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☽【ᗰᵢ𝚗】☾

Ele parecia incomodado ao dizer que lidaria com aquilo sozinho.

Seus olhos brilhantes pareciam ter perdido a cor durante uns instantes, mas logo voltou a sua coloração original.

— Eu vou indo — levantou-se pensativo e seco. Não gostava quando ele ficava assim.

— Até mais — segurei sua mão logo após me levantar — Eu estou aqui — sussurrei em seu ouvido. Só queria que ele me escutasse.

Ele concordou ainda com os olhos baixos e se retirou, Jisung foi logo atrás.

**

— Bomi!!! Por favor! Só te peço isso... — implorei.

— Pareço até sua assistente que fica pra lá e pra cá te ajudando com coisas inúteis — suspirou do outro lado da linha.

— Não é inútil. Eu queria conferir algo, mas preciso das fotos.

— Tá bom! Agora vai logo que você deve estar atrasado — e desliga na minha cara.

Ao menos ela vai me ajudar com isso.

Corri até a sala quase me atrasando. Segundos depois de eu passar pela porta o sinal soou fortemente sinalizando a primeira aula.

— Boa sorte pra vocês — o professor de geometria entra sorridente demais para o meu gosto — Prova surpresa. Limpem a mesa e separem apenas o necessário.

Segundos depois estavam todos esperando a prova ser entregue, quando ele passou entregando as provas senti uma faca sendo cravada no meu abdômen. Minha preocupação nunca me causou tanta dor física quanto agora.

Olhei para conferir se eu realmente não tinha sido perfurado. Eu ainda estava inteiro. Mas não por tanto tempo.

**

— Acabou o tempo, entreguem as provas — eu sentia a pulsação na minha cabeça, aquilo doía e não me permitia focar nas respostas.

Os outros alunos começaram a se levantar e tentei fazer o mesmo, na tentativa de dar o primeiro passo, caí.

Não pude aguentar nem meu próprio peso num momento tão crítico. Eu tinha que entregar aquela prova. Mas ao ver o líquido vermelho se espalhar ao meu redor, e os berros de desespero, percebi que não poderia mais.

**

A luz fazia meus olhos quererem permanecer fechados. Escutei passos apressados e pessoas falando alto. Uma dor incompreensível espalhava-se pelo meu corpo. Coloquei a mão na cabeça e notei um curativo enorme.

— Minho! Vai ficar tudo bem! — alguém segurava minha mão — Eu prometo — ouvi choro.

— O que aconteceu? — aquelas paredes brancas revelavam tudo, mas não custava perguntar.

— Não levante, eu vou chamar o médico — Christopher saiu correndo entre lágrimas.

Eu levei uma pancada tão forte que eu estava tendo alucinações.

Quando olhei para aquele teto branco e melancólico eu vi. Aquele menininho estava ali. Ele me abraçava. Abraçava o garoto de seis anos que chorava de desespero. Ele tentava recuperar o fôlego depois do susto e o outro o confortava.

"Está tudo bem". Ele dizia repetidamente aparentando ser a única coisa que sabia dizer. Aprendeu isso comigo. Eu o confortei, e ele retribuiu depois.

De repente, me faltou ar. Eu me afoguei. De novo, mas desta vez meu pai não estava lá para se sacrificar por mim.

**

Abri os olhos novamente, quando voltei à inconsciência?

— Ele acordou! — percebi a voz embargada da minha mãe — Médico! — ela correu.

Me sentei na cama esperando explicações e ganhando apenas tontura e dor de cabeça.

— Você ainda não está bem — Chris se aproximou.

Passei a mão no meu rosto percebendo algo diferente, meus olhos pesavam e doíam.

— O que é isso? — minha mão estava molhada.

— Você... não se lembra de nada? — ele parecia confuso e ao mesmo tempo aterrorizado.

— Não... — meu rosto sem expressão o deixou mais confuso ainda, eu não conseguia nem sequer fingir estar bem.

— Nós tivemos que segurar você — ele parecia não acreditar no que havia acontecido, o que aconteceu? — Você não parava de gritar... — Bang se virou tentando não mostrar o quanto se preocupa — Você... Foi horrível. Você estava chorando e chamando o... o sei pai — engoliu em seco — Você não parou de gritar, não parou de chorar. Você se debatia na cama até te darem um sedativo. Você não parou até que te obrigassem. Eu... — estava aterrorizado.

Não mais que eu.

— Eu não aguento — ao se retirar do quarto, minha mãe chegou seguida pelo médico que me examinou.

As cores se foram. O ar está mais pesado. Tudo parece cinza. Era melancólico e horrível. Mas eu não conseguia falar. Após checarem meus sinais vitais apenas dormi. Decidi não falar sobre isto com ninguém. Mas eu realmente não consegui falar.

Minha fala se foi. Sumiu. Deixou de existir. Assim como meu pai. Nunca aceitei o fato dele ter ido. Mas nunca realmente acreditei. Eu esperava que um dia ele voltasse para casa sorrindo com lágrimas nos olhos pedindo perdão por estar ausente todo este tempo.

Ele não concedeu meu desejo.

Ele apenas se foi.

Percebi que foi real.

Eu me fui.

★ ƈԋαɳ ★

𝐬𝐨𝐮𝐥𝐦𝐚𝐭𝐞𝐬 ♥ 𝐜𝐡𝐚𝐧𝐦𝐢𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora