Capítulo 12 - Azriel

1.5K 161 4
                                    

Talvez falar a verdade para a Lizzie não tenha sido a melhor ideia. Eu não falo muito por escolha própria, mas a minha família sempre preferiu que a verdade fosse dita do que uma mentira que poderia arruinar tudo. Por isso, acho que algumas vezes eu sou sincero demais ou digo as coisas que se passam pela a minha cabeça sem pensar como o outro reagiria. E essa foi uma das vezes.

Notavelmente, Lizzie permaneceu irritada, trocando pouquíssimas palavras comigo e trabalhando sozinha nas suas coisas, como lavar os alimentos que colheu e guardá-los em caixas que ficam embaixo da bancada da cozinha. As coisas só pioraram depois que a Honey voltou mais tarde naquele dia. Eu notava que Lizzie forçava um sorriso perto da irmã para que ela não percebesse que havia algo errado e assim que a pequena ia para a escola, a curandeira fechava a cara e voltava a seus afazeres.

Passamos algumas semanas assim, sendo que haviam dois meses que eu estava aqui, e eu acho que foi culpa minha. "Não se envolva", eu continuava a dizer isso para mim mesmo, como se fosse um mantra. Mas todas as noites, depois que todos tinham ido dormir, Honey me procurava para contar mais histórias da Corte Noturna e dos "heróis" illyrianos, as quais eu cresci ouvindo da minha mãe.

Finalmente os meus machucados no meu corpo estavam curados, deixando apenas cicatrizes que formavam uma casquinha irritante (nunca senti essas coisas por causa da minha cura de imortal), então pude usar uma camisa, já que a Lizzie insistiu. Agora, estávamos nós três na sala de estar. Honey estava deitada no chão, desenhando algumas coisas que eu nunca entenderia, Lizzie costurando algo no tecido azul escuro que ela trouxe naquele dia, enquanto estava sentada no sofá, o ocupando quase que por completo. E eu, sentado na poltrona, tentava ler um livro sobre navegações que achei jogado no meu quarto, muito provavelmente pela Honey.

O motivo de eu estar quase jogando esse livro na mesinha de centro, não por ser complicado o bastante para o meu entendimento, eu lia coisas muito mais difíceis diariamente, mas por que meus olhos não queriam se fixar nas palavras, apenas no rosto sombrio e aborrecido de Lizzie. Fora o fato das minhas sombras estarem agitadas, fazendo a minha pele formigar. Em qual momento eu cometi um pecado tão horrível para merecer isso?

De meia em meia hora, Honey se levantava de onde estava e mostrava o desenho para a irmã, que abria um sorriso cansado para a folha de papel e dizia: "está lindo", o tempo todo. Em um determinado momento, Lizzie notou que eu a encarava e soltou um suspiro irritado, falando para a pequena, em um tom gentil e ameaçador:

- Honey, pode terminar o seu desenho lá em cima, com a porta fechada? - a menina a encarou sem entender muita coisa, apenas recolheu o seu carvão e as folhas que estavam espalhadas pelo piso e foi para o seu quarto calada. Assim que a sua porta se fechou, os olhos sombrios e claros de Lizzie se focaram em mim.

- Eu deveria perguntar? - comentei, voltando o olhar para o livro e passando uma de suas páginas.

- Qual o seu problema? - ela me perguntou, continuando a coser o tecido.

- Não sou eu que está com fumaça saindo dos ouvidos por nada - disse, evitando contato visual.

- Não estou irritada por nada - ela me diz, calma e irritada ao mesmo tempo.

- Então por que? - grande erro.

- Por que você acha? - seu tom de voz se elevou um pouco, voltando para o tom normal novamente - Eu sou apenas um acordo para você, não é? Apenas uma maldita marca, que não merece respeito e que você pode usar para o que bem entender. Não é mesmo?

- Eu nunca disse isso - afirmei, elevando os meus olhos para ela. Tinha algo diferente. Seus cabelos que estavam soltos, agora flutuavam baixo, mas a cada bufada raivosa, eles se ajeitavam normalmente.

Corte de Sombras & CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora