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Assistia à TV enquanto batia os pés no chão inquieta­mente. Passeava pelos canais com pressa, tentando encon­trar qualquer notícia relacionada ao seu imenso problema. Mas nada. A única coisa que passava na maldita televisão eram os alertas das autoridades mandando todos os cida­dãos ficarem em casa.

Olhou para o relógio da parede. Já eram oito da noite e ele ainda não havia voltado.

Sua mãe andava de um canto para o outro em passos nervosos, sussurrando coisas inaudíveis para si mesma. Ela estava aflita. Muito aflita.

Seu pai não parava de fazer ligações. Havia ligado para os tios, primos, avós, para praticamente a família in­teira e até para a polícia, mas ninguém dava sequer uma informação útil.

Seu irmão estava ao seu lado enterrado na almofada do sofá, chorando em voz baixa.

O som dos passos nervosos de sua mãe, dos soluços abafados de seu irmão, das reclamações de seu pai no telefone, da voz do apresentador do jornal na televisão e do tic tac do relógio eram enervantes e tornavam aquele momento ainda mais desesperador.


Um som, porém, vindo da entrada da casa foi capaz de se sobressair a todo aquele barulho. Era a porta, que havia acabado de ser aberta. Aberta pela pessoa que tanto esperavam voltar.

Todos correram para vê-lo, muitíssimo preocupados. Abraçaram-no em lágrimas de alívio, beijaram-no e insultaram a falta de cautela que ele teve ao ficar tanto tempo fora de casa.

Começaram a lhe fazer várias perguntas. "Por que demorou tanto, o que aconteceu?" Era o que mais queriam saber.

Mas ele não disse nada. Nem sequer abraçou sua família ou se alegrou com os carinhos que haviam lhe dado. Seus olhos pareciam ter perdido o brilho e sua garganta, perdido a voz.

— O que aconteceu, meu bem? — a mãe perguntou, dessa vez num tom carinhoso.

Ele desviou o olhar, encarando profundamente ochão, enquanto escondia alguma coisa atrás dos braços. 

Após o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora