Todo mundo tem defeito

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Era madrugada, a brisa fria da noite se erguia sobre a floresta sem fim, Yas não conseguia parar de correr, sentia haver olhos por toda parte a observando em meio a escuridão, ouvia tiros ao longe de minuto em minuto, enquanto uma voz persistente ecoava entre às árvores, "EU VOU TE PEGAR" , ela cai assustada e sombras diabólicas começam a cobrir todo o ambiente, agora já não conseguia se mover, levantar ou gritar, estava paralisada, dominada pelo terror, um fedor pútrido toma conta do local, quando em meio às sombras ver algo se movendo, eram seus pais, Melani e Vitor, deformados, parte da pele do rosto de sua mãe estava desgrudada e em carne viva, com o maxilar e os dentes a mostra, era gosmento e repugnante , enquanto seu pai tinha um enorme buraco na cabeça, onde vários bichos de carne se alimentavam entrando e saindo de dentro dele. Ela tentou virar o rosto mas estavam em toda parte, agora já não eram dois, mas vários pais mortos e deformados se alimentando da sua angústia, chegando cada vez mais perto e mais perto.

_ Olivia! Olivia acorda!
Olivia acorda assustada na cama, respira fundo e se sente aliviada, era só um sonho, mais um de seus pesadelos, ela se recompõe e percebe o Gabriel em pé ao seu lado.
_ Tá tudo bem? Você estava gritando sem parar, achei que alguém tivesse invadido a casa ou sei lá.
_ Foi só um pesadelo eu não quis te assustar.
Gabe abaixa a cabeça meio pensativo e preocupado.
_ Quer que eu durma aqui essa noite?
Ela pensa um pouco e vai pro canto da cama dando espaço pra ele.
_ Pode ser, mas se começar a roncar eu te derrubo!
Eles sorriem por um instante
_ Você acha que Tom e Sam me ouviram gritar?
_ Não devia ser preocupar tanto, eles gostam da gente, são nossa família, se lembra?
Olivia olha para o Gabe com um olhar incisivo e persistente.
_ Gabe!
_ Tá, é claro que não ouviram, a casa é tão grande que se caísse um terremoto ninguém ouviria.
Um silêncio frustrante ocorre por um segundo, quando Gabe sorrir
_Piada ruim?
Olivia revira os olhos e dá um leve sorriso.
_ Mas me fala, sobre o que era o pesadelo?

Por um instante tudo parou, a voz do Gabe estava distante e os pensamentos da Olivia vagavam, queria contar tudo para ele, a verdade sobre a morte dos seus pais, a noite interminável correndo pela floresta sombria, contar sobre o seu verdadeiro nome e como um estranho que conheceu na floresta a ajudará, explicar que todos em sua vida arriscaram tudo para que ela estivesse ali com ele, o anjo Gabriel, mas ainda não era a hora.
_ Olivia???
Ela volta em si e ver o Gabe com cara de paisagem esperando uma resposta.
_ Sonhei com essa sua cabeça careca, MEU DEUS, QUE TERROR!
Ela joga um travesseiro nele iniciando uma guerra. Aquela foi a última vez em que eles se entenderam, antes de tudo começar a dar errado.

Téia sempre quis ser amada, o centro das atenções, o que nunca havia sido um problema, mas todos aqueles anos sendo espancada pelo pai deixou esse sentimento ainda mais forte, queria ser reconhecida, deslumbrada por todos, talvez esse fosse o seu maior defeito.

Aos 15 anos Talia conheceu Alisson, ele e o pai haviam se mudado a pouco tempo, Alisson era o faz tudo e Talia figurinista do circo, um típico romance adolescente, se viam varias vezes no dia, ele era carismático, alto e loiro, sempre que sorria deixava ela corada, não demorou muito para que ele a chamasse para sair, estava ansiosa para contar a Téia, correu para o trailer em que morava e deu de cara com ela na cama com uma camisa azul.
_ Aí meu Deus Tete você não vai acreditar, o Alisson me chamou pra sair!
Téia arqueia as sobrancelhas surpresa.
_ O que? Quando?
Talia senta na cama sorrindo.
_ Hoje a noite, ele quer me levar pra ver a queima de fogos na cidade, aposto que vai ser lindo.
Téia sabia que devia ficar feliz por ela mas não era o que sentia, não queria que se afastassem, não queria se sentir sozinha.
_ Calma, não devia ficar tão ansiosa, talvez não seja um encontro.
_ Claro que é, ou será que entendi errado? Você já teve um antes?
_ Já sim, e sei que com tantas dúvidas é melhor esperar um pouco.
Talia pensa por um instante e sorri.
_ Não sei não, ele pareceu ansioso, talvez hoje seja o meu primeiro beijo.
Ela estava com ciúmes demais para deixá-la ir, então decidiu insistir.
_ O primeiro beijo não é tão importante, o que você sente que é.
Talia olha para ela com cara de dúvida.
_ Como assim? Como devo me sentir?
_ Quando beijar a pessoa certa vai sentir o mundo parar de girar, perder o fôlego, se acalmar, é como se nada mais existisse, só você e ela.
_ Que lindo, eu quero muito sentir isso.
Ela respira fundo pensativa.
Téia se aproxima, toca em sua mão e faz uma suave carícia, sobe seu carinho pelo braço até o rosto da Talia a deixando com um olhar de surpresa.
_ Você vai sentir.
Ela chega mais perto e coloca o cabelo da Talia atrás da orelha, segura em sua bochecha, passa o dedo entre os lábios. Talia estava rendida, sem reação, o toque dela era suave e sensual.
_ O que está fazendo?
_ Te mostrando como tem que ser.
Ela não conseguia ver a Téia, mas não precisava, sua respiração estava próxima demais, sentia o toque suave dos seus dedos sobre a pele, o corpo quente dela próximo ao seu, queimava em excitação, como se o tempo tivesse parado, não pensava em nada, apenas em beijá-la.
_ Téia...eu...
Téia a segura pela cintura e empurra o corpo dela na cama, acaricia sua barriga por baixo da camisa subindo até os seios. Talia mal conseguia respirar, estava extasiada, ansiava por mais.
_ É isso que você deve sentir.

