Capítulo Dois

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— Promete que vai ligar assim que chegar na Flórida? - Os olhos escuros e profundos de Jake brilhavam de maneira incomum. Seus braços grandes e compridos estavam cruzados sobre o peito. Não me tocar para se despedir parecia estar lhe matando, mas era o melhor para nós dois.

Os dois anos que ficamos juntos - como um casal, de fato - tinham sido únicos e reveladores. Estaria mentindo se negasse que a princípio usei este relacionamento para esquecer do antigo, porém, o tempo mostrou ser benéfico. Fomos felizes e nenhum de nós poderia negar. Com o desaparecimento dos vampiros da Península de Olympic, os lobos voltaram a desaparecer também. Jacob ainda se transformava uma vez ou outra, por diversão em vez de obrigação, então o tempo havia agido sobre ele.

E sobre mim também.

Quando estava junto dele, lembro que meu maior medo era de envelhecer. Claro, estes poucos anos não foram o suficiente para que cabelos brancos aparecessem, como ervas daninhas, ou mesmo a mais mísera ruga. No geral, eu continuava igual. Talvez exceto pelos olhos ou pela maneira de andar. Meus pés já não tropeçavam mais no chão liso; uma evolução que devo ao Jacob e suas longas trilhas pela floresta em que eu era obrigada a andar. Estar com ele me trouxe confiança e equilíbrio. - Chega parecer egoísmo estar de partida agora, para o outro lado do país, mas foi o próprio Jake que insistiu.

— Você tem que ir. - sussurrou ele no meio da noite, há três meses, quando recebi a minha carta de admissão. Estávamos deitados em sua cama. Billy roncava baixinho no outro cômodo. - Já ficou presa nesta cidade sem futuro por muito tempo, Bells. - Ele vinha insistindo há meses. Até Charlie, que aprovava com vigor nosso relacionamento, concordava com essa decisão.

— Não acho que será o fim do mundo não ir à faculdade. - contra-argumentei, deslizando os dedos por seu cabelo liso e negro. Ele havia o deixado crescer novamente, mas o mantinha na altura do ombro. - Gosto da vida pacata.

Jacob sorriu, alegre como uma criança.

— Fico feliz em saber. - cantarolou, dando um pequeno selinho sobre meus lábios. - Mas não quero contrariar o Chefe Swan. Até porque, toda garota tem que ter mais de uma opção nesta vida além de um relacionamento. Um diploma lhe cairia bem.

— Eu nem sei o que quero fazer. - dei de ombros.

— Sabe, sim. - Agora era ele que acariciava meus cabelos, massageando meu couro cabeludo em movimentos circulares. Lutei contra o impulso de fechar os olhos e dormir. - Você vem falando muito sobre a faculdade de literatura. Quando está dormindo, obviamente.

Meu rosto deu uma leve corada. Tinha apenas dois meses desde que passamos a dormir juntos e eu ainda não estava acostumada com a ideia dele sempre me ouvir à noite. No início fiquei com medo dele ouvir algo a respeito dele, visto que eu ainda sonhava com a floresta escura pelo menos uma vez ao mês (não era mais o mesmo pesadelo de sempre; eu não tentava mais segui-lo na escuridão). Se eu cheguei a falar algo, ele não mencionou o ocorrido.

— Isso é muito rude, uma invasão de privacidade. Eu poderia processar você. - Ri da minha própria piada e Jacob me acompanhou.

Mesmo assim,  a piada não tirou a sua atenção por tempo suficiente.

— Estou falando sério, linda. Você precisa experimentar novos ares, sair um pouco de perto de mim, de Charlie. - Por mais que houvesse convicção em suas palavras, ainda havia tristeza. Ele desejava a minha partida tanto quanto eu. - Senão, como saberei se de fato gosta de mim e gosta de ficar aqui comigo? Você pode muito bem estar entediada e sem nada melhor para fazer.

— Jake, sabe que isso não é verdade. - Eu não conseguia olhar em seus olhos. Aquilo doía, a ideia de estar longe do meu sol particular. A ferida, agora cicatrizada, latejava apenas com  o vislumbre de tal possibilidade. - Eu gosto de você.

Depois do CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora