Girls

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Ryujin nunca fora do tipo de criar hierarquia entre suas relações, no entanto, se tivesse que classificar de alguma forma, Soyeon definitivamente estaria pelo menos entre as três pessoas mais importantes da sua vida. A garota foi marcante e essencial em tantos momentos diferentes que nem se lembrava de todos.

Se fosse começar a enumerar, não poderia escolher outro momento que não aquele.

Depois de meses se escondendo do mundo na sala de música com sua mais nova amiga, escutando a contar a história do seu último relacionamento fracassado e transformando o ego ferido em música, deixou escapar um pensamento que não permitia nem a si mesma permanecer por mais do que um segundo.

"Sabe, acho que talvez eu seja como você."

"Como eu?"

"Obcecada por garotas."

Ela riu.

"Ótimo jeito de definir."

E foi isso, Soyeon não fez grande caso.

Era provavelmente isso o que mais gostava na amiga, Soyeon não fazia perguntas inconvenientes, não forçava Ryujin a dizer nada. Por muitas vezes passaram o dia em completo silêncio embaladas pela guitarra inseparável. Soyeon nunca a pressionou para desabafar mesmo que percebesse que sua mente fervia. Ela apenas sentava, mostrava o novo verso que havia escrito, contava a história por trás de cada parágrafo, compartilhava com Ryujin o que tinha de mais precioso, sua arte. Era uma pessoa de atos tão singelos e acolhedores que seria impossível não se sentir confortável perto dela. Soyeon foi mesmo um achado precioso.

Para além do acolhimento, a amizade de Soyeon ofereceu a Ryujin uma perspectiva que nunca antes teve.

Soyeon era um espírito livre, amava quem amava e era o que era, não se escondia de ninguém, nem de si mesma. Contava sem puderes sobre suas aventuras com garotas, contava sobre os beijos que trocou, as vezes mais do que beijos. E diferentemente das histórias de Yuna, essas sim aguçaram a curiosidade de Ryujin, a fazia sentir pequenas borboletas no estômago, se sentia indecente por desejar viver coisas parecidas. Soyeon não tinha um pingo de vergonha e Ryujin a admirava, via nela uma inspiração para enfrentar as tragédias da vida. Quanto mais conhecia da garota mais conhecia de si mesma. Mais conhecia das possibilidades. Era confortável estar com Soyeon, mas sua existência por si só não deixava que Ryujin caísse na zona de conforto. Talvez fosse isso que a diferenciava de suas outras amizades. Com ela ouvia histórias que a desafiaram constantemente a olhar para dentro de si e enfrentar seus paradigmas.

"Soyeon."

"Sim?"

"Obrigada."

"Pelo o que?"

"Por existir."

"Essa é nova."

"Sou obcecada por garotas e sou grata a você por existir e eu poder contar isso a você"

"Quem diria que por trás dessa cara amarrada existe um coração molenga, huh?"

"Falo sério Soyeon, eu nunca antes me permiti dizer isso para alguém, não me permitia nem pensar profundamente sobre porque eu conheço as consequências de viver sendo uma mulher que ama outra mulher. Eu escondi isso tão bem que meio que esqueci que essa parte de mim existia, enterrei ela junto com tudo o que remotamente me lembrava da sua existência. Mas me privar de algo tão essencialmente meu me tornou uma pessoa patética Soyeon, eu vejo isso agora. Precisei ver a garota que eu gosto sendo engolida por um bocó para perceber que não importa o quanto eu tente ignorar esse sentimento, ele vai continuar aqui, posso fingir que não sei o que está acontecendo o quanto eu quiser, isso não muda."

Soyeon nunca ouvirá Ryujin falar tanto assim. Havia muitas informações contidas naquele relato.

"Então tem uma garota?"

"Sempre tem uma garota, não é?"

Sad beautiful tragic love storyOnde histórias criam vida. Descubra agora