Talia não foi para o encontro aquela noite, deixando o Alisson esperando, sozinho e magoado.
Ela sempre foi fiel demais as pessoas e talvez esse fosse seu maior defeito. De alguma forma sentiu que ficar com outra pessoa seria uma traição com a Téia, jamais trairia quem amava.
Eu poderia dizer que Téia sentia o mesmo, ou que era só uma brincadeira em um dia ruim, mas não, ela não queria a Talia, só a sua completa devoção.

Anos depois Téia conhecia Ronald, um jovem cozinheiro no Circo, musculoso, moreno e sensual. Uma paixão que para Talia era hipocrisia e para Téia magia.

Dias atuais - Circo Estrelado

Martha se apressa para ir ao mercado, queria comprar algumas coisas antes de anoitecer, a cidade já não era tão segura quanto antes.
_ Téia anda logo!
Téia corre pra se vestir, costumava cobrir todo o seu corpo fora de casa para não assustar as pessoas com a invisibilidade, ela veste um moletom preto, uma calça jeans e um tênis branco as pressas.
Talia cozinhava meio triste e pensativa quando se assustou.
_ Tata! Você ouviu? Se o Ronald vir me procurar diz que eu já volto, combinamos de sair mais tarde.
Ela assente com a cabeça.
Téia coloca o capuz do casaco e corre para o carro com a Martha.

Mais tarde enquanto tomava banho Talia escutou alguém batendo a porta.
Toc! Toc! Toc!
_ Já vai!
Toc! Toc!
_ Espera, eu já tô indo!
Ela desliga o chuveiro e se enrola na toalha as pressas.
_ Droga! Tinha que ser agora?
Corre para a porta.
_ Quem é?
_ Ronald, combinei de sair com a Téia hoje, ela tá aí?
Talia revira os olhos e respira fundo cochichando, " Tinha que ser ele ".
_ Não, ela saiu com minha mãe mas logo vai voltar.
_ Pode abrir a porta? Tá meio frio aqui fora.
_ Tá, só espera um minuto.
_ Não demora por favor.
Ela pega uma camisa azul e um short de cetim branco que estava sobre o sofá veste às pressas e abre a porta.
Ronald tremia de frio usando um conjunto social com um terno preto que Talia julgou ser ridículo.
_ Pode entrar.
_ Obrigado.
Ele se senta no sofá e ela fecha a porta.

Enquanto isso, voltando para casa Téia tinha uma conversa confusa sobre segurança com a Martha.

_ Eu falo sério filha, não pense que estou brincando, você é diferente de um jeito que as pessoas não entendem.
Ela dá de ombros e abre as mãos sentindo ter ouvido o óbvio.
_ É claro que sou mãe, mas todo mundo no circo é.
_ Você não é mais criança Téia, nada no circo é real, ninguém consegue se contorcer sem ter quebrado alguns ossos ou se transformar em um Gorila, é tudo ilusão e você sabe.
_ Ainda assim, as pessoas no circo só querem ser vistas, assim como eu, qual o problema?
Martha faz que não com a cabeça e insiste.
_ Você sabe porque a Talia nunca viu a avó? Sabe como ela morreu?
Téia franzi o celho confusa.
_ Você nunca fala sobre isso, o que aconteceu?
_ O nome dela era Cecil, ela tinha um dom assim como você, podia controlar as plantas, fazia tudo surgir do nada, flores, frutas e árvores.
_ Que lindo.
_ Não, não era! Era perigoso e irresponsável usar isso fora do circo, as pessoas observam Téia, e nem todas são boas, no início acharam que era só uma ilusão, ela se mudou pro circo e tudo parecia um espetáculo, foi quando descobriram, souberam que era real e vieram atrás dela.
_ Quem? O que fizeram?
_ A caçaram, queriam saber de tudo, como conseguia fazer e qual era a extensão do seu poder, perguntaram para todos no circo mas graças ao meu irmão conseguimos fugir, minha mãe me entregou pro Sebastian quando eu tinha 15 anos.
_ E o que fizeram com seu irmão e sua mãe, você nunca mais os viu?
_ Eles mataram o meu irmão, e a minha mãe... Ela...
Martha para o carro no acostamento, respira fundo e fecha os olhos por um instante.
_ Eles se rotulam os CEM, são rápidos, perigosos e se infiltram em todos os lugares, só estou te dizendo isso porque precisa tomar cuidado, não posso te proteger pra sempre, não posso te proteger deles.

Elas seguiram em silêncio por toda viagem, Téia não conseguia parar de pensar na história da Cecil, perseguida e julgada por ser diferente, assim como ela.

Chegando em casa desceu do carro ansiosa para abraçar Talia, estava assustada e com medo, só queria um ombro amigo agora, uma das únicas pessoas que a amava de verdade, mas quando abriu a porta não acreditou no que viu.
Talia e Ronald agarrados! Ele apertava a bunda dela por baixo do short de cetim enquanto a beijava.
_ QUE PORRA É ESSA?!

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