Desculpa por não poder te salvar. Você se foi tão rápido que nem minha fraca mão conseguiu te segurar. Quero que se lembre de cada momento, cada lágrima derrubada, cada sorriso espontâneo e cada queda profunda, embora a dor também faça parte do sentimento.
Você é a pessoa mais forte que eu conheço e não acho narcisismo afirmar. Segurou o mundo com as mãos, mesmo com diversas queimaduras espalhadas pelo corpo.
Um dia uma tal coruja me contou uma história... Em uma noite de outono, sentiu os galhos tremerem sob suas garras, se assustando quando um vento forte e cortante arremessou uma folha branca, na mais profunda coincidência do destino, no tronco mais próximo. O que seria aquilo? A coruja não sabia ler, mas viu os garranchos se disporem no papel de uma forma melancólica. Era uma música? Um poema? Uma carta? Não entendia, mas tinha a certeza de que a dor estava nela. E assim a história terminou.
Inúmeras dúvidas surgiram. Como a coruja poderia saber o sentimento que ali continha sem ao mesmo ler o que estava transposto? Não sabia sequer uma palavra, mas sentiu o que estava lá. Não entendia... Pensei, pensei e, por fim, minha cabeça doeu quando lembrei de você.
Nunca te entendi, mas sempre busquei incansavelmente saber quem é você. Você é a minha mais instigante e emocionante dúvida. Similarmente, depois de um tempo te vi, sem ao menos te ver. Os pensamentos, as palavras ditas e as ações expostas ao mundo nada diziam, o seu verdadeiro eu estava além do que os olhos poderiam visualizar. Foi então que eu enxerguei a dor dentro de ti, tão bem escondida que nem eu mesma reparei a vida toda.
Li sinais e escutei dizeres que eram camadas de um eu recluso.
A coruja tinha razão, sei ler e sou analfabeta, não tinha noção. Espero um dia aprender a ler de verdade e, assim, te ver.
Me desculpa por não te compreender.
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Palavras de um coração perdido
PoetryUm espírito livre preso em correntes de pensamentos. Às vezes a loucura deve ser compartilhada, né?