Olhos de avelã

A demissão

Ao perceberem como estava cheio no MCDonald's, então, sem dizer uma palavra, Elizete pegou a mão de Tatiane na sua, entrelaçando seus dedos, ouvindo um suspiro instantâneo de Tatiane, e ela próprio estava vermelho como um tomate, mas isso não a impediu de puxá-la, nem mesmo o sorriso conhecedor do amigo e colocar seu corpo na frente dela, manobrando seus braços para que de alguma forma elas estivessem quase se abraçando, puxando-a um pouco mais para perto dela, as mãos ainda conectadas.

Surpreendentemente, a posição em que elas estavam não era tão desconfortável quanto Elizete pensava que seria. Claro, todo mundo estava olhando para elas de forma estranha, mas Elizete não se importava nem um pouco.

Ao chegarem na mesa Tatiane enfia a cabeça entre os braços, enquanto deita a cabeça na mesa, pensando o que fazer com a Irene Bianca Fontes ser despedida do seu emprego:

— Vai querer o que Tatiane?

— Um Bic Mac, com uma coca e batata fritas.

— Já eu vou querer Duplo Burguer com Queijo, nuggets, milk shake de baunilha, só isso mesmo. - Otávio fala.

— E você fala só isso? - Elizette pergunta escadalizada. - Não sei como você não engorda.

Assim quando tudo fica pronto, os três começam a comer seus lanches, o da Elizete é Cheeseburger com refrigerante.

Após comer tudo, os três ainda pedem um Sundae de caramelo para Otávio, um Sundae de para Elizete de morango e um Sundae de chocolate para Tatiane.

— Meus pais chegaram. - Elizete exclamou alegremente indo na direção de dois homens. - Tatiane esses aqui são os meus pais, o Murilo e o Joaquim.

— Oi. - Joaquim é um homem de cabelos escuros, olhos castanhos e a pele queimada de sol, ele é mais na dele, poucos sorrisos e sempre com um terno caro, mas é um paizão para Elizete.

— É um prazer conhecer a nova amiga da Elizete, ela fala muito de voce. - Murilo é um homem de cabelos mais claros e encaracolados, olhos cor de mel, a pele queimada pelo sol, super descontraído e brincalhão, muitas das vezes parecendo um adolescente de 40 e tantos anos.

— Pai, pare de me envergonhar. Papi, controla o seu homem. - Pai é o Murilo e papi é o Joaquim. - Ela quer uma carona. - Elizete sorri para Tatiane, deixando assim Otávio de vela. - Para onde você quer ir?

— Pode me deixar na Av. Embaixador Abelardo Bueno.

— Claro.

Depois de trinta minutos de viagem, Tatiane pega suas sacolas de compras, se despede dos quatro ocupantes do carro e vai na direção da empresa de seu pai.

"Viviane, qual é o andar que o Rômulo trabalha?"

Após digitar a mensagem para a irmã, Tatiane a espera para ela responder, o que acaba sendo bem rápido, pois em menos de cinco minutos, já tinha a resposta.

"No sétimo andar."

Assim Tatiane entra na empresa, todos a olhando, pode ser pelo o uniforme, ou as muitas sacolas de compras, ou por ser semelhante com a Viviane, mas Tatiane não se importa com a resposta e vai direto para o elevador.

— Onde fica a sala de Rômulo Noronha?

— Viviane. - a secretária fala.

— Não, eu sou Tatiane a gêmea da Viviane, vim falar com o Rômulo.

— A sala dele fica no final do corredor.

— Outra coisa, você poderia guardar essas sacolas, na saída eu pego.

— Claro.

O corredor é espelhado e largo, podendo transitar mais de quatro pessoas lado a lado, com poucas decorações, além de ser um pouco frio, deixando um clima intimidante. Ao abrir a porta Rômulo está sentado em sua cadeira olhando as papeladas de um processo:

— Tatiane, o que faz aqui?

— Rômulo, poderia o racismo ser crime certo?

— Sim, no Código Penal, artigo 140, § 3º, determina uma pena de 1 a 3 anos de prisão, além de multa, para as injúrias motivadas por "elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência". Já a lei 7716/89, lei anti-racismo, abrange os "crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional", também com pena de reclusão de 1 a 3 anos, mais multa

— E se alguém em seu ambiente de trabalho cometesse racismo, o que poderia ser feito? - pergunta já sentada à frente do seu pai.

— Sim, se for em um ambiente de trabalho, um empregado com um contrato formal de trabalho que comete um ato de racismo ou homofóbica no exercício da profissão está sujeito a uma dispensa por justa causa. Por que você quer saber?

— Estava eu com dois colegas da minha nova escola fazendo compras, mas uma lojista cometeu racismo contra Otávio Machado.

— Certo, pode deixar que irei resolver isso. Só me diga o nome dela e o local do seu emprego que farei o necessário a partir da sua denúncia.

Na manhã seguinte todos estão na escola, quando no Twitter, tem uma simples legenda "Demissão por justa causa, Irene Bianca Fontes, foi demitida após um ato racista contra um cliente" e abaixo da legenda a foto da mulher com um sorriso.

Elizete olha diretamente para Tatiane após ler o twitter feito por um site de fofocas, tanto ela como o Otávio sabem muito bem o motivo e o como ela foi demitida.

— Foi você? - Elizete vai até ela com um sorriso conhecedor.

— Quem sabe. - Tatiane sorri de lado e vai para a sala de aula.

— O que foi isso? - Laís chega perguntando.

— Nada. - Elizete fala dando de ombros. - Só que a mulher que atendeu Otávio, Tatiane e a mim foi demitida por racismo.

— Então é por isso que a Tatiane queria saber qual era o andar do nosso pai. Ela foi atrás dele e no dia seguinte a mulher foi demitida.

— Você precisava ter visto como ela defendeu o Otavio. - Elizete comenta toda boba e emocionada.

— Olha quem se apaixonou. - Felipe fala em tom de zombaria e apertando as bochechas fofas de Elizete.

— Pare, não é nada disso.

— Aham, sei. - Vinicius e Felipe falam em uníssono.

— Ela enfrentou a mulher sem temer as consequencias, falou umas verdades na cara daquela racista.

O grupo com cinco pessoas foram para a sala de aula, Elizete não parava de falar sobre como Tatiane foi corajosa ao confrontar a ex-lojista, toda boba e apaixonada.