Vingt-Deux

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E realmente foi por um longo tempo

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E realmente foi por um longo tempo. A teoria nos ensina a viver o luto até superá-lo, no entanto, na prática tudo é mais complicado. As perdas são inevitáveis e a morte é o destino certo de todo mundo, só que quem fica, é obrigado a enfrentar a ausência daquela pessoa especial, e isso os faz sofrer muito. O sentimento de vazio que sentimos nos empurra a viver apegados ao passado e, as lembranças boas, se fundem com a dolorosa saudade.

Depois daquela tarde em que meu pai me visitou e viu o estado depressivo em que eu me encontrava, ele fez questão que eu o acompanhasse de volta a sua casa. E como me sentia incapaz até de discutir, apenas me deixei levar.

No primeiro mês da minha estadia em Chartrês, eu continuei letárgico e mal respondia as perguntas que eram dirigidas à mim. Passava os dias encolhido na cama, observando através da janela o sol nascer e se pôr.

Eu odiava todas as noites desde que Harry partiu, então o convocava em minha mente para que em minha fantasia ele continuasse conversando comigo, afinal, dentro da minha cabeça eu podia continuar ouvindo o som da sua risada e ainda podia encarar seus lindos olhos verdes que brilhavam tão intensamente em minha direção. Eu buscava o seu calor nos lençóis, apertava um travesseiro contra o meu peitoral e fingia que era a cabeça dele que repousava ali.

Ao fim do segundo mês, eu comecei a me arrastar da cama para fazer as refeições na companhia de meu pai, minha irmã e meu cunhado. Charlotte e Phillip haviam se casado enquanto eu estava em Alexandria, e logo que voltaram da lua de mel, me encontraram em estado semi vegetativo em Chartrês e, para auxiliar meu pai na tentativa de me reanimar, íam todos os dias almoçar conosco.

Eu estava me esforçando, queria sinceramente sair de dentro daquele buraco negro e opressor no qual me encontrava. Comecei a praticar corrida ao amanhecer e tentava ao máximo me distrair com leituras leves ou ajudando Mark em seus afazeres.

Meu pai e eu evitávamos falar sobre o que havia acontecido e do quanto sua interferência em meu relacionamento com Harry foi impensado e cruel. Depois do dia que ele me buscou em Paris e implorou pelo meu perdão eu fiz o possível para realizar o pedido de Harry e não culpá-lo. Continuei o amando e respeitando, porém a admiração que tinha por Mark foi enterrada junto daquele que ele acusou de ser um michê sem caráter.

Certa tarde, Charlotte invadiu a sala onde eu estava e se lançou animadamente em meus braços. Ela ria e chorava emocionada ao contar-me que estava grávida. Eu fiquei feliz de verdade por minha irmã estar realizando todos os seus sonhos, ela estava casada com o homem que amava e juntos esperavam o primeiro filhinho.

Contudo, em meio a toda aquela alegria eu lembrei do sacrifício que o meu garoto fez. Harry abriu mão dos seus sonhos para que uma moça, que ele sequer conhecia, realizasse os seus.

Diante daquela lembrança, uma vontade inexplicável de chorar se apoderou de mim. Corri para o quarto e me refugiei na cama, enterrei o rosto no travesseiro e solucei, gritei, chorei até minha garganta doer. As lágrimas transbordaram como uma maré vazante, deixando poças em cada cavidade do solo. Continuei chorando alto, chamando por Harry como se aquilo bastasse para aplacar a dor, como se eu não tivesse noção da imensidão da minha tristeza e do perigo de abrir as comportas da alma e não conseguir mais fechá-las.

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