San Marco, Califórnia, EUA. 2020
02 de Setembro.
Quarta. 27°CKimberly Reese
Observo de forma preguiçosa os doces na vitrine que se conecta ao balcão rosa, minha boca se enchendo de água, imaginando o quão gostosos devem estar; trabalhar em uma doceria enquanto ama doces é uma tortura.
Tento me distrair voltando a minha atenção para a pulseira de miçangas que estou fazendo, várias pedrinhas em um tom azul-turquesa espalhadas pela superfície. A ponta da minha língua está para fora, do lado esquerdo, enquanto uso toda minha concentração para tentar dar um nó digno na linha que comprei no mercadinho do lado.
A doceria da minha mãe costuma ser bem movimentada durante o dia, visto que ela é uma dos melhores confeiteiros daqui, herdando tudo de vovó; tornando óbvio que o esperado é que, dentre todos os netos da Sra. Reese, eu dê continuidade ao negócio da família.
Mas é isso o que quero?
Vão aceitar caso eu escolha outro caminho?
Continuar com a Doceria Reese’s não é tão ruim, claro. Amo comer doces e até mesmo fazê-los, mas sinto medo de acabar não cozinhando tão bem quanto minha mãe, e de alguma forma, perder tudo, trazendo uma grande onda de desgosto e decepção.
Eu poderia ser surfista… Não, não mesmo. Eu nunca chegaria aos pés de Jessie, minha melhor amiga, nem se eu realmente quisesse. Não desejo que surfe se torne algo obrigatório para mim, gosto de como as coisas são.
Poderia tentar a escrita, não? Bom… tirando o fato de que eu não escrevo há um bom tempo e devo estar muito enferrujada.
Jornalista? Bióloga? Professora? Delegada?
Reviro meus olhos, balanço a cabeça e respiro fundo. Talvez eu possa vender minhas artes na praia.
Aproximo a pulseira, agora finalizada, de meu rosto; procurando algum defeito. A fiz na intenção de entregá-la para Elliot, apesar de não saber muito bem se ele irá gostar.
Endireito minha postura e abaixo minhas mãos, o objeto faz um barulho ao encostar no balcão. Eu deveria mesmo entregar? É provável que Raven já tenha dado algo assim para ele, não é? Argh, eu não quero ser uma trouxa; apesar de que já sou isso em uma boa parte do tempo.
Ouço o pequeno sininho acima da porta tilintar e levanto meu olhar até o garoto de cabelos pretos que adentra o ambiente. Seus olhos um pouco estreitos se movem em minha direção, engolindo as minhas íris castanhas com a escuridão das suas. Lembro de já ter o visto pela escola, mas não sabia que ele morava aqui por perto ou que frequentava as lojas daqui.
Eu diria que ele é uma incógnita. Contido. Tímido. Calado.
Empurro a pulseira para o lado e o espero vir até a frente do balcão, seus olhos passeiam por todos os doces postos em ordem. Apesar de ser uma loja movimentada, os finais de tarde costumam ser mais vazios, então não esperava que algum cliente viesse agora.
— Boa noite, no que posso ajudar? — questiono, atraindo a atenção dele de volta para mim.
O observo engolir em seco e apontar para a vitrine, me afasto um pouco do balcão e abaixo meu olhar.
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Melhores amigos para sempre?
RomantizmKimberly Reese se vê numa enrascada quando começa a sentir algo pelo seu melhor amigo, Elliot Green, que para a sua infelicidade, não está disponível. Por morarem lado a lado, o conhecimento da existência de ambos foi algo natural, previsto. Mas seu...