Capítulo Quatro

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NATALIE 

*2011*

Os quase três anos seguintes àquela calorosa conversa na biblioteca passaram voando. Me aproximar de Bella e criar um laço de amizade foi mais natural e espontâneo do que a maioria das interações humanas que eu conhecia, mesmo a minha família. - Ela gostava de cuidar de mim, blindando-me das fofocas sobre nós e nossa estranha aproximação, para que eu não ficasse incomodada e cortando as palavras maldosas de quem se aproximava para destilar veneno em nós duas. Eu não me importava que achassem que fosse um casal; no fim das contas, tratava-se apenas de rumores toscos. Eu a amava como um dos meus lindos irmãos e meus pais aprovaram com alegria nossa amizade. Eles estavam aliviados por eu finalmente ter trazido para casa uma amiga de verdade. Não me disseram isso, mas estava estampado em seus semblantes radiantes sempre que saíamos todos juntos em uma programação de família e ela estava ali, aproveitando o momento conosco.

Éramos a “dupla inseparável” do campus, por mais que muitas vezes eu soubesse que estava minando a paciência de Bella, mas isso era parcialmente culpa dela. À medida que eu demonstrava mais da minha pequena obsessão sobre sua existência, ela não se afastava, o que tirava  o meu medo de ser eu mesma com ela. 

Tratava-me como uma criancinha quando tentava argumentar com a minha teimosia, explodimos e deixávamos de nos falar, mas horas depois estávamos conversando uma com a outra de novo, com ela cedendo aos meus caprichos na maioria das vezes. Confesso que extravasava minha espontaneidade de propósito, não para irritá-la ou sobrecarregá-la, mas para trazer um pouco de vida a aquele rostinho apático. Ela parecia sempre se afundar quando as coisas começavam a cair na rotina e um pouco de agitação à sua mente distante a puxava para a realidade. E tinham as semanas que precediam as suas viagens de volta a Forks. Estes eram os piores períodos. - Haviam as olheiras e as frases ditas pela metade. Ela ficava sempre mais sensível a tudo, como se qualquer coisa pudesse desencadear seu estado depressivo.

Minha maneira pouco convencional de animá-la era o meu jeito de tentar ajudar. Por mais que suas emoções estivessem sempre ali, mais evidentes do que a da maioria das pessoas, eu nunca sabia o que ela queria de verdade, nas entrelinhas. Como se ela me bloqueasse naturalmente e sem ao menos notar. Então eu testei de tudo e persisti no que a fazia reagir de novo para a vida. Não era fácil; até eu, que estava sempre cheia de energia, ao final do dia estava esgotada.

Com o tempo, Bella passou a ficar mais respondona aos meus mandes-e-demandes, e eu a desafiava até o final. Desta vez, próximo às férias de primavera de 2011, eu estava mais do que determinada a não deixá-la ir para Forks. As olheiras e o mal-humor estavam voltando.

Era hora do almoço e eu a encontrei em seu restaurante preferido perto do campus, o qual ela dizia que a fazia lembrar de casa. Era um ambiente bem organizado, sem sombra de dúvidas, mas era muito escuro e a decoração parecia ter se perdido na década passada. Vê-la envoltas em sombras tirava totalmente o meu bom-humor. Ela merecia luz. O sol e a luz natural a deixavam radiante. - Sentei-me à mesa e fiz o meu pedido. Ela murmurou um “olá” nada simpático, talvez achando que aquilo me impediria de ressuscitá-la, enquanto vasculhava algo no celular. Quando o meu sanduíche chegou, comecei a falar:

— Sabe o que eu fiz hoje? - perguntei, mastigando ruidosamente, do jeito que eu sei que a faria olhar para mim.

Tiro e queda!

— Não faço a menor ideia… - Bella ainda não havia sido instigada o suficiente para brigar comigo com a minha falta de bons modos. - Mas seria a explicação para o motivo de você ter sumido a manhã toda.

— Verdade. - concordei, casualmente. - Estava na praia, com Brian. - Meu irmão mais novo. - Ele queria assistir a apresentação dos skatistas profissionais e mamãe não podia levar ele, então me ofereci. - Era mentira. Eu tinha sumido e parado de respondê-la de propósito, para criar a história perfeita que eu vinha montando há um bom número de dias. O passeio de verdade havia ocorrido no mês anterior. Eu tinha falado sobre ele, mas Bella estava tão absorta em sua própria falta de ânimo que claramente não se lembrava.

Depois do CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora