- 25 -

63 10 0
                                    

☽【ᗰᵢ𝚗】☾

— Estão aqui — Bomi me entrega um envelope amarelo lacrado — Você está mesmo bem? — segura minha mão após me olhar melhor.

— Apenas... melhor do que antes — respondi na tentativa de agrada-lá, sem dizer apenas o que esperava que eu dissesse.

— Bem, depois de dois meses tinha que estar melhor, né!? — ela suspira e me ajuda a pegar minhas malas — Vamos, mamãe está esperando.

Estávamos saindo finalmente daquele recinto esbranquiçado. Doía pensar em passar mais um dia naquele lugar. Tanta coisa me passou naquele tempo, mas eu não tinha aquele alguém pra contar de verdade o que eu queria.

Já era um passo. Preciso dar apenas um passo. Depois eu dou mais um, agora não é a hora.

— Mãe! — chamei ela tentando mostrar entusiasmo ao vê-la logo no portão de casa apenas à nossa espera. Seu casaco fino se modelava no vento no início da tarde.

— Oh! Meu filho, como você está? Já faz um tempo hein!? — me abraçou quase me sufocando, senti falta disso. Ela brincou com o fato de termos nos visto ontem e ainda assim parecer tão estranha a sensação de que fazia uma eternidade.

Foi bom voltar pra casa.

Voltar pro meu quarto.

Logo as aulas voltariam. Eu tinha que aproveitar e desfrutar do pouco tempo que teria.

Perder o último mês de aula do ano passado me traria mais dificuldades esse ano. Nada impossível. Apenas pouco provável de dar tão certo.

**

Depois de um mês as aulas começaram por fim. A diversão de acordar cedo não era tão satisfatória. Eu ainda dividia o dormitório com Hyunjin, mas agora ele passava a maior parte do seu precioso tempo com o Jisung. Eles se tornaram mais que amigos. Aquilo era fofo, mas eu queria estar do mesmo jeito.

**

— Meus parabéns!!! — o grupo saiu do palco me fazendo cair no chão com a surpresa — Você conseguiu uma bolsa nos Estados Unidos! — meu professor me abraçava fortemente.

— O que? Como assim?

— A escola de artes já estava de olho em você por um bom tempo. Digamos que eu tenha dado uma força nisso tudo — disse o professor entusiasmado por ter me ajudado a conquistar isto. Todos comemoravam e decidi me juntar a eles.

Aquela ideia me animava. Por algum motivo. Mas eu queria esquecê-lo.

Dentro de um mês eu estaria num voo para a escola mais renomada dos Estados Unidos.

Aquilo seria uma honra. Eu finalizaria a escola lá e já teria estadia e faculdade. Tudo pelo fato de me quererem na escola. Isso não é de se vangloriar.

Posso até ser bom, mas isso custou muito. Custou alguém que amo.

Tudo influenciou tudo, não posso negar.

**

— Porque você ainda não abriu isso? — Bomi entrou de fininho no meu quarto e neste momento segurava aquele mesmo envelope.

— Não quero lembrar dele, não tenho certeza do que vai ter aí, mas não quero correr o risco de me decepcionar.

Ela deu uma risada fraca e debochada, fingiu não ouvir meu comentário e saiu do cômodo.

Eu estava com os livros abertos e a caneta na mão tentando lembrar e revisar todo o meu inglês.

Eu preciso me preparar, daqui duas semanas estarei me afastando novamente e preciso saber me virar. Será que vou ficar bem longe de casa?

A última experiência não foi das melhores. Ainda não sei se vou aguentar, mas agora está feito. Eu vou e não tem mais volta. É meu futuro, minha vida.

Pensar nisso me trazia um sentimento bom. Agora eu tenho algo para lutar, seguir. Só me falta esquecê-lo...

**

— Eu vou sentir saudades — respondi minha mãe que chorava ao telefone — O avião já vai decolar, preciso desligar...

— Me ligue quando chegar — disse após tentar se recompor.

— Eu ligo. Te amo — desliguei.

O voo seria longo. Coloquei meus fones e deixei no modo aleatório. Era tranquilizante escutar melodias à medida que me aproximava do meu futuro.

Aquilo tudo ainda parecia incerto para mim até aquele momento. Parecia falso ou apenas uma ilusão. Mas era tão real quanto a Primeira Guerra Mundial.

Estiquei minhas pernas e ajeitei a coluna. Tentei pôr o sorriso mais adorável possível no meu rosto e saí do avião. O sol estava forte mas a brisa gelada deixava tudo estável e tranquilo.

Quando cheguei no dormitório tinham vários garotos mais altos que eu. Perto deles eu era uma uva pequena pronta para ser arrancada do cacho.

Deixei meus pertences e sai dali antes de ser esmagado por um deles. Antes que eu fechasse a porta vi um envelope amarelo pendendo na parte de trás de uma das minhas malas.

Peguei depressa e saí. Bomi tinha sido sorrateira e o deixará lá. Acho que eu teria um tempinho para mim. Resolvi abrir o envelope.

Ao tirar aquelas fotos brilhantes e variadas, pude notar de cara o que eu procurava no passado.

Era mesmo ele. Ele realmente esteve lá. O colar da avó de Chris pendia em seu pescoço desde pequeno.

Os cachos não estavam presentes, mas aqueles olhos redondos e seu sorriso de pérola eram os mesmos.

Ao me dar conta do que acabei de concluir percebi um vulto passando, algo me diz que é ele. Corro até a garota e a viro bruscamente.

— Chris! — o garoto me olha confuso — Me desculpe, achei que fosse outra pessoa...

Dei dois passos já pronto para jogar as fotos na lixeira mais próxima.

— Minho!?

★ ƈԋαɳ ★

𝐬𝐨𝐮𝐥𝐦𝐚𝐭𝐞𝐬 ♥ 𝐜𝐡𝐚𝐧𝐦𝐢𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora