Capítulo 17 - Lizzie

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- Ai! - o gemido de dor de Azriel ecoou pelo o pequeno cômodo iluminado com uma das velas.

- Fique parado, se não vai doer mais - o aviso, tentando permanecer de joelhos no colchão da cama estreita. Az estava sentado na beira da cama, para que eu pudesse tirar as agulhas dos seus nervos e, consequentemente, das suas asas - Eu sei que você não manda nas suas sombras, mas pode conversar com elas e pedir para não mexerem no meu cabelo? Não estou conseguindo enxergar nada.

- Não é assim que funciona - ele reclama, bufando. Finalmente, consigo tirar o par de agulhas, o fazendo bufar um gemido, misturado a um palavrão - Tem certeza que isso vai funcionar?

- Por que está duvidando de mim justo agora? - o perguntei, segurando levemente a sua grande envergadura para tentar amenizar a sua dor com os meus poderes - Se está doendo é uma boa coisa, seu bebezão.

- Não me chama assim - ele me pede, tentando aliviar o clima. O humor voltou. Isso é melhor ainda.

- Por que? É verdade. 

Assim que termino, desço do colchão, tentando não encostar nas suas asas, mesmo que sem querer. De pé, ajeito a saia da minha roupa, com seus olhos cor-de-âmbar recaindo em mim e as suas sombras ainda tentavam me puxar para mais perto dele, por algum motivo que só elas sabiam. Então, me sentei na cadeira de madeira na sua frente e o encarei.

- Doendo muito? - perguntei a ele, com cuidado e doçura. Azriel assentiu.

Dessa forma, me levantei e caminhei em direção a mesa no fundo da sala. Peguei algumas ervas distintas que planto no meu quintal e as separei nas quantidades corretas na mesa. Por fim, as joguei dentro de uma das xícaras de porcelana e enchi até a borda dela com água quente que trouxe por via das dúvidas. Com uma colher, mexi a mistura, tentando tirar o máximo da essência medicinal das folhas.

Então dei duas batidinhas na beirada da xícara com a colher metálica, a colocando em cima da mesa, e levei a bebida para Az. Ele estava curvado, com os cotovelos apoiados nos joelhos e de cabeça baixa. O illyriano segurou o recipiente e cheirou-o, fazendo uma careta e me encarando logo em seguida com uma careta como se dissesse: "é sério?". Coloquei as mãos nos quadris, fazendo pose.

- Bebe logo, não vai te matar - em um gole, ele terminou com o líquido e fez uma careta como se estivesse horrível. Não vou mentir, isso é muito amargo. Enquanto ele tossia, eu peguei a xícara de volta e a apoiei aos pés da vela, voltando para o meu lugar na sua frente - Acha que consegue mexê-las?

- Talvez - ele disse, desanimado.

- Tá bom, vamos tentar - digo, respirando fundo. Az ajeitou a postura, deixando as mãos apoiadas nos joelhos - Tenta abrir uma e depois a outra.

Ele assentiu. Azriel soltou um suspiro e, aos poucos, a sua asa esquerda começou a se abrir. Ao chegar no seu máximo, eu fiz um sinal com as minhas mãos para que ele a fechasse da mesma forma que fez da primeira vez. Para a minha surpresa, ele havia conseguido completar a tarefa. Abri um sorriso de satisfação. 

"Pelo menos ele não perdeu o movimento das asas", lembro a mim mesma. No entanto, quando ele tentou abrir a outra asa, Azriel fez uma careta de dor ao erguê-la na metade da altura que a primeira havia atingido. Pergunto ao macho se estava tudo bem, o fazendo assentir novamente, derrotado. Coloco uma das minhas mãos no seu joelho, sobre sua mão coberta de cicatrizes. Seus olhos se erguem e vão ao encontro dos meus. Por um instante, juro que vi algo brilhando ali.

- Não tem problema não ter conseguido. Para o seu primeiro dia, você foi muito bem - digo baixinho, com gentileza. Ele abre um sorriso contido e pega a minha mão, dando um beijo nas costas dela.

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