Capítulo 24

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Cecilly Collins 🏵️

Encaro a comida em meu prato intocado, mais uma vez. Em três semanas, a fome se foi e tudo que eu sinto é o buraco crescendo em meu peito e me sugando para dentro dele.

Meus pais me trouxeram para casa, eles tem sido cuidadosos mais que o normal. E eu gosto disso, mas nada vai fazer o que eu estou sentindo passar tão facilmente.

"Querida, coma!"-Minha mãe senta ao meu lado arrastando o prato em minha direção.

"Eu não estou com fome"-Respondo afastando a comida outra vez e me levanto.

Uma tontura me tomou, apoiei minhas mãos na mesa e suspirei fundo tentando focar minha visão que ficou esbranquiçada

"Cecilly, sente-se e coma"-Meu pai agarra meu pulso e me coloca no lugar-"Você precisa comer, está ficando fraca e desnutrida"

"Por favor, meu amor. Coma!"-Minha mãe insiste

Suspiro fundo e sou tentada a comer um pouco, preciso pelo menos me manter em pé. Então puxo o prato em minha direção e com pequenas garfadas eu começo a me alimentar. Mas parece que nem a comida tem gosto, tudo está tão amargo.

Meus pais parecem satisfeitos com meu avanço, os dois se olham e depois vão para a cozinha. Perdida em meus pensamentos eu continuo a comer até que não tenha mais nada no prato. Me encosto na cadeira com um suspiro pesado e fecho meus olhos, eu luto contra as lágrimas. Eu não vou chorar outra vez!

Por mais destruída que eu esteja.

Deixei o prato em cima da mesa e me levantei, com o copo de suco eu fui até a área da piscina. Me sentei no banco e toquei a ferida cicatrizando em minha barriga, a melancolía me tomou outra vez. As cenas daquela noite vagam em minha cabeça, como uma tortura constante.

Eu nunca senti uma dor tão profunda e sufocante assim. Eu sinto como se cada pedacinho meu estivesse desmoronando, e não tem ninguém para colar eles de volta.

Todas as noites me pergunto porque isso está acontecendo comigo. Quais pecados eu estou pagando para ser castigada dessa forma pelos céus?

Fecho meus olhos sentindo o vento frio da chuva, os trovões no céu me levam de volta para aquele chão frio e a lâmina enfiada em minha barriga, com Dean me deixando para morrer.

"Ruivinha, sua mãe e eu vamos sair e já voltamos"-Meu pai se aproxima e beija minha testa-"Você quer ir com a gente?"

"Não, podem ir vocês."-Digo a ele-"Eu vou ficar bem, não se preocupem"

"Tem certeza?"-Ele me encara desconfiado -"Acho que é bom você sair um pouco, podemos ir ao shopping"

"Tenho"-Afirmo a ele-"Estou com um pouco de dor, vou tomar meus remédios e ir dormir"

"Certo! Tudo bem então, qualquer coisa nos ligue"-Ele dá outro beijo em minha cabeça.

"Te amamos, querida"-Minha mãe aparece e me beija também

"Eu também amo vocês"-Forço um sorriso para eles.

Os dois me olham de um jeito diferente, eu sei que estão decepcionados comigo. Eu não julgo, eu também estou. Meus pais confiavam em mim e eu estraguei tudo para poder proteger o Dean, e por qual motivo afinal?

Assim que eles saíram, o céu ficou nublado e ainda mais escuro que minha alma dolorosa e quebrada. Acho que agora os céus entende o que eu estou sentindo. E sinto que estou prestes a desabafar assim como a chuva que cai.

Meu corpo começa a tremer pelo frio que a tempestade trás, me levanto e entro em casa. A ventania assovia do lado de fora, vou até a cozinha e abro a primeira gaveta puxando a arma do meu pai quando escuto um barulho vindo do jardim.

Crown of bloodOnde histórias criam vida. Descubra agora