Onze

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O que eu poderia dizer sobre os primeiros dias que passamos no campo? Decepcionante? Angustiante? Dolorosamente triste?

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O que eu poderia dizer sobre os primeiros dias que passamos no campo? Decepcionante? Angustiante? Dolorosamente triste?

A verdade era a junção de todos esses sentimentos.

No dia seguinte ao nosso piquenique Harry me enviou, durante o dia, um bilhete no qual explicava que passaria o dia em Bougival na companhia do duque Armand para mostrar ao senhor o lugar e convencê-lo de que passar uma temporada longe da agitação da cidade faria maravilhas à sua saúde frágil. O que realmente agradou ao velho, pois saber que o garoto estava disposto a seguir as instruções do médico e viver de maneira mais regrada era o que o duque mais desejava. Assim, não se opôs a bancar mais esse capricho do michê, e em menos de uma semana estávamos de malas prontas para partir.

Para ser honesto, mesmo sem conhecer o duque pessoalmente, eu me sentia envergonhado por enganá-lo daquela forma, pois embora o ar do campo e sua calmaria fossem verdadeiramente contribuir para o bem estar de Harry, eu sabia que esse não era o real motivo da sua reclusão. Porém tentei afastar essa inquietação e concordei em seguir os planos do meu namorado.

Para minha surpresa, quando chegamos ao vilarejo fui informado pelo garoto que eu não ficaria com ele em sua casa e sim em um quarto alugado na pensão da viúva Arnolds. Harry alegou que o duque Armand poderia visitar-lhe sem avisar ou mandar alguém para saber a respeito da sua saúde e não seria prudente encontrar-me em sua companhia. Mesmo decepcionado eu engoli meu orgulho e aceitei a chave da porta dos fundos para ir ao encontro dele todas as noites.

Do que adiantou sairmos de Paris se nossa condição permaneceria a mesma? Se ainda não podíamos passar os dias juntos publicamente, qual era o objetivo de nos isolar?

Entretanto, isso não foi o pior que poderia ter acontecido. O que sinceramente mais me magoou foram as festas diárias que o garoto passou a dar em sua casa. Todos os dias, pela manhã, Prudency chegava de Paris trazendo consigo dez a doze pessoas, todos michês e meretrizes, e junto com Harry, passavam as horas se embebedando, contando histórias obscenas ou dançando drogados e semi nus pela casa.

E quando a noite caía e todos voltavam para a cidade, eu me submetia novamente a cuidar do garoto bêbado ou doente demais para sequer prestar atenção em mim. Eu, com a ajuda de Nina, o banhava em uma banheira com água morna, o vestia com uma roupa confortável e depois de passar horas trocando as compressas em sua testa para baixar a febre, eu me deitava exausto ao seu lado e o aconchegava em meus braços, zelando seu sono perturbado pela madrugada toda, até o sol raiar e eu voltar em silêncio para a pensão, de onde observava, da sacada do segundo andar, a festa recomeçar na casa de Harry.

O dinheiro do duque Armand pagava praticamente todas as despesas, no entanto, vez ou outra Prudency vinha até mim pedir mil francos em nome de Harry. Como eu tinha o dinheiro que ganhei nos jogos, não tardava em entregar a mulher o valor que o garoto mandava pedir. Então, receoso de que ele precisasse mais do que eu tinha, fui a Paris e por dois dias e uma noite me vi sentado em uma mesa de jogo, da qual saí somente depois de ter ganho uma considerável soma de dinheiro. Graças a Deus, novamente a sorte havia sorrido para mim.

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