Capítulo 9

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LUNA

Enquanto mantinha meus olhos pesados, ainda fechados, ouvia atentamente o som das ondas do mar que chegavam até minha cama, envolvendo-me em uma atmosfera serena e perfeita. Tudo parecia em harmonia, até que percebi um peso ao redor da minha cintura. Não era uma mera coberta, tampouco um travesseiro. Era um braço. Uma mão entrelaçada na minha.

Num sobressalto, levantei-me quase que instantaneamente. Eu já havia feito isso da última vez que dormimos juntos. Mas naquela ocasião, pelo menos estávamos quase nus, entregues a uma noite de sexo desenfreada, fingindo que nada havia acontecido depois. Pelo menos, fingimos essa parte também, fingimos que estávamos fingindo.

No entanto, desta vez era muito pior. Era horrível. Porque sequer fizemos mais do que dormir abraçados. Eu estava vestindo um moletom, enquanto Adam usava calça jeans. Sua respiração quente pairava contra os meus cabelos. E mesmo assim, não soltei sua mão. Por alguns segundos, desejei que não fosse o Adam. Não aquele Adam.

Desta vez, não me ergui num pulo nervoso e eufórico. Deixei seu braço deslizar da minha cintura, repousando-o sobre o colchão. Dirigi-me à cozinha para lavar a louça do nosso jantar e arrumar toda bagunça. Contudo, para minha surpresa, já estava tudo limpo. Ele havia cuidado disso, e eu sequer havia percebido.

Enchi um copo com água e me apoiei no balcão, contemplando a vista da sacada que se descortinava diante de mim. O horizonte tranquilo parecia contrastar com a turbulência que se instaurara em minha mente.

Não demorou muito para que Adam me tirasse do devaneio.

— Acho que acabamos adormecendo... — sua voz soava irônica, carregada de constrangimento.

Adam não era do tipo que se envergonhava facilmente, exceto quando usava bermudas brancas quase transparentes.

— Desse jeito, vamos levar nossa pequena amizade por água abaixo... — resmunguei, e ele me encarou, soltando uma risada.

— Você está se sentindo melhor? — ele mudou de assunto.

— Sim, obrigada pelo que aconteceu ontem.

— Viu? Nossa amizade não está rumo ao fracasso... — ele falou, despedindo-se com um beijo no meu rosto.

Enquanto sentia o toque suave dos lábios de Adam em meu rosto, uma mescla de emoções tomava conta de mim. A gratidão por sua preocupação e cuidado era evidente, mas havia também uma pontada de tristeza e incerteza em meu coração. Aquele momento reforçou ainda mais a complexidade dos meus sentimentos em relação a ele.

Eu sabia que nossa amizade estava passando por uma encruzilhada, e eu temia que pudesse ser inevitável seguir por caminhos desconhecidos e perigosos. A atração que existia entre nós se tornava cada vez mais intensa, e a noite anterior apenas havia acentuado esses sentimentos confusos.

Enquanto contemplava a paisagem além da sacada, as ondas do mar pareciam ecoar as ondas de emoções que tumultuavam dentro de mim. Era como se estivesse à beira de um precipício, prestes a mergulhar em um abismo de incertezas e desejos proibidos.

Eu sabia que não podia continuar fingindo que nossa amizade era apenas isso. A proximidade, os gestos carinhosos, tudo isso estava além dos limites estabelecidos para uma amizade platônica. E agora, ao acordar ao lado de Adam, essa realidade se tornava ainda mais nítida.

Enquanto refletia sobre tudo isso, senti uma mistura de medo e curiosidade me envolver. Medo de arriscar e perder o que tínhamos, mas também curiosidade em explorar o desconhecido e descobrir se havia algo mais profundo e intenso entre nós.

No fundo, eu sabia que não poderia voltar atrás. O que quer que acontecesse dali em diante, não seria mais possível ignorar os sentimentos que estavam entrelaçados em mim. Era hora de encarar a verdade, de confrontar a nós mesmos e decidir se estaríamos dispostos a abrir mão da segurança da amizade para abraçar uma o que quer que fosse aquilo que estávamos tendo.

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