Capítulo 5

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O medo correu por Marília. Não só era alguém com quem ela tinha se conectado aqui, no abrigo seguro de Henrique, mas alguém que conhecia no mundo real. O que podia fazer? Marília não queria isso. Era intimidador, assustador.

Embora soubesse quem poderia ser ela, representava tudo que a apavorava. Um laço sentimental, intimidade, amor. Marília apertou as mãos trêmulas e as torceu tão forte que sua pele ficou branca.

Conforme Marília encontrou os olhos cor de amêndoa de Maraisa, seu passado voltou e perfurou sua alma. Marília se sentiu traída. Por Henrique. Por si mesma. Por Maraisa. Não era razoável, mas a raiva assumiu o comando e Marília abraçou-a em lugar do medo que a rasgava.

Embrulhando suas emoções em uma bola apertada, ela empurrou-as até que seu estômago tremeu com o esforço. "Por que você liberou minhas mãos?"

Maraisa levantou a sobrancelha. "Henrique me deu permissão para quebrar as regras. Ele imaginou que você removeria a máscara se quisesse."

"Bem, eu removi." A raiva amarga tingiu sua voz em um tom de zombaria. "Eu não sei o que você pensou que aconteceria agora. Eu assumo que você gostaria de mudar as regras para se adaptar."

Maraisa piscou para ela de onde estava sentada na beira da cama. A visão de seu corpo despido mexeu com seu sangue, mas ela ignorou isso. Saia de perto de mim. O pensamento gritava em sua cabeça. Ela era danificada, incompleta, não tinha nada para oferecer a Maraisa. Ainda que Maraisa tivesse atravessado as barreiras que Marília tinha cuidadosamente construído por anos. Que direito tinha de girar seu mundo de cabeça para baixo?

Seus olhos estreitaram. "Eu não mudei as regras. Você não tinha que remover a máscara."

Que Maraisa estivesse correta só abasteceu a raiva, e Marília desesperadamente precisava livrar-se dela, distanciar-se dela. "Eu estava curiosa. Agora, minha curiosidade está satisfeita. Você pode partir." Marília endureceu seu coração contra a expressão aflita em seu rosto.

Maraisa respirou fundo e levantou suas roupas. "Eu vejo que cometi um engano."

"Sim, você fez." Sua garganta doeu com o esforço para conter as lágrimas.

Maraisa deu a Marília um último olhar atento, então andou a passos largos para a porta, e com sua mão no trinco, ela parou. "Foi um engano que eu cometeria novamente. Boa sorte, Marília."

Com isto, Maraisa partiu.

Por que Maraisa teve que libertá-la? Por que ela não podia ter deixado as coisas do modo que eram? Agora, o mundo real tinha se intrometido em seu mundo de fantasia, e ela não sabia como colocar as coisas de volta no modo que elas eram. Até não sabia se queria isso.

Marília desmoronou em uma massa de lágrimas impotentes. Henrique estava lá imediatamente, sentando perto dela conforme soluçava como se seu coração estivesse quebrando.

O sono era novamente enganoso quando a semana começou. Marília chorava em um sono inquieto e então agitou e virou a noite toda. Ela evitou a cafeteria para afastar a possibilidade de encontrar Maraisa. Porém, manter-se distante a fez sentir-se pior.

Na quinta-feira, encontrou-se sentada no restaurante, comendo seu almoço habitual e tentando manter os olhos longe da porta. Mesmo assim, ela soube imediatamente quando Maraisa entrou. A conexão foi imediata.

O olhar dela encontrou o seu e deslizou longe, vazio de qualquer expressão. Seu coração apertou em agonia. Apesar de Marília a ter rejeitado, machucado, o laço entre elas era tão forte que soube quando Maraisa sentou e sentiu cada tremor de seus músculos. Aquelas mãos talentosas que ligaram o laptop do outro lado da sala. Aquelas mãos fabulosas que tinham criado sensações que ela nunca tinha experimentado.

A MÁSCARA QUE ELA USA | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora