Capítulo 43

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Eron Sánchez ☠️

Encarei o teto desbotado da sala, minha cabeça repousou sobre o encosto do sofá com o corpo cansado. A sensação é de um peso sobre meus ombros, me afundando no estofado a cada segundo que se passa. Estou exausto!

Suspirando fundo, fechei os olhos desejando que minha mente possa vagar para qualquer lugar longe daqui. Meu peito dói, meu coração está partido em tantas partes que mal se poderia contar. Mediante aos casos amorosos e desastrosos dos meus primos, Lia e eu éramos perfeitos. A gente se entende de uma forma doce e pura, juntos enfrentamos nossos demônios e, por Deus, fomos o primeiro amor um do outro.

Na minha cabeça nascemos para ficar juntos, nascemos para ser um do outro até a morte. Não consigo me imaginar amando outra mulher, tocando outra mulher ou tendo uma vida com outra mulher. Sempre foi Lia, desde ao acordar até me deitar para dormir, era sempre ela.

E agora, tudo se foi!

A casa está vazia, todos se foram para a festa de despedida dela. Pelo o que ouvi, a mesma ira partir amanhã de noite. Então, todos resolveram festejar uma última vez. O convite chegou até mim, mas fui covarde demais para aceitar.

Como eu poderia? Ir até lá e fingir estar bem, conversar com todos e com ela, como se eu não estivesse despedaçado por dentro. Arruinado!. Eu não iria conseguir, não posso olhar para ela e não a tocar, não lhe beijar ou nem mesmo poder sentir seu cheiro e escutar sua voz doce. Tal ação abriria um buraco ainda maior em meu peito.

Outro suspiro doloroso preencheu o ar, seguido pelo som da porta sendo aberta. Sem me mover do lugar, vi pela visão periférica quando meu pai entrou carregando duas caixas de pizza.

"Imaginei que estaria aqui"-Colocou às caixas em cima da mesa de centro, e se sentou no sofá de frente -"Trouxe pizza, de quatro queijos"

"Obrigado!"-Respondi ainda encarando o velho teto.

Ele abriu a caixa e tirou um pedaço, estendendo em minha direção. Me forçando a olhar para ele. Resmunguei e me curvei para frente pegando a fatia e levando até a boca, apesar de não estar com fome alguma.

"Você tem dormido bem? Parece cansado."-Indagou, comendo junto.

"Temporada de jogos chegando, estamos treinando muito"- Respondi sem interesse em manter uma conversa, pelo menos não agora.

Meu pai se encostou no sofá e me analisou, sutilmente sua cabeça se curvou para o lado e mordeu a pizza outra vez. O silêncio reinou entre nós dois por um tempo.

"Realmente, a temporada de jogos é cansativa"-Disse ele, quebrando o silêncio.-"Sua mãe ficava maluca quando eu tinha que acordar de madrugada para treinar, ela dizia que às noites foram feitas para dormir e não para correr pelo campo feito um maluco"

Sem esperar, eu acabei rindo, isso com certeza seria algo que minha mãe diria. Quase consigo ouvir ela falando.

"Mas eu adorava, não tem nada melhor que ver o nascer do sol ou sentir a brisa fresca da manhã."- Continuou - "Mas sabe, nada disso se comparava ao voltar para cá e encontrar sua mãe, nada no mundo chega nem perto"

"Ainda sente isso quando volta para casa, hoje em dia?"- Perguntei, curioso.

"Touché, sim!"- Sorriu - "A cada dia, a sensação é ainda mais forte e melhor. Principalmente quando entro pela porta da sala e a vejo sentada com suas irmãs. Então me dou conta de que consegui tudo na vida, uma mulher que eu amo e uma família"

Dei outra mordida em minha pizza e engoli quase sem mastigar. Um azedo se apossou na boca do meu estômago, de repente me vi com inveja do meu próprio pai. Eu queria isso, queria chegar em casa e ver Lia, queria me sentar no sofá e á observar com nosso filhos.

Droga, eu quero muito!

"Você teve sorte!"- Digo a ele, com desânimo -"Encontrou a mamãe e conseguiram ter uma família. Não é todo mundo que tem esse privilégio"

"Bom, não sei dizer. Realmente encontrar um amor como esse, não é para qualquer um. Mas quando se tem essa sorte, não pode deixar ela escapar pelos seus dedos"- Afirmou se levantando e indo até a geladeira- "Eu e sua mãe passamos por muita coisa até chegarmos aqui, mas quer saber? Valeu a pena!"

"É, parece que valeu!"- Foi a única coisa que eu consegui responder.

Meu pai pegou duas cervejas e abriu, me estendendo uma e se sentando logo depois.

"O que te prende, Eron?"- Perguntou, direto.

"Como?"- O encarei, confuso por sua pergunta tão vaga.

"Estou perguntando o que prende você aqui!"- Repetiu, dando um gole em sua bebida.

"Pai, preciso que seja mais claro do que isso!"- Peço a ele.

"Lia está indo embora, está indo atrás da carreira dela e do seu sonho. Eu admiro isso, ela é uma garota forte e com um objetivo. E estou orgulhoso de você por entender isso e não forçar ela a ficar"- Seus olhos brilharam, de admiração.

"Pai, eu não sei se quero falar sobre isso!"-Digo a ele.

"Mas e quanto a você?"-Perguntou, ignorando meu apelo-"O que faz você ficar aqui?"

"Está sugerindo que eu abandone tudo para ir atrás dela?"- O encarei, perplexo.

"Não exatamente. Só estou dizendo que eu te conheço, filho. Sei que não gosta do futebol ao ponto de fazer disso sua carreira, e também sei que a faculdade de Administração não é o que quer"- Disse pegando outro pedaço de pizza

"Seria fácil se eu soubesse o que quero!"-Murmurei antes de morder outro pedaço.

"Você sabe o que quer, só está com medo de admitir."- Afirmou com um sorriso.

"Por favor, me explique então. Eu realmente gostaria de ouvir"- Pedi, com solicitude.

"Escuta, eu tenho um amigo na França. Ele tem uma empresa de tecnología, e estão precisando de um supervisor para o novo Software que vão desenvolver. Eu sei que você é bom, então te indiquei ao cargo".

"Pai, você está falando sério? Simplesmente tomou essa decisão sem me consultar?".- Não pude controlar meu tom sério.

"Eu sei, me desculpe. Não deveria fazer isso sem falar com você, mas eu conheço seu potencial, Eron. Você vai ter um trabalho que gosta e a oportunidade de ficar ao lado da mulher que ama!"- Respondeu com calma.-"Não estou obrigando você a ir, se não quiser tudo bem. A decisão é sua, eu só estou te dando uma guia"

"Isso é uma decisão importante, pai. O que a mamãe disse sobre isso?"- Engoli o último pedaço de pizza, seguido por um gole generoso da cerveja.

"Deixei para você contar"- Ele riu, meio tenso.

"Você acha que isso vai dar certo, mesmo?"- Perguntei a ele, receoso.

"Sinceramente? Sim. Confio em você, sei que tecnologia é o seu forte e essa oportunidade de emprego vai mudar sua vida e eles ainda vão te oferecer uma bolsa de graduação na área. E a parte boa, você ainda vai estar ao lado da sua garota. Eron, esse tipo de amor você não pode deixar ir. Em hipótese alguma!"- A convicção em sua voz quase me assustou.

A dúvida me tomou por um tempo, eu criei uma vida aqui. O futebol, a faculdade e minha família. Mas meu pai está certo, eu não posso simplesmente deixar Lia ir embora assim. Eu nunca vou encontrar outro amor como o nosso.

"Leve o tempo que precisar para pensar sobre isso, lembre-se que a decisão é sua. Faça o que achar que é o melhor, eu apenas quero que seja feliz."- Levantou sua garrafa batendo contra a minha, em um brinde.

Sim, a decisão é minha. Mas a questão é, o que eu devo fazer?

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_Beijos da Isa_

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