A Intensidade Dos Seus Olhos | Tsu'tey

Capítulo onze

Tsu'tey e eu corríamos pelos enormes galhos das árvores, meu medo de altura gritava pedindo para que eu chegasse ao solo, porém eu decidi confiar no meu corpo e instintos.

Tsu'tey pulou do galho caindo em direção ao solo, mas usou enormes folhas como apoio para que não caísse. Fiz uma expressão de sofrimento, coloquei as mãos na cintura e respirei fundo.

--- Esse cara é doido. --- Então peguei impulso e pulei. --- Porra!

Um grito escapou da minha garganta na queda. Cai desajeitada sobre as folhas tentando amenizar minha queda e então aterrissei no chão na pose típica de super heróis.

--- Tá legal, eu me recuso a fazer isso de novo. --- Encarei Tsu'tey com os olhos arregalados.

O Omaticaya deixou escapar um riso nasalado e me encarou de volta. Por alguns segundos prendi a respiração e engoli em seco, sustentando o olhar para ele.

--- Você gritou igual uma criancinha. --- Comentou com o sotaque forte, ainda se recuperando da crise de riso.

--- skxawng. --- Revirei os olhos e sorri de lado.

--- Vem, quero te mostrar uma coisa. --- inclinei a cabeça para o lado o encarando.

Ele desviou o olhar e seguiu caminhando pela floresta, suspirei e o segui. Estava quase na hora do eclipse e as plantas ao nosso redor começavam a ganhar um tom colorido neon.

Apressei o passo para andar ao lado do na'vi, juntei minhas mãos nas costas e o olhava disfarçando. Ele me olhou pelo canto dos olhos e suspirou.

--- Pergunta logo. --- Revirou os olhos e eu abri um sorriso vitorioso.

--- Onde você tá me levando?

--- Vai ver quando chegar lá. --- Respondeu como se fosse óbvio.

--- Ah qual é grandão? Fala logo! --- Insisti.

--- Não. Você precisa aprender a esperar. --- Bufei impaciente cruzando os braços.

--- Já falei que você é insuportável? Ah, não falei? Pois então, VOCÊ É INSUPORTÁVEL! --- Gesticulei com as mãos e voltei a cruzar os braços.

--- E você selva de pedra, parece uma criança fazendo birra. --- Falou. --- Olha, já chegamos. --- Ele revirou os olhos.

Parei ao lado dele e olhei em volta, Franzi as sobrancelhas e o encarei confusa.

--- Mas não tem nada aqui?!

--- Observe...

Ele se aproximou de uma árvore e tocou o tronco. Da árvore voou uma espécie de lagarto laranja, em seguida vários desses mesmo lagartos voaram das árvores ao nosso redor, iluminando tudo com sua luz.

--- Isso é lindo! --- Ri fascinada encarando os animais, que voavam pelo céu. --- Por que você me trouxe aqui? --- Me virei para ele o fitando.

--- Ser Na'vi não é só atirar com arco e caçar. Ser Na'vi também é saber admirar as criaturas da Grande Mãe e sua natureza. --- Ele respondeu com os olhos fixos no céu.

--- Sabe grandão, você não é tão insuportável assim. --- Sorri de lado e o encarei.

Tsu'tey me olhou novamente, seus olhos eram intensos, mas eu não conseguia decifra-los naquele momento. Seus olhos amarelo-esverdeados transmitiam um misto de sentimentos. Eu estava tão perdida naqueles olhos, que acabei paralisada.

Um dos lagartos voadores passou bem ao nosso lado, o que me fez despertar do transe. Balancei a cabeça algumas vezes retornando a realidade, engoli em seco e percebi o quanto nós dois estávamos próximos. Dei alguns passos para trás e cocei a garganta um pouco envergonhada.

--- É...Eu acho que devíamos voltar, e-eu não posso, quero dizer, a Grace pode ficar preocupada se eu demorar muito, ela tá pegando no meu pé nos últimos dias. --- Gaguejei qualquer besteira e me virei apontando para a trilha.

--- Tudo bem. --- Disse em tom suave.

O caminho de volta para a aldeia foi silencioso, mas não um silêncio constrangedor, apenas silencioso.

Quando chegamos, todos se encaminhavam para a área da árvore onde eram servidas as refeições. Jake e Neytiri caminhavam juntos para lá, ambos estavam rindo de alguma coisa, enquanto mantiam uma conversa animada. Observei Tsu'tey encarar a cena e fazer uma expressão de desgosto, eu conhecia aquele olhar que o dominou, ele estava com raiva e rancor.

Ele caminhou a passos largos se distanciando de mim, qualquer um podia perceber sua irritação. Suspirei cansada e andei calmamente para pegar meu alimento.

Olhei em volta, Tsu'tey parecia não querer companhia, então decidi me sentar junto de Neytiri e Jake.

--- Oi! E aí, como vai o progresso do cabeça de prego? --- Olhei para Neytiri sorrindo.

--- Está menos pior. --- Jake sorriu orgulhoso. --- Mas ele é teimoso, parece criança. --- Neytiri voltou a dizer e eu ri vendo o sorriso de Jake sumindo.

--- E você recruta zero, como tá indo com o esquentadinho? --- Jake perguntou.

--- É, tá indo tudo bem. As aulas de arco e flecha que minha avó me dava estão mostrando resultado, meu medo de altura tá menos pior e é isso. --- Dei de ombros levando um pedaço de comida a boca.

--- Sua família é de origem indígena né? --- Falou Jake.

--- É, pelo menos o que restou deles. --- Respondi.

--- Indígenas? --- Neytiri nos encarou curiosa.

--- Vocês são os povos nativos de Pandora, viviam com seus costumes e culturas, até os humanos chegarem. Na Terra aconteceu quase a mesma coisa. Existiam povos que chamamos de indígenas, todos tinham suas próprias culturas e crenças, viviam cercados pela natureza e respeitavam a vida, muito parecidos com os Na'vi culturalmente. Tudo acabou quando os homens brancos chegaram, destruíram nossas florestas em busca de território. Disseram que as terras eram deles e dizimaram o povo que vivia lá. As poucas aldeias que sobreviveram, mantiveram o legado e a história sempre consigo. --- Contei um pouco da origem do meu povo, aquela não era uma história feliz para se contar.

Neytiri me encarou com a testa franzida, com uma expressão de compreensão em seu rosto. Segurou minha mão e apertou levemente.

--- Sinto muito por seus antepassados. Entendo o que eles devem ter enfrentado.

--- Obrigada. --- Sorri para ela.

Continuei minha refeição em silêncio, observando as chamas da grande fogueira que iluminava e aquecia o local em que estávamos.

Senti que estava sendo observada e por algum instinto desconhecido, meus olhos foram direcionados automaticamente para Tsu'tey, que me fitava do outro lado das chamas. Sorri sem mostrar os dentes e inclinei a cabeça para o lado o observando curiosa, ele desviou o olhar nos segundos seguintes, voltando sua atenção para o alimento.