Foi há muito tempo, mas Ryujin ainda se lembra. Yeji andava pelo refeitório cheio de rostos desconhecidos, parecia com uma criança que se perdeu da mãe no supermercado, Jisu foi quem tomou a iniciativa de falar com a novata, sempre fora a mais sociável do grupo de amigas, foi ela também quem iniciou a enxurrada de perguntas direcionadas a garota.
"De onde você é?"
"E o que veio fazer nesse fim de mundo?"
"Você já beijou na boca?"
"Está gostando do colégio?"
Ryujin estava hipnotizada, a voz delicada e doce da garota respondendo a curiosidade de Jisu, mesmo que ainda acanhada, a fazia querer ouvir mais e mais. Descobriu que Yeji era de Seul, se mudou porque seu pai foi transferido na empresa, estava tendo dificuldades em se adaptar ao colégio. Ryujin continuou calada por todo o intervalo, e por muito mais tempo depois, por duas semanas não trocou uma palavra com Yeji, preferiu observar a garota a distância. Por vezes sentiu vontade de participar das conversas animadas das meninas, fazer um comentário sarcástico ou uma piada provocativa, como faria de praxe, no entanto, Yeji parecia sagrada demais para ser contaminada com o comum, então se calava. Para ela, o silêncio fazia todo o sentido do mundo, se concentrava em observar e aprender tudo o que conseguia sobre a garota, não seria exagero dizer que estava hipnotizada, sim havia sido hipnotizada pela presença tão marcante da novata, sua mente não se calava sobre ela nem por um segundo, dormia e acordava pensando nela. Chegou a sonhar em algumas noites. A beleza etérea de Yeji beirava o sagrado e Ryujin não ousaria desafiar o divino com sua existência tão mundana, tão simplória. Não seria justo com ela.
Mas para Yeji, que em nada conhecia Ryujin e que sequer imaginava a complexidade que morava dentro da cala da garota, o silêncio era uma mensagem subliminar, era na falta das palavras que encontrava a certeza de que Ryujin a enxergava como uma intrusa no meio das amigas, quase se sentia uma usurpadora. Usurpadora do que? Não saberia dizer. Pensava que Ryujin poderia responder, mas essa nada falava. Os dias passavam e a tensão de Yeji aumentava, não se sentia merecedora da hostilidade da garota, a mudança brusca de cidade já era difícil demais sem Ryujin lhe dando um tratamento de silêncio, nunca tinha feito nada a ela para receber esse comportamento. Resolveu que iria dar um basta na história.
Foi numa terça-feira que Ryujin saiu do estado de transe que esteve por tanto tempo. Definitivamente não esperava ser tirada de sua bolha de forma tão brusca, tão repentina, mas foi assim, numa terça-feira que Yeji a encurralou no corredor da biblioteca. Ryujin procurava um livro qualquer para a aula de biologia, notou a garota vindo em sua direção, mas não achou que tinha sido notada, se enganou. Yeji parou exatamente ao seu lado e a encarou.
"Ryujin."
Quis chorar.
Chorar como um recém nascido sentindo o ar queimar os pulmões pela primeira vez.
Havia sido tocada pelo celestial.
Seu espírito a tanto tempo adormecido fora despertado.
Era algo na forma como seu nome soava na voz dela.
Majestoso.
Tremeu.
Escutou o coração batendo forte e torceu para que Yeji não fosse capaz de ouvir.
Respirou.
As narinas arderam.
Estava viva.
E Yeji estava ali.
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Sad beautiful tragic love story
Hayran KurguMinha vida começou no momento em que coloquei meus olhos em você, foi a primeira vez em que senti uma batida de coração percorrer por todo o corpo.