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☽【ᗰᵢ𝚗】☾

Eu corro na areia fina e macia da praia. Chego perto da água e ouço minha mãe gritar:

— Chris, cuidado filho!

Concordo e volto a olhar para o mar. Pego meu castelo e minha pá de brinquedo e começo a colocar areia dentro.

O menino que dormia no quarto ao lado do meu hotel chega perto de mim e começa a me ajudar a botar a areia. Eu não entendia o que ele falava. Ele falava palavras estranhas e esquisitas, mas seus pais o entendiam. Eu sempre esqueço de que país ele é, mas não é daqui.

Meus cabelos lisos e compridos balançavam com o vento.

Eu e ele nos comunicamos por meio de sinais com as mãos que a gente fazia. Eu ensinei algumas palavras para ele.

Eu não lembrava seu nome, muito menos seu rosto. Terminamos de encher o castelo de areia e viramos de cabeça para baixo. Procuramos umas conchas e botamos de enfeite na nossa construção, depois, fizemos um "rio" com a água do mar e nos sentamos ao redor dele.

O menino ao meu lado apontava para a areia, eu não entendia o que ele queria, a gente até tentou falar em inglês, mas ele não sabia o suficiente para se comunicar. Até que eu consegui entender o que ele queria, ele apontava para a areia porque ela era macia. Foi aí que eu ensinei mais uma palavra para ele:

– Fo...

Acordo do meu sonho, olho para o lado em direção ao relógio e marcava três da manhã. Suspiro. Perdi o sono.

Me levanto da cama e pego meu celular, eu precisava desabafar com alguém. O celular toca e finalmente ele atende.

— Jacob... quero conversar — saio do quarto e vou até a pequena varanda que tinha ali, não queria acordar os outros.

— Por que você está acordado às três da manhã, Christopher? — sua voz de preocupação preenche o telefone. A Coreia e a Austrália não tem muita diferença de horários. Enquanto aqui são três horas, lá são cinco. Bem na hora que Jacob acorda.

— Tive um sonho. Quer dizer, uma lembrança.

— Com aquele menino de novo? — pergunta meu irmão.

— Sim...

Não é a primeira vez que isso acontece. Eu quero lembrar de sua voz, de seu rosto, da onde ele era... mas eu não consigo.

Eu tinha cinco anos na época, eu e minha família estávamos tirando umas férias em Seven Mile Beach. Quando criança, meu cabelo era liso ainda, os cachos não estavam totalmente definidos, e eu ainda não tinha cortado o cabelo.

***

A professora estava ensinando química, mas sobre o que ela está falando eu não estava prestando atenção. O meu sonho (ou lembrança) não sai da minha cabeça. Talvez se eu soubesse quem ele é, onde ele está e como é fisicamente, meu cérebro iria se acalmar.

Ou talvez não...

***

— Próximo — fala a professora de educação física. Neste momento estamos na piscina, teremos que nadar.

Como a Coreia é um lugar bem reservado, só estão os meninos aqui, as meninas virão em outro horário. Jisung e eu ficamos conversando desde o momento que entramos aqui, só paramos porque ele foi nadar na vez dele. Eu queria ser o última a nadar, então deixava todas passar na minha frente:

— Você está muito pensativa pro meu gosto, Chan — Jisung fala chegando perto de mim.

Ele estava encharcado.

— Eu tô normal.

— Sei.

Daqui três pessoas vai ser a minha vez de nadar.

— Como vai você e o Hyunjin? — pergunto, olhando para os dois mais afastados de nós.

— Como assim? Somos amigos que nem você e o Minho.

Quem disse que eu e o Lee somos amigos? Dou de ombros. Faltam duas pessoas.

— E a patinação?

— Descobri um talento oculto dentro de mim, acredita? É muito bom patinar...

Concordo. Quero patinar no gelo um dia. Sou o próximo a ir na piscina.

Estamos usando apenas duas raias. Você tem que ir voltar. Subo no objeto na qual não sei o nome que serve para dar impulso para começar, quando a professora apita, pulo na água e começo a bater os braços e pernas.

Eu estava no hotel na Austrália, a piscina estava vazia no dia, tinha apenas eu e o garoto do quarto ao lado. A gente brincava com as boias que tinha ali, nossos pais estavam sentados nas cadeiras a alguns metros de distância da piscina infantil. Eu jogava água nele, e ele devolvia uma onda em cima de mim.

Peguei uma Barbie e nós dois começamos a brincar com ela, a boneca era uma sereia que tinha que salvar o príncipe das águas, que era o garoto. A mãe dele chamou ele por um momento e falou com ele no idioma materno, eu obviamente não entendi nada, mas, no fundo parece que eu conheço o dialeto que eles falavam.

**

As lembranças vieram de novo enquanto eu nadava na aula de educação física. Isso me deixa confuso, por quê elas estão voltando agora? Por que eu sonhei com aquele garoto?

"Você sumiu. Não te vi mais depois que as aulas acabaram. Onde você está meu cacheado preferido?"

Recebo a mensagem do Hyunjin, mas ignoro. Não estava a fim de conversar com ninguém, apenas de ler o meu livro: A culpa é das estrelas.

No momento me encontro sentado em um banquinho que tem no colégio. Eu vim ver o pôr do sol, mas acabei ficando mais um tempo aqui.

Às vezes, a nossa melhor companhia seja nós mesmos.

— Você me lembra um leão as vezes sabe, tá só esperando para pegar sua próxima vítima — fala Hyun, sentando perto de mim.

— Isso não faz sentido nenhum — digo.

— Claro que faz. Ou não. Agora eu não sei — ele ri — Tá lendo que livro?

Ele o arranca de minha mão.

– A culpa é das estrelas? O meu Christopher está lendo um romance trágico? Que interressante.

— Muito — falo pegando o livro de sua mão.

— Tá procurando seu Augustus Waters senhor Bang?

— Claro que não! — falo rapidamente.

— Por que?

— Ele morre no final. Por isso eu não quero.

★ ƈԋαɳ ★

𝐬𝐨𝐮𝐥𝐦𝐚𝐭𝐞𝐬 ♥ 𝐜𝐡𝐚𝐧𝐦𝐢𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora