Capítulo 45

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Lia Moore 💖

Há seis meses eu tomei a decisão, juntei minhas coisas e parti sem olhar para trás. Eu decidi que iria seguir em frente e ir em busca do meu futuro, da minha carreira. E aqui estou eu, na França. Sozinha!

Não posso negar que estou amando a experiência, é tudo tão novo, cada dia uma descoberta diferente. Sobre mim, sobre a vida e todo esse lugar. Dançar ballet é o meu sonho, é o que me faz levantar da cama todas às manhãs e viver um novo dia.

Mas quando chega de noite, quando abro a porta e a solidão me toma, então percebo o quanto me sinto sozinha. Não tem mais Cecilly e Kiara me esperando com guloseimas e conversas bobas, meu irmão com seu mau humor de sempre e suas implicâncias e cuidado. Ou Eron, para me abraçar, conversar sobre o dia ou me beijar.

Me sinto realizada profissionalmente, mas solitária socialmente. Eu já lidei com a solidão antes, mas ela parece pior quando você realmente se dá conta que ela vem com a ausência de algo que você viveu.

Dois meses atrás a faculdade me deu a oportunidade de finalmente me apresentar em um concerto de ballet. Como a dançarina principal da peça Angeline. É uma das peças mais bem conhecidas, tanto quanto O Cisnei Negro. Ao receber o convite, eu nunca me sentir tão cheia de felicidade em satisfação em toda minha vida. Pela primeira vez, estou sendo reconhecida.

Meu rosto estava estampado em todas às vitrines, revistas e tinha até um telão em frente ao teatro. Todas às vezes que passava por ele eu tinha que parar e observar, todo meu esforço e reconhecimento. Finalmente está acontecendo!

-"Minha nossa, você está divina"- Peggy, minha agente parou na porta do camarim.

-"Obrigada!"- Sorri, ainda me olhando através do espelho em minha frente.

Apesar de todo o glitter, eu estou brilhando, um brilho próprio de satisfação e alegria. Sinto que posso gritar aos quatro ventos.

- "Você recebeu outro buquê." - Ela caminhou em minha direção. - "Ás mesmas de sempre, Crocus."

Ela colocou o vaso de flores em cima da penteadeira e o cheiro doce invadiu o lugar, como sempre faz quando às recebo.

-"Você não tem curiosidade para saber quem é esse seu admirador secreto, que vem te mandando flores há meses?"- Perguntou, com os olhos brilhando.

-"Na verdade, não. Você disse que isso é normal. E não estou á procura de um admirador."- Afirmei, cheirando às flores novamente.

-"Se é o que você está dizendo!"- Deu de ombros-"Termine de se aprontar, a peça começa em meia hora. E não querendo te assustar, mas o lugar está lotado!"

-"Ótimo, agora estou nervosa!"- Respirei fundo esfregando às mãos suadas.

-"Não se preocupe, você ensaiou muito e é perfeita. Não teríamos te escalado se não soubessemos que é capaz"-Deu um tapinha de conforto em meu ombro.

- "Eu agradeço!"- Afirmo a ela, com um aceno sútil.

Respirei fundo e continuei me encarando no espelho, já pronta. Com a roupa e a maquiagem. Tudo que preciso agora é esquecer de tudo e apenas dançar.

🩰

Eu nunca fui tímida, sempre fui introvertida e apreciava estar em lugares calmos, silenciosos e sem multidões. Mas timidez nunca foi um dos meus defeitos. Porém, agora, imaginando todas essas pessoas me olhando me deu um certo frio na barriga.

Às cortinas se abriram, às luzes se apagaram e a música começou. Uma versão orquestrada de Young And beautiful- Lana Del Rey, ecoou pelo salsão. Meus pés começaram a se movimentar como se tivessem vida própria e meu corpo dançou conforme a música.

Junto com meu parceiro de dança, rodopiamos sobre o palco. A sensação enchendo até minha alma, a cada passo, cada movimento e cada nota expelida pelo suave violino. Eu sentia que estava viva, flutuando em uma nuvem tão alta que nada poderia me atingir.

Eu fechei os olhos ampliando a sensação, -eu consegui- penso comigo mesma. Na ponta dos pés, comecei a girar cada vez mais rápido. Com o coração disparado e às emoções dominando cada veia do meu corpo.

Eu estou aqui, estou me apresentando para um teatro inteiro. Finalmente. Durante toda minha vida eu dancei para afastar os demônios da minha alma, para não me sentir sozinha e ter uma válvula de escape de toda a dor e sofrimento.

Dançar me salvou quando eu achei que nada mais o poderia fazer. Dançar me trouxe á vida novamente. Essa é a única coisa que ninguém nunca pode tirar de mim.

A música foi diminuindo, lentamente, e meus passos foi lhe acompanhando com sutileza. Até eu finalmente parar. A música se encerrou dando lugar para um coral de aplausos que estremeceu o chão sob meus pés e vibrou por meu corpo.

Com os olhos cheios de lágrimas, os abri, vendo em ofuscante a multidão em pé. Eles estão me aplaudindo, estão aqui por mim. Mordi minha bochecha interna com força, para conter às lágrimas queimando no canto dos olhos, insistentes para cair.

Engoli em seco a bola de choro presa em minha garganta, me curvei para frente em um ato de agradecimento. E eu realmente sou muito grata. Meu coração está ainda mais rápido do que antes, meus ouvidos estão zumbindo pela adrenalina e não há uma parte de mim que não esteja tremendo.

Olhei para frente uma última vez, antes das cortinas se fecharem. Dizer que estou feliz seria um eufemismo, na verdade estou radiante. Mas por um breve momento, algo dentro de mim doeu. Foi quando percebi, que viverá o maior momento da minha vida. E não tinha ninguém aqui para ver!

Nem meu irmão, nem meus amigos, nem Eron.

A solidão é uma vadia!

🩰

O resto da noite foi cansativa demais, mas a adrenalina correndo em minhas veias me permitiu permanecer em pé. Eu tirei muitas fotos, conversei com tanta gente que minhas cordas vocais começaram a doer em um certo momento, e por mais incrível que pareça, eu até dei autógrafos. Recebi presentes e muitas flores.

Foi como um sonho!

Eu voltei ao meu camarim flutuante, em uma névoa de alegria que ninguém poderia destruir. Me sentei de frente para o espelho e outra vez me encarei, com um sorriso que não conseguirá desfazer nem se eu quisesse.

Meu celular vibrou, pela centésima vez. Com mensagens em todas às redes sociais, de alguns "fãs" me parabenizando e comentários em vídeos publicados no Instagram pela minha agente.

Eu peguei o aparelho e deslizei o dedo pela tela, ignorando todas às mensagem entrei no chat com meu irmão, onde a última mensagem foi há dois dias me desejando um feliz Natal e uma foto de todos reunidos em uma mesa. Mesmo feliz, a pontada dolorida voltou.

Mordi meu lábio e fechei os olhos, respirando fundo novamente. Distraída em meus pensamentos, me assustei quando o celular começou a vibrar e o nome de Dean apareceu sobre a tela.

- Dean? - Murmurei ao atender, estranhando sua ligação.

- Ei, irmãzinha! - Respondeu, quase gritando.- O que está fazendo?.

- Eu, bem...- Olhei em volta - Nada de muito importante.

- Ótimo! - Ouvi um suspiro - Então, acho que tem um minuto para vir aqui fora não é?

No mesmo instante eu já estava com a mão grudada na maçaneta, eu andei tão rápido da cadeira até a porta que nem me dei conta. Empurrei-a para fora e a mesma se abriu em um estralo.

O celular em minha mão foi parar direto no chão, meu corpo parecia congelado no lugar, vendo bem ali na minha frente. Todos eles!

Parados uns ao lado dos outros, estão todos. Todos eles!. E ao meio está Eron, segurando um buquê de Crocus.

Uma risada escapou dos meus lábios, e às lágrimas que segurei a noite toda finalmente caíram.

Eles vieram!

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_Beijos da Isa_

Crown of bloodOnde histórias criam vida. Descubra agora