Além do Destino

Capitulo 1

Eu não voltei para casa naquela noite, havia sido tudo muito rápido, aconteceu tudo muito rápido. Meu coração palpitava no peito, com a dor de uma grande agonia. Eu me sentia, estilhaçando-me em milhões de pedacinhos.

Nosso relacionamento não era uma farsa, eu me recusava a acreditar naquilo. Eu batia boca, brigava com Emily sempre que ela dizia que Fillips não parecia ser uma boa pessoa. Minha tecla já estava funda de tantas vezes que eu havia a pressionado contra minha irmã um ano mais nova que eu.

Fillips e eu estávamos havia três anos juntos, eu acabara de voltar de uma viagem quando decidi que faria uma surpresa para ele. Mas em compensação, ele já estava se divertindo muito sem mim. Tive a conclusão disso quando abri a porta de seu apartamento, caminhei até os fundos e o encontrei na hidromassagem, com uma mulher que obviamente não era eu.

O cretino nem sequer me procurou após o ocorrido, e já havia se passado quase uma semana. Ele sabia exatamente onde me encontrar, conhecia cada centímetro da minha vida, até mesmo de olhos fechados. No entanto, mesmo que eu quisesse confrontá-lo, não o fiz. Sabia que, ao vê-lo, meu coração entraria em turbulência e a raiva tomaria conta de mim. Não queria mais suas explicações, meus olhos testemunharam o suficiente para saber que ele não teria uma. Não existiriam justificativas plausíveis para trair a pessoa que dorme ao seu lado todas as noites.

Embora nosso relacionamento não fosse perfeito, tínhamos uma compreensão mútua. Ele me apoiava, ríamos juntos - mesmo que eu não saiba mais se essas risadas eram genuínas - e, acima de tudo, fazíamos planos para um futuro que agora se desvanecia.

Eu morava em uma luxuosa cobertura de frente para a praia em Florida - um presente de meu pai, que também havia dado uma para minha irmã. Nossa família era extremamente influente, como dizem, "podre de rica". No entanto, naquele momento, eu me encontrava na casa de minha melhor amiga, Melissa.

Após sete dias, Melissa olhava para mim através de seus óculos redondos, com os cabelos cacheados presos em um coque frouxo, visivelmente bagunçados. Era uma manhã de sábado, sem aulas nem trabalho. Acordamos tarde após passarmos horas assistindo a filmes e enxugando minhas lágrimas de indignação. Ela sempre me dizia para sair, tentar esquecer essa história, mas nossos círculos sociais se sobrepunham, então, tecnicamente, eu o encontraria em qualquer festa frequentada por pessoas conhecidas.

Quando a campainha tocou no apartamento de Melissa, levantei-me rapidamente, quase em um salto. Pensei que pudesse ser imediatamente meu ex-namorado. Olhei para o meu reflexo no espelho comprido em frente ao sofá branco na sala. Encarei meus olhos azuis, que na verdade estavam mais avermelhados, mas menos do que nos dias anteriores. Meu cabelo já não estava tão desarrumado, mas ainda estava preso em um coque apertado que fiz antes de dormir. Já eram cinco horas da tarde, mas eu ainda usava meu pijama vermelho de calça comprida e regata.

— Não acho que seja aquele cretino, eu proibi a entrada dele no mesmo minuto em que você apareceu aqui — Melissa me tranquilizou.

Ela caminhou até a porta, que estava a poucos metros de distância, e espiou pelo olho mágico. Virou-se para mim com o cenho franzido, mas muito mais aliviada do que antes.

— Oi, Adam — ela murmurou após abrir a porta e revelar Adam, alto com 1,90m, cabelos e olhos castanhos, vestindo a roupa de seu trabalho no restaurante Ambrosia: uma camisa branca que delineava seus músculos ocultos por debaixo destas.

Ele segurava uma sacola do seu restaurante, onde era o chef. Ergueu-a na altura dos olhos e forçou um sorriso enquanto me entregava.

— Eu trouxe para você — disse ele, quase fazendo um biquinho.

Adam e eu não éramos exatamente amigos. Ele iria se casar com minha irmã ainda este ano. Nossas famílias acharam que seria benéfico para ambos estarem em tal situação. Adam e Emily concordaram em conhecerem-se de outra forma, o que considero um tanto bizarro, quase como um relacionamento por contrato, na verdade, meio que era. Mas eles eram amigos antes de tudo, então talvez tenha sido mais fácil assim. Eu não aceitaria algo dessa forma, acho, pelo menos não acredito que o faria. Mas, felizmente, eles sempre se respeitaram. Já meu relacionamento era "real" e acabou de forma amargurada. Adam e Emily concordaram em se separar quando minha irmã se apaixonou por outra pessoa. Ficamos felizes por ela.

Adam e eu nem sempre fomos próximos, mas nos aproximamos ao longo do tempo. Melissa estava saindo com a irmã dele, Jennifer, então nós dois acabamos ficando de vela algumas vezes. Tivemos que conversar sobre algumas coisas e agora ele estava trazendo comida para mim na casa de Melissa. Acho que é algo que amigos fazem.

— Obrigada — agradeci, me aproximando dele enquanto ele sorria gentilmente.

— Tive que vir entregar uns documentos para o Kenji e aproveitei para ver como você está — explicou ele, enquanto Melissa o convidava a sentar.

— Estou bem.

— Mentirosa — protestou Melissa. — Você está usando esse pijama há três dias, seu cabelo loiro parece um ninho de passarinhos e você derrubou molho no meu tapete enquanto assistíamos "Awake".

— Por que a deixou assistir "Awake"? — Adam franziu os olhos e eu revirei os meus.

— Estou bem aqui, e assisti porque meu coração foi arrancado da mesma forma que o do Clay.

Adam riu de mim e deixou um beijo no topo da minha cabeça. Me afastei dele, fazendo uma careta. Ele riu baixinho e colocou algumas batatas fritas na boca. Adam sabia que eu era o oposto da minha irmã, sempre saudável e cheia de restrições. Nos dias tristes, eu amava uma boa comida gordurosa.

Estava tudo indo bem até que um pequeno vacilo apareceu na expressão de Adam. Melissa também deve ter percebido, pois ela falou primeiro.

— O que foi? Adam olhou para nós duas, negando com a cabeça. Mas ele era péssimo em mentir, mesmo sem dizer uma palavra sequer.

— O que foi? — repeti a pergunta de Melissa e Adam pareceu totalmente desconfortável.

— Eu o vi — ele respondeu após um tempo. — Ele estava lá embaixo.

— Fillips?

— Aquele babaca... — resmungou Melissa. — O que ele estava fazendo aqui?

— Ele queria subir.

Interrompi minha refeição, colocando o copo de refrigerante de volta na mesinha de descanso.

— Ele nem mesmo me ligou... — Ele não te ligou? Nem mesmo te procurou depois? — Adam parecia nervoso.

— Não — minha voz era baixa e envergonhada.

— Agora me arrependo ainda menos de ter chutado aquele...

— Você fez o quê? — perguntou Melissa.

— Nada. Apenas o mandei sair — deu de ombros.

— Não quero mais falar sobre isso. Quero esquecer o

Fillips — acrescentei rapidamente.

— Bem, então acho que é uma boa irmos para aquela festa hoje, o que acha? — sugeriu Melissa, e Adam concordou. — Mas você não pode ir vestida assim... — Apontou para a minha roupa.

— Vou para casa me trocar depois que terminar de comer tudo isso — apontei para o lanche e as batatas fritas.

— Eu te levo — anunciou Adam, e devoramos a comida.