Suspense sádico

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Pensou que fosse Michael entrando no estabelecimento, mas, quando viu, não era ele. Millie limpou as lágrimas e rapidamente se escondeu atrás do balcão.

O som dos passos caminhando sobre o piso de cerâmica lustrado cortava o silêncio de uma forma inquietante. Era como se alguém ali estivesse procurando por Millie, como se soubesse que ela estava ali. A humana levantou um pouquinho os olhos do balcão.

Era um... zumbi? Mas ele não agia como um. Ele andava normalmente, assim como Michael.

O morto-vivo passava seu dedo pelas estantes, como se estivesse tocando em todas as teclas de um piano. Quando acabava de passar em uma estante, ele ia para outra. Em certo momento, ele parou na metade de uma. Ergueu a cabeça e deu duas fungadas, feito um tigre procurando pela presa por meio do cheiro. E a presa, nesse caso, era Millie.

Ela automaticamente baixou a cabeça e voltou a se esconder no balcão. O morto-vivo continuou a passar pelas estantes, uma por uma, calmamente. O som dos passos sobre a cerâmica lustrada e do dedo deslizando sobre a madeira sintética brincavam de forma sádica com o estado de desespero de Millie.

O som da madeira sintética parou. E o coração de Millie parou também. Os passos cerâmicos pareciam se aproximar do caixa. A humana se escondeu ainda mais atrás do balcão. A sombra do zumbi ficou visível a ela.

O morto-vivo novamente cheirou o ar. E outro som surgiu: uma lâmina afiada arranhando com delicadeza a mesa do balcão. Millie engoliu seco.

Um. Dois. Três.

A humana empurrou de costas o balcão, fazendo com que ele derrubasse o morto-vivo. Millie pulou o balcão e saiu correndo para a saída da loja, mas sentiu seu tornozelo ser puxado de volta. Tropeçou e caiu no chão.

Ela sentiu uma dor aguda rasgando a pele sensível de seu tornozelo, o que a fez gritar de dor. Desesperada, ela deu um jeito de se soltar e se afastar do zumbi.

Um rastro de pingos vermelho-vivo se fez enquanto ela se rastejava pelo chão. Era o seu tornozelo, que estava sangrando. Percebeu que a lâmina afiada que o morto-vivo portava estava molhada de sangue também.

Se levantou e tentou correr, mas toda vez que seu pé esquerdo tocava o chão, ela sentia mais sangue sair da incisão de seu tornozelo, acompanhada de uma dor terrível. Tirou da mochila sua pistola e mirou no morto-vivo, que já estava se levantando debaixo do balcão, e apertou o gatilho. Mas nada saiu. Puxou apressadamente o ferrolho da arma várias vezes. Pela terceira vez, ela havia se esquecido de que estava sem balas.

Millie tateou os bolsos, em busca de munição, mas, ao invés disso, ela achou outra coisa: o canivete suíço. Aquilo teria de servir.

Ela se embananou um pouco para tentar descobrir como aquele negócio funcionava. Foi tempo suficiente para o morto-vivo conseguir alcançá-la e empurrá-la con­tra uma estante que estava apoiada na parede.

O morto-vivo foi com tudo com a lâmina para atingir o pescoço da humana. Millie desviou para o lado e a faca acabou ficando cravada na madeira da estante, a alguns centímetros do pescoço dela.

O zumbi rugiu de raiva e tentou tirar a faca da ma­deira. Millie conseguiu dar um jeito de abrir o canivete. Ela fechou os olhos, agarrou a cabeça do oponente e deu um golpe em sua testa.

Ela tirou o canivete do oponente e abriu os olhos de fininho. Ufa, estava morto. Saiu de perto do cadáver e foi até o caixa, mancando a perna. Levantou o balcão e se sen­tou em cima dele.

Olhou para o tornozelo. O corte era feio. O sangue não parava de pingar e ela sentia como se o coração esti­vesse batendo ali naquela região.

Precisaria esperar por Michael antes de retomar a sua jornada. Ele devia ter algum kit médico. Era o tempo de Millie descansar.

Mas não poderia descansar naquele momento. Olhan­do para a rua, Millie percebeu que um zumbi estava caminhando na calçada em direção à loja onde ela estava. Na verdade, não só um zumbi. Dois.

Após o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora