Do pó viemos, ao pó voltaremos

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Colocou o Blu-ray no DVD player e esperou o aparelho aceitar o disco

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Colocou o Blu-ray no DVD player e esperou o aparelho aceitar o disco. Quando a tela preta da televisão tomou uma coloração azulada, Michael correu e se jogou no sofá de mola, ficando ao lado de Millie. O impacto fez com que o sofá velho saltitasse como louco enquanto soltava um rangido torturador de ouvidos.

— Que saco, Michael, eu já disse que não é pra você fazer isso! —reclamou, dando um murro no peitoral do amigo, que, se ele não fosse um zumbi, teria sentido uma dor bem chata.

— Cala a boca, o filme vai começar.

A logo da Universal apareceu na tela, precedida dos nomes dos produtores do filme. E, em seguida, o título "Back to the Future". Uma logomarca passeava pelos cantos do ecrã — típico de filmes pirateados

Com a extinção da humanidade, também veio a extinção da internet. Todo o conhecimento acumulado por anos na maravilhosa barra de pesquisa do Google simplesmente caiu pelo ralo. Tornou-se inútil.

O celular, que um dia já havia sido uma ferramenta tão vital na vida de um ser humano, agora era só uma peça decorativa para os bolsos das calças. De vez em quando, ele servia para ver o horário — o que não fazia muita diferença em um Apocalipse — ligar a lanterna, bater umas fotos bacanas. Mas, tirando isso, não servia para nada.

Fitas cassete, CDs Blu-ray e todo o tipo de velharia dos anos 80 e 90 que se possa pensar haviam se tornado os novos aparelhos inseparáveis do homem. A frase "do pó viemos, ao pó voltaremos" nunca fez tanto sentido.

De vez em quando — e isso quer dizer quase sempre — Millie e Michael assistiam a alguns filmes antigos que eles encontravam nas caixas do ferro-velho de Serenity.

Um dia, ela encontrou um CD de Madrugada dos Mortos e ficou animadíssima para assistir com Michael. Mas ele era um chato e se recusava a ver. "A gente já vê zumbis todo dia. Por que você vai querer assistir na televisão?"

Millie sabia exatamente o porquê de ele não querer assistir: Michael odiava qualquer coisa que o fizesse lembrar de que ele era um zumbi. Odiava quando sua parceira lhe fazia perguntas sobre sua "anatomia zumbi" — "É sério que você não sente fome? Seu pulmão não funciona mais? E seu coração, ainda bate?" —, e até o simples fato de ela chamá-lo de zumbi.

Millie achava aquilo meio irônico. Parecia que seu parceiro se recusava a aceitar o que ele era. E, olha, se esse era seu objetivo, então aquilo realmente funcionava. Michael podia até ter uma aparência meio decadente, mas seu comportamento definitivamente não era o de um zumbi. Parecia ser algo meio psicossomático.

Millie tinha muita curiosidade para saber o porquê de Michael ser daquele jeito. Zumbis não falam. Não pensam. Não fazem piadas idiotas nem assistem a filmes. Mas Michael fazia tudo isso. Então o que diabos era Michael?

Millie tinha até vontade de lhe perguntar, mas toda vez que ela tentava, seu parceiro não respondia e mudava o rumo da conversa. Às vezes, Millie se perguntava se existiam outros zumbis como ele.

Após o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora