Vingt

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Quando acabei de ler a carta meus olhos ardiam de tanto chorar e, se imaginava que depois das lágrimas eu me sentiria mais leve, estava enganado

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Quando acabei de ler a carta meus olhos ardiam de tanto chorar e, se imaginava que depois das lágrimas eu me sentiria mais leve, estava enganado.

Arrumei minhas malas imediatamente, tinha pressa de chegar em Paris, três meses haviam se passado desde que Harry escreveu-me, e eu não fazia ideia de como sua saúde estava atualmente. A viagem durou quarenta longos e angustiantes dias, parecia-me que o navio se arrastava e não chegaríamos nunca na França. Eu já não dormia nem comia direito, os pensamentos negativos corroíam meu coração.

Quando, enfim, cheguei a cidade paguei um carregador para levar minhas bagagens até minha casa e, não dando nenhuma importância ao meu estado lastimável de cansaço e cheiro de maresia, me dirigi rapidamente a Rue de Antim. Eu levava comigo a chave da porta dos fundos, afinal, eu nunca a devolvi para o garoto.

Meu coração pulsava forte, e assim que entrei senti um ar abafado me envolver, como se as janelas não fossem abertas há dias. Deixei meus olhos vagarem pelo lugar vazio e silêncioso. Corri de um cômodo a outro, mas não havia nada ali, nem móveis, nem cortinas ou tapetes. Não havia mais o piano, nem a grande mesa onde ceiávamos todas as noites, nem ao menos os vasos de girassol espalhados pelas mobílias. O ambiente cheirava a solidão.

— Harry! – chamei com voz embargada, não podendo acreditar no vazio a minha frente. — Responde, mon chéri – pedi em meio ao desespero. — Isso não tem graça, Harry – voltei novamente ao seu quarto na esperança de que como num passe de mágica o garoto estivesse ali. — HARRY! HARRY! – Gritei em pânico, porém só pude ouvir o eco da minha própria voz.

Eu estava sozinho. Sozinho com meus pensamentos, sozinho com meus arrependimentos, sozinho com meus medos.

Escorreguei devagar pela parede até alcançar o chão, onde sentei-me abraçando meus joelhos e, com os olhos vidrados no lugar onde um dia esteve sua cama de dossel, repeti incansavelmente o nome dele. Sentia-me como se estivesse anestesiado e não conseguia sequer chorar.

— Louis? Oh, meu amigo, te ouvi gritando lá de casa – desviei o olhar para a porta e me deparei com Prudency, seus olhos estavam marejados e suas feições caídas. — Não adianta mais chamar por ele. Harry se foi. – Contou, se aproximando de mim.

As palavras ficaram presas na minha garganta, então apenas neguei freneticamente com a cabeça. O meu Harry não podia estar morto, não ele, não...

Prudency agachou ao meu lado e puxou-me para um abraço, ela sussurrava palavras de consolo, as quais minha mente sequer processava. Não sei por quanto tempo ficamos ali, naquele chão frio e empoeirado, eu em absoluto silêncio, ela chorando baixinho.

— Quando? – Foi a única palavra que consegui murmurar.

— Faz dez dias – disse entristecida. — Sabe Louis, a morte não julga a quem levar. Leva tanto os bons, quanto os maus, os jovens e os velhos, não importa, não há como impedi-la – fechei os olhos com força, e quando abri, Prudency prosseguiu: — Harry deixou algo para você, vou em casa buscar e volto num minuto.

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