8- Tiro no escuro

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De repente eu sinto um toque inesperado no meu ombro. Kaworu colocava sua toalha sobre mim, provavelmente após perceber que eu estava me tremendo um pouco. Eu levo um pequeno susto com seu toque repentino, então olho para ele e seu rosto está diferente. Não só o rosto, seu jeito está diferente! Geralmente o Kaworu parece seguro e confiante em tudo o que faz, mas naquele momento ele parecia diferente, estava mais tímido, pode ser impressão minha mas suas bochechas até pareciam estar vermelhas. Enfim, toda aquela situação era diferente do habitual.
Poucos segundos se passam e eu não sei o que fazer com o ombro suave do Kaworu colado no meu. Ele ainda não havia se mexido, e parecia estar evitando olhar para mim. Para aliviar a tensão que eu sentia no momento, decido mecher um pouco o meu braço e me reposicionar, mas, espera, no momento em que faço isso, acabo colocando minha mão bem em cima da mão do Kaworu, que rapidamente arregala os olhos. Foi um acidente, eu estava apenas tentando desgrudar nossos ombros, e agora estamos nos tocando mais do que já estávamos. Naquele instante meu corpo começou a suar, incluindo minhas mãos. Fiquei preocupado com a possibilidade de que Kaworu sentisse o suor nas minhas palmas, então faço um movimento suave para tirar minha mão de cima da dele e reposicionar ela no meu colo.
Kaworu abre levemente a boca, como se fosse falar algo, mas logo a fecha e deixa que o silêncio permanecesse entre nós dois. Porém, os próximos segundos não seriam como eu imaginava, já que repentinamente, Kaworu vira novamente para mim e começa a aproximar seu rosto do meu, de uma forma hesitante, como se ele fosse voltar atrás a qualquer momento.
Apesar da minha surpresa e confusão naquele instante, algo, dentro de mim, fez meu corpo se inclinar na direção de Kaworu. Estávamos muito próximos, e naquele momento, nós dois nos inclinávamos lentamente em direção ao outro. Sem saber ao certo o que estava acontecendo, nós, ou pelo menos eu, estava apenas seguindo os instintos do meu corpo humano, não tendo conhecimento do que me motivava a realizar tal ação, mas consentindo com ela. Ainda naqueles pouquíssimos segundos restantes para que nossos lábios se chocassem, vejo que os olhos do Kaworu se fecharam, como se ele estivesse entregando os próximos instantes ao além, um tiro no escuro. Os movimentos continuavam até que nossos narizes ficassem a 1 milésimo de entrarem em contato. Eu já conseguia sentir a respiração quente de Kaworu em minha face, meu corpo leve como uma pena que flutua no ar e meus olhos prestes a se fecharem. Então-
Espera, o que eu estava fazendo!?
Naquele exato instante, milésimos antes do que se tornaria um beijo entre mim e Kaworu, meu rosto para de se movimentar em direção a ele. O mais logo possível em seguida, volto a movimentar minha face, mas dessa vez para trás. Havia deixado meu corpo agir por conta própria, sem pensar no que viria em diante. Após curtos instantes, encerro meus movimentos dramaticamente lentos na direção oposta a Kaworu e viro meu rosto de uma vez, de maneira consideravelmente convicta, ao menos, mais do que na maioria das minha ações.
Eu havia voltado a olhar para frente, encarando aquele vasto oceano, que já não era mais iluminado pelas radiantes luzes do sol, mas sim pelo assombroso e distante brilho da lua, que deixava o ambiente tragicamente frio e sinistro.
Viro apenas meus olhos para Kaworu, que naquele momento estava afastando suas pálpebras e lentamente percebendo o que havia acabado de acontecer. Ele então, de forma sutil, ao mesmo tempo que atônita, volta para a posição que estava antes de todo esse momento lentamente rápido e cinematograficamente dramático que havíamos experienciado.

- Kaworu...

- Eu... eu sinto muito. - Diz Kaworu, de forma angustiada, como nunca antes. Em um tom de voz próximo ao sussurro.

Três ou quatro dezenas de segundos após o breve, porém excruciante diálogo, eu me levanto e começo a arrumar as coisas que havíamos trazido, com o objetivo de voltar para casa. Kaworu, em silêncio, faz o mesmo, após observar minha ação.
Nós então iniciamos a caminhada para nossas casas. Assim como da última vez, não trocamos uma única palavra no caminho de volta. Mas, dessa vez, o motivo era diferente. Simplesmente não havia o que dizer. Qualquer tentativa, de ambas as partes, de dizer algo para amenizar a situação desconfortante que experienciávamos, saía de nossas bocas como um silêncio gélido e solitário.
Quando chegamos na frente do meu prédio, paramos nossos passos de forma sincronizada, e eu finalmente ouço a voz do Kaworu.

- Tchau. Se cuida. - Diz, sem olhar em minha direção.

- Tchau. - Digo, após encarar suas costas sem nenhuma expressão identificável em meu rosto.

Então eu pego minha chave, giro ela na fechadura e abro a porta com minha mão esquerda. Em seguida, viro minha cabeça para o lado direito, assistindo Kaworu ir embora, e levando com ele tudo aquilo que poderia ter sido dito.
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Soulmate [KawoShin]Onde histórias criam vida. Descubra agora