Minha Pequena Família

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Aviso: 'Há um hot no capítulo. Se cenas assim provocam algum desconforto, esteja avisado do conteúdo. Mas não poderia passar a oportunidade, afinal Jake estava esperando no apartamento

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Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição

Onde tudo nos quebra e emudece

Onde tudo nos mente e nos separa.

(...)

Para ti eu criarei um dia puro

Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

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      Após encontrar um arquivo com diversas fotos de Noah ao longo dos anos, além de vídeos de ensaios e um pequeno concerto, Jake sorriu. Ainda não conseguia acreditar no que a vida lhe reservara: uma pequena família. Era algo completamente inesperado para um homem habituado à solidão, e que preferiu não encarar os seus sentimentos por medo da vulnerabilidade.

      De fato, ele ainda se sentia bastante vulnerável. Desejava protegê-los a qualquer custo, mas era confrontado com as suas limitações. No entanto, a vontade de reunir a sua inesperada —  e já tão amada família — dava-lhe uma força e coragem surpreendentes. Seu coração estava repleto de amor por Julia e por aquele menino, que ainda não conhecia.  Eles exerciam um poder de grilhões sobre o seu espírito. Era um amor tão forte que fez Jake revisar os seus próprios conceitos. Não continuaria a ser o seu próprio carrasco e negar dádiva de um sentimento tão profundo, especialmente em uma terra de pessoas anestesiadas pelo ódio.

      Até o apartamento de Julia trazia emoções novas a Jake.  Quando achava ser impossível que ela o fascinasse ainda mais, percebia o quanto estava equivocado. A fascinação apenas crescia.  Todos os pertences dela eram aconchegantes, parecendo que já morava uma família ali. Não dava vontade de sair.  Lamentou-se ao lembrar que ela desejou a vida inteira ter um animal de estimação, mas que nunca foi autorizado.  Ele defrontava-se com um sentimento de pertencimento e uma vontade enorme de compartilhar sua vida com ela e cuidar do menino. Almejava uma rotina simples, delineada, mas repleta de afeto e significativa. Imergiu-se em pensamentos, comprometendo a lutar pela sua família e pelo sonho das pessoas boas de Duskwood.  O que adiantava o poder do Donfort e Haile se era a custo de sangue e dor? Aqueles malditos homens nunca experimentariam a plenitude de um amor, como Julia ensinara a ele, e a liberdade de uma consciência limpa.

      Depois de refletir por um tempo, Jake analisou calmamente as fotos, os vídeos, e os dados de Noah. Sentiu uma tristeza muito grande por ter perdido todas aquelas fases e uma raiva imensa de Cleo e Miranda.

      Para fazer justiça, ele enviou mensagens aos hackers aliados, que faziam parte da Resistência, autorizando o ataque cibernético em massa à Fundação Rosenberg, comandado por Miranda e o marido Axel Rosenberg. Havia chegado o momento da família apoiadora do Governo, que usava a filantropia para mascarar fins torpes e corruptos, ser devastada. Não queria que sobrasse pedra sobre pedra. Finalmente os dados confidenciais e escusos da Fundação seriam divulgados à população.

      O líder da Resistência sabia que para derrubar o Governo, o grupo deveria atingir os pilares que o sustentavam, e a Fundação da Miranda era uma delas. O ataque fora planejado há algum tempo. Os hackers tinham provas de que a organização estaria envolvida com os sequestros de crianças e a adoção ilegal. Assim como aconteceu em outras Ditaduras, como a de Pinochet no Chile, outras meninas e meninos, a exemplo de Noah, tiveram a identidade roubada. Além disso, Jake acreditava que chegaria a provas inequívocas da origem de Julia.

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