar para você."

Por um instante, parei para refletir na oferta, mas meus olhos se voltam para o cômodo embaixo da escada, em que costumo atender os meus pacientes, onde tinha um macho seminu, alado e desmaiado. Por sorte, o desarmei e mantive todo e qualquer objeto afiado dentro do meu quarto no segundo andar. Não tenho a intenção nenhuma de roubá-lo, apenas evitar que ele faça mais uma vítima, no caso eu. Acariciei o topo da cabeça de Dorian como agradecimento. Que a Mãe me ajude.

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Me desculpem algum erro de ortografia, vou tentar melhorar, e espero que tenham gostado. Pq estou planejando muitas tretas. Bjs!   

Corte de Sombras & CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora