Capítulo Oito

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BELLA

— Vocês ficarão em um quarto no subterrâneo. - Anunciou Abner enquanto segurava a porta do elevador para que entrássemos. - Partiremos para a vila mais distante, ao norte, e de lá, iremos para Florença.

Assentimos. Era o procedimento padrão para nós. Florença era uma cidade turística, portanto, constantemente agitada. E em cidades agitadas, há sempre uma ou outra pessoa desaparecida. Um crime sem solução para fazer os policiais locais suspirarem e se lamentarem, para depois se esquecerem.

Natalie ainda não havia soltado o meu braço. Ela me puxou com entusiasmo para dentro.

Vê-la feliz era um acalento. Ao menos uma de nós parecia estar mais à vontade e não tanto sobrecarregada. Mas estou falando de Natalie. - Natalie, a artista. Natalie, a rainha do melodrama. Natalie, a que nunca desanima mesmo quando a situação é desanimadora. - Todos os sinais do meu corpo diziam que ela estava fingindo, mas eu não podia fazer as perguntas certas ali, em um ambiente em que outros guardas poderiam aparecer a qualquer momento e nos ouvir. Pelo menos nas masmorras estaríamos cercadas por pedras e Abner e Gabriela pareciam não ligar muito para nós. Nem estavam abalados com o meu mal-comportamento diante dos anciãos.

Precisava fazer Natalie falar. Eu vi como ela ficou quando estávamos na cela, quando fomos atacadas e quase mortas. Apesar de seu constante otimismo e energia, ela não era invulnerável. Vê-la não demonstrar nenhuma sombra de remorso ou de dor sobre nossa nova condição, não era... humano? Será que esta palavra ainda se aplicava a nós duas? Éramos nós mesmas em certa medida, ainda: Natalie com sua impulsividade e sua euforia desenfreada e eu com a minha teimosia. Mas e o resto não contava? Havia me tornado uma máquina de reação rápida e violenta e, tenho que admitir, na maioria das vezes eu gostava. Sabia pouco sobre a Natalie, mas o pouco que eu havia ouvido falar era que se Heidi não tivesse cuidado, ela escapava de suas mãos e fazia o que achava melhor. Não era de brigar, porém, tinha uma sede avassaladora e quase ou tão enlouquecida quanto a minha quando não estava mantendo o foco.

É, "humanidade" não era algo que fazia parte de nós por completo, agora. Havia a resignação em matar de minha parte, o amor e a amizade dela por mim e de mim por ela. Mas, assim como as lembranças que se apagaram, boa parte do que éramos e do tínhamos se tornaram poeira espacial, rodopiando em algum lugar por aí, inalcançáveis e indistintas. Não podíamos mais retornar para as nossas famílias, retomar as vidas que nos pertenciam, pois tudo havia morrido conosco naquela maldita cela de pedra fria. Aquela era a nossa realidade e teríamos que lidar com ela.

E, estranhamente, os Cullen agora faziam parte dela.

Eis a minha nova preocupação; não apenas matar apenas o que me cabia, sem exageros, aprender e ficar na linha para não virar cinzas, e permanecer longe de Aro e suas palavras doces e ardilosas. Agora eu precisava me preocupar com sete indivíduos que um dia julguei serem apenas devaneios da minha cabeça. Quase me fiz convencer disso, pelo bem da minha sanidade. Se não fosse pelos os meus sonhos e a marca de mordida de James, eu teria engolido a minha própria história. - E pensar que abri mão de tudo para salvá-los, concordei com (quase) tudo que Aro exigia de mim, apenas para perceber que tinha sido enganada. E era isso que mais me enfurecia: não apenas a falta de caráter de Aro e o desrespeito às suas promessas. Saber que eu havia sido uma tola era a pior das sensações e só me irritava mais.

Quando me tornei tão ingênua? Provavelmente, isso deve ter começado quando aceitei ter algo mais sério com Jacob, e desde então foi só ladeira a baixo. Talvez eu devesse ter ido atrás de um psicólogo ou psiquiatra, como Charlie havia me sugerido. Ser trancafiada em uma sala branca e acolchoada teria sido melhor do que dar esperanças ao Jake e permitir que a minha mente se deteriorasse ao ponto de acreditar na conversa fiada de um cara esquisito que mora em um castelo como se fosse o rei do mundo. Teria sido um fim mais digno, e tanto Natalie e os Cullen estariam seguros e não sofreriam com as consequências das minhas escolhas tolas. - Ah, se o mundo perfeito existisse...

Depois do CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora