2- Você já sentiu como se sua alma fosse maior que o seu corpo?

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A segunda semana de aula havia acabado. Mas por outro lado, a angústia inexplicável que em mim habita está longe de ver seu fim. Ah, meu doce chá de camomila, obrigado por sempre me ouvir e encarar minhas reclamações matinais.
Assim que termino meu açucarado café da manhã, ouço meu telefone tocar do quarto, logo me levanto e vou até o cômodo onde ele está.
Era Kaworu, o que já era esperado considerando que 90% das ligações que eu recebo são dele.

- Bom dia, Shinji!

- Oi Kaworu, bom dia. O que te faz me ligar essa hora?

- Ah, é que eu estava pensando em te convidar para sair para algum lugar. O que acha?

- Para onde?

- Não sei, você decide! Pode levar a Asuka também!

- Acho difícil ela aceitar sair com nós.

- Mas e você? Aceita?

- Claro, por que não?

- Ótimo. Passo na sua casa às 17:00.

- Ok, até depois.

Eu... não sei por que, mas me sinto bem quando Kaworu age assim. Não sei explicar, acho que é bom sentir que há alguém que se importa comigo. Me faz sentir... especial.
Convidei a Asuka para sair comigo e com Kaworu, mas como esperado ela não aceitou, e depois começou a falar alguma coisa sobre a "noite das garotas" na casa de uma colega de turma ou algo do tipo. Não sei bem, eu não estava prestando muita atenção.
Admito que fiquei contando as horas para que chegasse 17:00. Eu realmente estava entediado. Então, às 16:55, ouço a campainha tocar, era Kaworu, eu tinha certeza.
Abro a porta e lá estava ele, com seu olhar gentil e cabelo da cor de um céu nublado.

- Que bom te ver Shinji! Você está bem?

- S-sim, estou. 

Kaworu não fala nada, responde apenas com um sorriso.
Naquele momento ficamos apenas nos encarando por uns 5 segundos, que por algum motivo, pareceram vários e vários minutos.

- Você está pronto? Podemos ir? - Pergunta Kaworu com sua voz calma e composta.

- Espere um pouco, vou trocar de camiseta!

8 minutos haviam se passado, Kaworu e eu já havíamos deixado meu prédio, estávamos andando na calçada, ainda decidindo para onde nós iríamos.

- Então Shinji, pensou em algum lugar para nós irmos?

- Na verdade não... nada me veio em mente.

- Entendo. Nesse caso, me siga.

- Você já tinha algo em mente desde o começo, não tinha?

- Talvez. - Diz Kaworu, após dar uma pequena risada.

Após caminharmos por cerca de 15 minutos, chegamos ao local onde Kaworu havia me guiado.
A praia.
Estava bem na hora do pôr do sol, é claro que ele pensou nisso.
No momento em que meus pés descalços tocaram aquela areia macia, eu senti algo difícil de explicar, um sentimento espontâneo, que eu não sentia há muito tempo. Alegria. Eu estava alegre, eu estava empolgado com aquilo.
Eu e Kaworu então sentamos na areia e começamos a assistir o começo de um majestoso pôr do sol. Aquele momento foi... inexplicavelmente calmo e relaxante, é como se eu pudesse esquecer da escuridão enorme que vive dentro de mim.

- Kaworu, obrigado.

- Como assim?

- Obrigado por me trazer até aqui... e por me fazer companhia.

- Não precisa me agradecer, Shinji. - Sorri.
Somos amigos afinal, eu gosto de te ver feliz, e nesse momento, você parece feliz.

- Acho que eu estou. - Respondo, com os olhos fechados e um sorriso tímido.

Por mais alguns minutos, nós dois ficamos apenas encarando aquele pôr do sol, em silêncio.
De repente, esse silêncio é quebrado por Kaworu.

- Shinji.

- An? O que foi?

- Por acaso você já sentiu como se sua alma fosse muito maior que o seu corpo?

Fico em silêncio por alguns segundos.

- Eu... não sei se entendi sua pergunta.

- Sabe... como se sua alma quisesse fazer algo, mas seu pequeno e limitado corpo a impede.

- Na verdade sim, acho que já me senti assim várias vezes. - Digo, hesitante.

- Você não acha que seria melhor para todos nós se nossos corpos fossem do tamanho das nossas almas?

Eu tentava acompanhar o raciocínio do Kaworu, mas as vezes eu não conseguia. Ele é sempre tão culto.

- É... acho que sim.

- Por acaso eu estou falando de demais? Me desculpe.

- O quê? Não! Na verdade eu gosto de te ouvir falando, Kaworu.

- É mesmo? Fico feliz. Obrigado por me ouvir, Shinji. - Sorri.

Viro a cabeça para frente enquanto os raios solares prestes a desaparecer atingem meu rosto.

- Isso não é lindo? - Pergunto com uma voz suave.

- O pôr do sol? Com certeza é.

- Nunca pensei que me sentiria assim assistindo a um pôr do sol. Acho que eu sempre estive acostumado com esse evento, então nunca me importei tanto.

- Você já parou pra pensar em quantas coisas na vida nós deixamos de aproveitar pois já nos acostumamos com aquilo?

- Nunca havia pensado nisso. Quer dizer... será que as pessoas que moram na Islândia estão acostumadas com a aurora boreal?

- Acho que você está começando a me entender, Shinji. - Diz com um tom de voz contente, após virar a cabeça na minha direção.

Então eu calmamente deito na areia, aproveitando os últimos segundos daqueles raios de sol iluminando meu rosto. Kaworu, sem falar nada, também se deita logo depois de mim.
2 minutos depois, quando os raios do sol haviam desaparecido e nós dois estávamos cercados por uma quase total escuridão, nós nos levantamos e começamos a caminhar de volta para casa.
Durante o trajeto, não trocamos uma única palavra um com o outro. Mas no meio de todo aquele silêncio, eu sentia que algo entre mim e ele havia mudado. Ficamos mais próximos, acho que estou começando a entendê-lo.
É como se... nossas almas tivessem se aproximado.
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Soulmate [KawoShin]Onde histórias criam vida. Descubra agora