Capítulo Cinco

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NATALIE

*Agora*

Minha mente vagava entre a consciência e a ausência dela, como um corpo à deriva sendo arrastado pelas ondas do mar. Senti mãos quentes e mãos frias em mim. Vislumbrei outro rosto pálido, no alto, me olhando com muita curiosidade, como se eu fosse o objeto de estudos mais fascinante de seu laboratório dos infernos. Senti uma mão fria em meus pulsos e braços rígidos que me carregavam através de uma corrente de ar de temperatura glacial que ficava cada vez mais gélida em minha pele.

Quando os ventos pararam de soprar sobre mim, senti o meu corpo afundar em algo macio, talvez um colchão. O movimento trouxe à tona a dor louca da realidade e eu senti minhas costelas latejarem novamente. A dor trouxe as lembranças da matança, de um salão cheio de corpos flácidos e empilhados como se fossem restos de lixos descartados. Eu choraminguei pedindo por ajuda, mas sem ter forças para fazer que as minhas palavras fossem claras. Ouvi passos e mãos me alcançaram de novo, me fazendo estremecer. Porém, logo percebi que elas eram quentes, portanto, seguras.

— Shh… Sou eu. - É claro que seria ela. Apenas ela parecia ter mãos e olhos normais naquele lugar.

Fiz uma careta e me esforcei para abrir os olhos. Desta vez eles me obedeceram e conseguiram focar no rosto marfim de Bella. Ela parecia assustada, apesar de estar obviamente preocupada e assustada, assim como eu, porém, mais estável. Eu tinha visto parte dessa estabilidade antes de apagar, quando ela teve aquela pequena conversa com o homem que havia me chutado, Demitri. - Queria perguntar para ela sobre o que estava acontecendo, sobre o que ela claramente saberia, mas a dor era terrível, assim como a temperatura baixa daquele lugar. Não estávamos mais no torreão, mas em uma cela pequena de pedra, iluminada por velas. Pelo canto do olho, eu podia ver as grades atrás dela sendo fechadas rapidamente.

Comecei a chorar, de medo e de agonia.

— Bella… está doendo! - Era a única coisa em que eu conseguia pensar naquele momento. - Está doendo muito. E… está tão frio… - As palavras engasgaram na minha garganta e eu solucei.

— Eu sei. - Bella sussurrou, apreensiva. Ela olhou para os lados, procurando algo que pudesse ser útil para resolver. Era como se tivesse ativado o modo sobrevivência nela. Ela olhou para as nossas capas de cetim e raciocinou por um tempo. Tirou-as e analisou seus tamanhos, assentindo para si mesma. - Se apoie em mim. - disse ela, ainda sussurrando, enquanto passava os braços ao meu redor com muita delicadeza, ficando longe de onde estava machucado.

Ela me afastou do centro da pequena cama, encostando as minhas costas na parede. Logo em seguida, se deitou no espaço aberto e nos cobriu com as capas. As capas eram finas, mas ajudavam a criar um pequeno casulo quente para nós. Bella pegou as minhas mãos trêmulas e as colocou em seu pescoço quente para poder aquecê-las. Em seguida, passou os braços ao redor da minha cintura, puxando-me para ficar mais perto. - Em um momento normal, a aproximação causaria estranheza, mas agora parecia muito certo, dadas as circunstâncias extremas em que estávamos.

— Não se mexa. - instruiu-me.

— O-okay. - concordei, emocionada por sua preocupação tão delicada. Ajeitei os ombros para me acomodar melhor sobre a superfície macia.

Fechei os olhos e deixei as nossas respirações aquecer nossos rostos. Eu poderia dormir naquele momento - meu corpo pedia por um descanso - mas minha mente estava a um milhão de milhas por hora, assim como o meu corpo normalmente estaria se eu não estivesse machucada.

A primeira questão que vinha à minha mente era: o que era aquilo? E quando eu falo "aquilo", me refiro ao filme de terror com massacre e olhos demoníacos que vi antes de apagar. Por um momento, em meus devaneios causados por estar sendo arremessada e chutada, considerei que tudo não passava de um pesadelo. Mas os pesadelos não duravam tanto tempo. Eles acabam depois do clímax, da pior parte, da mais aterrorizante. E eu continuava sem acordar em minha cama da hospedaria, ou mesmo em casa. O pesadelo persistia. Portanto, ou eu estava ficando louca e tendo uma alucinação, ou tudo era muito real e eu só não queria acreditar. Conhecendo-me bem, apostaria na segunda opção, por mais absurdo que fosse o cenário em que estávamos inseridas.

Depois do CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora